Crítica | O Homem Invisível – O Mal nos Homens

Homem Invisível

O Homem Invisível é uma versão repaginada do do monstro clássico da Universal. Com uma grande atuação de Elisabeth Moss, O Homem Invisível é um filme tenso e aterrorizante sobre algo mais real e perigoso do que monstros: homens abusadores.

Antes do Filme

Muitas produtoras de Hollywood buscaram copiar a fórmula da galinha dos ovos de ouro criada pela Disney com o Universo Expandido Marvel (MCU), mas a maioria delas obteve de resultados péssimos a puramente medíocres. Uma dessas empreitadas foi da Universal, que munida de seu catálogo de monstros clássicos (como Frankenstein e sua noiva, a Múmia, o Homem Invisível e muitos outros) buscou criar o “Dark Universe”, que contaria histórias modernas dessas criaturas, todas interpretadas por atores e atrizes renomadas, como Angelina Jolie, Tom Cruise e Johnny Depp (que seria o já mencionado Homem Invisível). Os primeiros filmes do universo, “The Mummy” E “Drácula Untold”, falharam miseravelmente tanto com a crítica quanto com a audiência e o “Dark Universe” foi prontamente descartado.

No entanto esses direitos foram logo cedidos para o mega produtor Jason Blum, da Blumhouse Productions, que produz filmes de terror como as franquias “Invocação do Mal” e “Sobrenatural”. Ele rapidamente convocou o roteirista, produtor e diretor Leigh Whannell, que fez muito sucesso nos círculos independentes em 2018 com seu longa “Upgrade”. Pode-se dizer que ele também fez um “upgrade” (perdão pelo trocadilho) na trama do filme, escalando Elisabeth Moss (a June de “Handmaid’s Tale”) na pele de uma mulher que tenta escapar de um relacionamento abusivo com um rico optometrista.

Trama e Roteiro

O longa é primariamente um filme de terror, mas ele também funciona como um suspense psicológico, pela maneira que Leigh (que também roteirizou o filme) constrói a tensão e o senso de isolamento de Cecilia, personagem de Moss. Após sair de um relacionamento abusivo, ela tem dificuldades de se sentir segura e confiar nas pessoas novamente, o que faz com que os outros duvidem dela quando diz estar sendo perseguida. É esse constante gaslighting que cria a tensão do filme, já que Cecilia vai ficando mais paranóica e isolada (ela é literalmente jogada em um hospício) conforme o Homem Invisível a atormenta e ninguém a leva a sério.

Essa abordagem do longa, que trata de temas como a maneira que homens abusam de mulheres e as fazem se sentir como louca, moderniza a história e permite que o público atual possa se prender mais a trama e aos personagens. Além disso, a direção de Leigh sabe construir muito bem as cenas de tensão e terror, com muitos ângulos de câmera filmados de cima e mantendo uma certa distância, dando a impressão de que os protagonistas estão sempre sendo observados.

O mais fascinante do filme é a própria condição de seu antagonista. Por ser invisível não só os personagens não sabem aonde ele está, mas a audiência também. Isso traz uma sensação de imprevisibilidade ao longa, bem aproveitada pela cinematografia de Stefan Duscio. O único traço mais negativo da obra é a trilha sonora composta por Benjamin Wallfisch, que é muito incisiva e acabar por distrair espectador em vez de ajudar na criação de um clima.

Personagens e Atuações

Além de Elisabeth Moss, o elenco é composto por Oliver Jackson-Cohen (o Luke Crain de “A Maldição Da Residência Hill) como o namorado abusivo Aiden, Harriet Dyer como a irmã de Cecilia, Alice, e Aldis Hodge como James, um policial namorado de Alice que acolhe Cecilia em sua casa. Também compõem o elenco Storm Reid como a filha de James, Sidney, e Michael Dorman como Tom, irmão de Aiden. É um elenco enxuto, que faz um trabalho sólido e deixa Moss brilhar.

O principal destaque de “O Homem Invisível” é também sua principal estrela: Elisabeth Moss está incrível no papel, nos levando em uma jornada de uma mulher abusada sem perder nenhuma marca. Ela é tão cativante e verdadeira quando mostra um lado exposto e vulnerável de sua personagem quando quanto passa por momentos de tensão que exigem mais decisão e assertividade dela. Nós sentimos o terror que ela sofre nas mãos desse homem e entendemos cada uma de suas escolhas no filme, pois elas têm uma progressão lógica que ressoa com a de Cecilia. É um papel que por vezes lembra sua June de “The Handmaid’s Tale” tanto pela sua resiliência quanto pelas situações que lhe são impostas. Ela é o farol nessa jornada sufocante contra as piores ações de um homem.

Algum destaque também cabe para Oliver, são poucas as cenas em que aparece em tela, mas ele as aproveita ao máximo, com um Aiden construído com todas as características de um abusador. Ele mente sem piscar, sempre tem uma justificativa para sair pela tangente e consegue ser dominante, impondo suas vontades e desejos, mas sem nunca os fazer de uma maneira direta, como se fosse você que aceitasse o abuso e as escolhas dele por livre vontade e não pelo sufocamento frio e calculista que ele cria com suas ações e seu corpo.

Depois dos Créditos

Por fim, “O Homem Invisível” é uma reimaginação ousada e original do clássico monstro. O filme tem uma direção com visão para o terror e incorpora de maneira muito interessante o seu subtexto de subjugação feminina ao roteiro em si do longa. Mais do que se relacionar com a protagonista, você sente e torce que ela consiga escapar desse homem, porque o que acaba sendo realmente assustador no monstro não é o fato dele ser invisível, mas sim de ele ser um homem que não aceita um não. Isso sem entrar no final, que é ousado e deixa uma pergunta na mente: Você consegue lutar contra um monstro sem se tornar um?

 

 

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8.5

NOTA

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