Crítica | Dumplin

Um filme fora dos padrões

Baseado no livro de mesmo nome da escritora Julie Murphy, “Dumplin” vem com o pré-julgamento de ser todo o clichê que já conhecemos sobre filmes adolescentes. Contudo, em comparação às últimas produções originais da Netflix como “Para todos os caras que já amei” ou “Sierra Burgess é uma Loser”, esse é o longa que melhor aborda sua temática, transmitindo a mensagem que toda garota deveria ouvir em sua completude.

O filme conta a história de Willowdean Dickson (Danielle MacDonald), uma garota gordinha do estado do Texas que foi criada pela sua Tia Lucy (Hilliary Begley). A relação delas influencia musicalmente Willowdean com o estilo country da cantora Dolly Patron e resulta na grande amizade com Ellen Driver (Odeya Rush). Com o falecimento de Lucy, Willowdean passa a conviver com sua mãe Rosie, uma ex-miss que vive em função de organizar concursos de beleza. A relação entre mãe e filha muda quando a protagonista decide participar de um desses concursos como forma de homenagem à sua falecida tia e como protesto contra sua mãe.

Personagens principais e atuações

A atuação da australiana Danielle Macdonald, de 27 anos, e a experiência de Jenifer Aniston são o recheio dessa história. Desde o início a mãe demonstra insatisfação com o corpo da filha, seja deixando uma salada na geladeira ou falando que o concurso não é algo para ela. Essas cenas entram em harmonia quando vemos o jeito dramático e sarcástico de Aniston em contraste com a personagem inocente e muito bem interpretada por MacDonald. Ainda, percebemos a sutileza da mensagem nos detalhes: a mãe apelida sua filha como “fofinha”, algo que é visto como “pequeno” pela personagem de Aniston, mas representava uma vergonha no meio social de Willowdean e repercutia nos sentimentos sobre si.

A produção da diretora Anne Fletcher, famosa por filmes como A Proposta ou Vestida Para Casar, poderia explorar várias histórias paralelas que se desenvolvem dentro da principal; mas é exatamente a escolha de não fazer isso que surpreende. Temos a relação conturbada de mãe e filha, o surgimento de um relacionamento amoroso, o luto pela morte da tia e o tão importante concurso. Esses eventos acabam sendo pormenores frente ao arco principal: a aceitação de Willowdean e suas amigas.

Definitavemente, “Dumplin” não veio para iludir. Ele não te dá nada do que se espera de um filme clichê adolescente. Aqui, as meninas que participam do concurso, mesmo que dentro dos padrões aceitos pela sociedade, não são vistas como vilãs em momento algum. Pelo contrário, a própria Ellen Driver, que é o oposto de Willow, é representada como igual. O enredo demonstra fortemente que está tudo bem em você ser magra, e tudo bem  também se você não for. Tudo bem se gosta de concursos de beleza ou músicas de rock, desde que se sinta bem consigo mesma.

Trilha Sonora

No que diz respeito à trilha sonora, as músicas de Dolly Parton funcionam como um forte protesto ao estado conservador que é o Texas. Essa dimensão é representada no longa pela pequena cidade em que esse se ambienta, tendo como um dos maiores eventos o concurso de beleza. A trajetória de autoconhecimento de Willow também é amarrada às músicas country, que definem seus sentimentos e emoções. Também acompanham as lembranças dos ensinamentos da tia, que em um flashback no primeiro ato se utiliza de frases da cantora para mostrar à protagonista a importância de ser feliz como se é.

O filme não nos passa a ilusão de como gostaríamos que o mundo fosse. Ao contrário, é uma realidade encorajadora sobre como vão te tratar e como você deve se sentir quanto a isso. Não existem muitos filmes em que meninas gordinhas assumem o papel principal para abordar assuntos do cotidiano, mas Dumplin muda esse cenário  e mostra que o concurso de beleza vai continuar sendo um espaço para pessoas dentro do padrão estético da sociedade. Ainda assim, isso não é justificativa para que alguém se sinta menos importante.

Logo, clichê ou não, a mensagem é clara e consegue ser passada de forma que terminamos de assistir e nos sentimentos bem, pois é um contexto real sendo representado. O único atributo que a Netflix peca é ao fazer a tradução do filme. No original temos expressões como “Big girls” e “Fat”, mas em português é traduzido para “gordinha” e “fofinha”, que tentam amenizar a palavra “gorda”, sendo que estamos falando de um filme que justamente quer passar a mensagem de aceitação.

4

NOTA

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