Crítica | Ameaça Profunda – Um Refresco de Verão

Ameaça Profunda

"Ameaça Profunda" é minha aposta para o filme despretensioso do verão. É rápido, tenso e ancorado por uma forte performance de Kristen Stewart. Ou seja, "Ameaça Profunda" é uma pedida ideal para os que procuram um filme para se manterem entretidos enquanto escapam do calor do verão.

Antes do Filme

Nós exploramos e cartografamos apenas 5% dos nossos oceanos, um baixíssimo número se comparado ao quanto já exploramos da Via Láctea. Os oceanos estão presentes na história da humanidade desde os primórdios e mesmo após conquistarmos e navegarmos os sete mares eles ainda estimulam nossa imaginação. Afinal, quais ameaças podem se esconder nas profundezas, quilômetros abaixo de nossos pés, em locais onde a luz nunca tocou? O fundo do oceano é um lugar tão misterioso para nós quanto o espaço sideral, com criaturas tão únicas que poderiam ser consideradas alienígenas.

“Ameaça Profunda” é mais um na longa linha de filmes que se passam quilômetros abaixo da superfície, passando por clássicos como “O Monstro do Mar” e “O Segredo do Abismo” de James Cameron. O filme foi gravado em 2017, mas só chegou as telas em 2020, e é estrelado por Kristen Stewart. Além dela, o elenco é composto por Jessica Henwick, John Gallagher Jr e TJ Miller, além de Vincent Cassel e Mamodou Athie. A trama é simples, eles são cientistas trabalhando na Fossa das Mariana (o ponto mais profundo da Terra, a 11 mil metros da superfície) em uma estação submersa que começa a ser atacada por seres misteriosos, forçando-os a fazer uma caminhada pelo leito do Oceano Pacifico na completa escuridão.

Trama e Roteiro

“Ameaça Profunda” é dirigido por William Eubank, diretor de fotografia de longa data com apenas mais uma obra como diretor no currículo (o indie “Sinal”). Desde seus primeiros momentos o longa deixa claro que não vai tentar camuflar o fato de ser um filme de gênero e abraça sua identidade. Eubank não perde tempo (ele até se apressa um pouco) para chegar ao acidente e a partir daí tudo se torna uma jornada tensa e claustrofóbica por espaços escuros e sufocantes durante seus 95 minutos de duração.

O longa é composto por um elenco reduzido, de seis atores, cada um com seu arquétipo razoavelmente definido, há o Cara Engraçado (Miller, em um papel igual ao seu em “Deadpool”), o Cara Legal (Gallagher Jr), a Cientista (Jessica Henwick) e uma figura paterna, nesse caso o capitão interpretado por Vincent Cassel. Também há no roteiro a figura do Cara Negro (Mamodou Athie), normalmente identificado em filmes de terror como um ator negro (é sempre um homem) cujo único aspecto do personagem seja ser “um cara legal” que, normalmente se sacrifica pelo grupo. É um estereótipo preguiçoso e racista que já devia ter sido abandonado por Hollywood.

O filme no geral é eficiente desenvolvendo sua trama, sem se arrastar muito ou tentar explicar demais. Toda a estrutura dele lembra bem um jogo de videogame como SOMA e até Dead Space e Gears of War em alguns momentos. Isso tanto pelo design das criaturas das profundezas quanto pelo ritmo e progressão da trama, separada quase como “missões” (descer da plataforma, ir para a estação secundária, caminhar pelo oceano) e o próprio design da produção tem semelhanças com jogos (nada tira da minha cabeça que as roupas de mergulho do filme são iguais as armaduras de Gears of War).

Um dos problemas da obra é seu tom, desde os minutos iniciais (que começam com uma narração desnecessária de Kristen Stewart) fica claro que o filme busca um tom mais sóbrio, usando a solidão das profundezas para falar de como Norah (personagem de Kristen) tenta se alienar dos outros e da realidade por conta de uma tragédia pessoal. Mas no geral esse tom sombrio do filme destoa com a maneira que ele é conduzido, com jumpscares e cenas de tensão extremamente claustrofóbicas, mas que mesmo bem executadas dão pouco espaço para o drama de Norah alcançar a superfície.

Personagens e Atuações

Kristen Stewart é sem dúvida a estrela do filme e ela não deixa a desejar no papel, sólida nas cenas dramáticas e trazendo uma imposição e determinação para as cenas mais físicas, fazendo que você realmente sinta a tensão das profundezas. Não há dúvidas que Kristen tem as credenciais necessárias para ser uma estrela de ação, quase como uma Tenente Ripley moderna (até o corte de cabelo curtinho dela lembra o penteado de Sigourney Weaver em “Alien”).

O restante dos atores em “Ameaça Profunda” estão bem em seus papéis, mas não tem muito com o que trabalhar. Vincent Cassel tem algumas cenas mais pesadas dramaticamente que o restante, pelo seu papel de capitão, mas não há muito a se destacar. Jessica Henwick também entra fundo no seu papel e mostra que tem totais condições de ser uma “Scream Queen” de respeito.

De negativo fica TJ Miller, ele interpreta um mecânico preguiçoso, piadista e que constantemente faz referências a cultura pop. Ou seja, é igual ao seu personagem em “Silicon Valley” ou “Deadpool” e a impressão que passa é que ele entrou no filme sem roteiro e improvisou todas as suas cenas. Acaba sendo um humor raso (há poucas piadas e muitas “referências”) que não combina com o tom do filme.

Depois dos Créditos

Com uma trama simples, cenas de terror convincentes e bons atores e valores de produção, “Ameaça Profunda” é o filme de verão quintessencial. A história não é especialmente impactante, mas é interessante o suficiente para te manter entretido enquanto você aproveita o ar-condicionado com uma pipoca. Os efeitos são bons, os momentos de terror bem-feitos e no fim você vai sair da mesma maneira que entrou, só menos suado. O que acaba sendo uma pena, pois um pouco mais de polimento poderia ter trazido algo memorável para o gênero.

 

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Ameaça Profunda

6.5

NOTA

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