Crítica | Um Lugar Silencioso

Suspense de sobrevivência cria atmosfera de tensão constante, em uma estréia muito competente de John Krasinski como roteirista e diretor nesse gênero

Um dos elementos mais importantes em filmes de terror e suspense é, sem dúvidas, o som. Balancear os momentos de silêncio com os picos nos momentos dramáticos é algo difícil; e mais difícil ainda é fazer isso de forma original.

Um Lugar Silencioso, dirigido por John Krasinski (que até então era mais conhecido por trabalhos humorísticos), é uma obra que cria um mundo e uma história em que os sons possuem um papel importantíssimo. No futuro distópico ao qual somos apresentados, uma ameaça desconhecida guiada pelo som coloca a humanidade em risco. Para sobreviver, uma família desenvolve rotinas e mecanismos para reduzir ao máximo qualquer som que venham a fazer e assim possam ter alguma chance de sobrevivência.

A construção da relação familiar e sua forma de sobrevivência é algo ímpar. Com pouquíssimos diálogos, o público aprende visualmente como tudo funciona: sistemas de luz, linguagem de sinais, caminhos de sal… Além disso, a forma com que as crianças estão aprendendo e se adaptando ao novo mundo e as dificuldades que os pais encaram nessa tarefa dão uma carga dramática muito interessante. As regras e dinâmicas vão sendo expostas de forma orgânica enquanto acompanhamos trechos do cotidiano da família Abbott. O trabalho de Krasinski como diretor é louvável, visto que consegue estabelecer tudo que o filme precisa sem utilizar de diálogos expositivos demais. Contudo, essas características do longa acabam se tornando potenciais problemas.

As regras estabelecidas fazem com que a todo momento a suspensão de descrença seja colocada à prova, principalmente nos momentos mais agitados do filme. E em certos momentos o filme decide apresentar de forma mais explícita como funciona o mundo, já preparando o público para o clímax da sobrevivência. Tais fatos não chegam a atrapalhar a experiência, graças a atmosfera altamente imersiva, mas são um incômodo em certos momentos.

A preparação para o terceiro ato talvez seja o mais problemático do filme, trazendo escolhas previsíveis e, de certa forma, preguiçosas. Felizmente existem outros acontecimentos durante o terceiro ato que diminuem a importância dessas opções tomadas. O resultado é um final tenso, emocionante e recompensador, utilizando diversas características apresentadas previamente de maneira orgânica.

Depois de 90 minutos de tensão, a sensação que fica é de uma experiência diferenciada; algo que é amplificado quando vemos o longa em salas de cinema com sistemas de som de ponta. É uma história intrigante e uma aula da importância do som na construção da atmosfera de um filme.

8

NOTA

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