Review | Carnival Row – Fadas, Imigrantes e Intrigas

Carnival Row

Nova série de fantasia da Amazon Prime, "Carnival Row" tem uma crítica social forte por trás e efeitos visuais incríveis e é uma ótima pedida para os fãs do gênero mesmo com algumas derrapadas no roteiro.

Antes da Temporada

Não é segredo que a Amazon Studios ainda está à procura de uma série para ser o “carro-chefe” do seu serviço de streaming, assim como “Game of Thrones” foi para a HBO. Fica claro que “Carnival Row” busca ser essa série. Estrelada por Cara Delevigne e Orlando Bloom, que também é um de seus produtores, “Carnival Row” se passa em um mundo alternativo, de influência Steampunk, habitado por fadas, faunos e outros seres mitológicos, que são tratados como párias da sociedade. Na cidade de Burgo, acompanhamos a história da fada Vignette Stonemoss (Cara Delevigne), uma soldada refugiada após uma guerra destruir seu país, e Rycroft Philostrate (Orlando Bloom), um inspetor da polícia com um passado sombrio.

A série foi criada por René Echevarria (roteirista e produtor de “Star Trek: Deep Space Nine” e “Castle”) e Travis Beacham (roteirista de “Pacific Rim” e “Confronto de Titãs”) e é uma mistura de “Senhor dos Anéis” com “Game of Thrones”. “Carnival Row” mescla aspectos mais fantásticos (como a investigação de Philo) com outros mais políticos (como toda a trama dos Breakspear), sem perder o foco em um lado mais “antropológico”, mostrando como uma sociedade como essa funcionaria e como seriam seus cidadãos (daí o arco de Imogen com o fauno Agreus), usando esse pano de fundo para discutir assuntos como racismo, imigração e imperialismo.

Trama e Roteiro

Um dos maiores pontos positivos do roteiro é a maneira como a cidade de Burgo é desenvolvida, uma cidade completa e complexa, cheia de vida e  contradições. Dividida em oito episódios, a série foca tanto no cotidiano desses habitantes -como são suas relações sociais e como eles sobrevivem na cidade (e é nesses momentos em que a série se destaca)- quanto nas maquinações políticas e intrigas policiais de Burgo. “Carnival Row” faz um trabalho impressionante na construção de Burgo e de seus diferentes habitantes: além de humanos, há fadas e faunos em profusão, além de centauros e até trolls, todos criados com uma imensa precisão e efeitos visuais da mais alta qualidade.

Já o arco político da série, capitaneado por Jared Harris (de “Chernobyl”), é o que deixa mais clara a inspiração em “Game of Thrones”, contando com maquinações, traições, incesto… enfim, o pacote completo. Entretanto, ele acaba por esquecer que o que realmente atraiu o público a GOT não foi isso, mas sim os personagens bem construídos, com motivações claras e intenções definidas, algo que os personagens desse arco, como Piety (Indira Varma) e Absalom (Jared Harris), não têm, tornando o núcleo arrastado até a introdução de Sophie (Caroline Ford).

Felizmente, tanto os arcos de Imogen (Tamzin Merchant) com Agreus (David Gyasi) e de Philo (Orlando Bloom) com Vignette (Cara Delevigne) não sofrem com esse problema, tendo momentos em que a trama fica de lado para avançar o desenvolvimento dos personagens. Na verdade, isso ocorre até demais nas cenas de Imogen com Agreus – ela parece ter sido escrita mais para mostrar as tensões entre os humanos e as outras criaturas do que para ter uma conexão com a história maior. Isso apenas não é um problema devido a trama acabar se tornando umas das mais interessantes de se acompanhar, tanto pelas atuações de Tamzin e David, quanto pelo roteiro, que são muito bem pensador e acertam tanto no humor quanto no drama.

Já os arcos de Philo e Vignette comprimem a maior parte da história : ele investiga uma onda de assassinatos que o põe em contato com os diferentes núcleos de personagem, além de descobrir mais sobre suas origens, enquanto ela procura encontrar seu lugar na sociedade como uma imigrante de uma classe detestada pelo povo e ignorada pelo governo. Esse subtexto, que critica o racismo e a xenofobia da sociedade e metaforiza o tratamento de imigrantes pelas sociedades modernas, é constante em toda obra.

No geral, é bem perceptível que a Amazon não economizou fundos para a série, que tem fotografia e trilha sonora luxuosas. Especialmente impressionante é o design das fadas, suas asas são extremamente realísticas e toda a sua cultura é desenvolvida de maneira muito coesa (especialmente no terceiro episódio), com clara inspiração na cultura irlandesa.

Personagens e Atuações

Orlando Bloom entrega uma de suas melhores atuações em muito tempo, trazendo profundidade e emoção para um personagem retraído como Philo. As cenas em que ele descobre a verdade sobre sua família têm grande impacto na audiência em parte pela entrega do ator no papel. Sem dúvida, ele faz um de seus melhores trabalhos (junto com Cara Delevigne) no terceiro episódio, um epílogo que mostra como os dois se conheceram e como seu relacionamento se desenvolveu.

Cara Delevigne entrega sua melhor atuação até hoje no papel de Vignette Stonemoss: ela consegue trazer medidas iguais de rancor e tristeza para sua personagem, uma fada que já sofreu muito nas mãos do destino e que tenta tomar controle da sua vida após os traumas. Vale destacar também as boas atuações de Tamzim Merchant e David Gyasi, que transformam o que poderia ser um estafante núcleo paralelo em uma janela para as práticas e atitudes dessa sociedade

Depois dos Créditos

Assim, “Carnival Row” é uma série de fantasia que cria um universo steampunk competente, com um impressionante design de personagens, atuações sólidas e um bom roteiro, mesmo que a história as vezes demore para avançar e alguns núcleos não sejam desenvolvidos com a atenção necessária. Por fim, em tempos de intolerância e ódio ao outro, é bom ver uma série de fantasia que não se priva de fazer analogia e críticas sociais, sem medo de apontar preconceitos da sociedade e mostrar os nocivos efeitos que o ódio traz ao mundo, nos alienando enclausurando, cada vez mais distantes uns dos outros.

 

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8

NOTA

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