Crítica | Shazam

Filme é divertido, do início ao fim.

O gênero de filmes de super heróis cresceu muito nos últimos dez anos. Durante esse período a Warner/DC ganhou um estigma, que associava todos os seus filmes a um tom mais sombrio, realista e, teoricamente, adulto que suas concorrentes. Porem há uma vontade por parte do estúdio de mudar essa percepção de seu conteúdo cinematográfico, desde “Mulher Maravilha” os filmes tem ficado mais leves e otimistas, “Shazam” chega aos cinemas para sacramentar o novo tom da DC nos cinemas.

Contudo, apenas uma mudança no tom das historias não seria o suficiente para que o filme seja considerado  bom. O maior trunfo de “Shazam” é, na verdade, a forma como o filme trabalha seus personagens. Somos apresentados a Billy Batson(Asher Angel) um jovem órfão abandonado pela mãe ainda pequeno, e que desde então vive uma cruzada para encontra-la.

Após fugir de mais de uma dúzia de famílias adotivas, Billy é convencido a se deixar acolher por um gentil casal que, assim como ele, passou a infância em lares adotivos e, desde então dedicam-se a acolher crianças em situações semelhantes a dele. Somos então apresentados a adorável nova família de Billy, todos com personalidades únicas, bem estabelecidas, carismáticas e suficientemente desenvolvidas.

Paralelamente somos apresentados ao vilão, Doutor Silvana(Mark Strong), um homem que desde pequeno foi desvalorizado e emasculado por seu pai e irmão mais velho. Quando criança Silvana recebe uma visita do Mago Shazam(Djimon Houson), que testa o menino, para descobrir se o garoto é digno de herdar seus poderes. Infelizmente Silvana falha no teste, e passa o resto de sua vida procurando o mago para, obter seus poderes e, assim provar seu valor para todos.

Dessa forma, o filme estabelece um paralelo muito interessante entre herói e vilão, ambos querem provar seu valor e encontrar seu lugar no mundo. Seja encontrando sua “verdadeira” família, ou conseguindo um grande poder, herói e vilão são faces diferentes da mesma moeda.

Porém, mais  importante que as semelhanças entre esses personagens, são as pequenas diferenças que os tornam  polos opostos. Afinal Silvana, após ser rejeitado pelo Mago, busca poder com os sete pecados captais, encarnações demoníacas dos maiores males da humanidade. Enquanto Billy é humilde e inicialmente nega o poder oferecido a ele, por não se considerar uma boa pessoa.

Após Billy conseguir os poderes e se tornar, basicamente, um adulto(Zachary Levi) com poderes dignos de um Superman, ele faz o que qualquer garoto de 14 anos faria. Ele compra cerveja, vai a boates de striptease e, com a ajuda de seu irmão adotivo Freddy Freeman(Jack Dylan Gazer), testa seus poderes das formas mais imprudentes possíveis.

Esse é um dos maiores trunfos do roteiro, pois os personagens são muito criveis, e suas ações nunca parecem forçadas ou irreais. O arco de Billy, de um moleque irresponsável e inconsequente, até alguém maduro e heroico, é lento, gradual e muito bem trabalhado, no final do filme seu crescimento enquanto personagem traz um sentimento de orgulho para nós espectadores que acompanhamos esse amadurecimento.

Vale também ressaltar o trabalho dos atores, todos com muita química, entregando os diálogos de forma muito natural e muito cômica também. Um destaque especial entre os atores é Zachary Levi, que é muito convincente como uma criança no corpo de um adulto, desde a forma como ele fala e se porta até suas reações ao interagir com outros personagens, resultam em uma performance muito divertida de se assistir.

Além disso vale também ressaltar o trabalho do diretor David Sandberg, que começou sua carreira fazendo curtas de terror no youtube, e posteriormente dirigindo alguns longas no mesmo gênero. A forma certeira como Sandberg entrega comédia aqui é, no mínimo impressionante, com muitos diálogos e cenas hilárias, e outras cenas tensas, cheias de ação, ou emocionantes, o equilíbrio é impecável, tornando a obra algo mais do que uma comédia simplória sobre super heróis.

Há muito coração em “Shazam”, um cuidado com os personagens, com suas interações, e com seu desenvolvimento. Há, também, uma belíssima mensagem sobre família, e sobre como essa palavra pode significar muito mais do que laços sanguíneos. No final Billy encontra o valor que tanto procurava, não nas pessoas que o puseram no mundo, e sim nas pessoas que escolheram ama-lo, o acolheram, e aceitaram, apesar de todas as suas falhas.

No fim, “Shazam” é uma grata surpresa, uma aventura divertida e engraçada. Mesmo sem os melhores efeitos especiais, ou as cenas de ação mais impressionantes, é um dos melhores filmes de super herói do ano. Que entende que o mais importante nessas histórias são as pessoas por baixo das fantasias, e como suas histórias nos inspiram e emocionam.                     

9

NOTA

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