Crítica | O Exterminador do Futuro: Destino Sombrio – É o melhor da franquia pós-T2?

Exterminador do Futuro Destino Sombrio

Com Linda Hamilton e Schwarzenegger roubando a cena, Exterminador do Futuro - Destino Sombrio diverte, mas fica dividido entre seguir em frente ou voltar ao passado, o que não impede que ele seja o melhor da franquia pós-T2.

Antes do Filme

Antes de falar de Exterminador do Futuro – Destino Sombrio, vale a pena lembrar do passado da franquia. Certamente, ela teve seu ápice em seu segundo longa, O Julgamento Final. Dirigido por James Cameron (Avatar), essa é uma obra quase irretocável. Além de efeitos especiais impressionantes para a época e grandiosas cenas de ação, o roteiro teve a brilhante ideia de colocar Schwarzenegger como herói, contrastando com o primeiro — também excelente — e criando um emocionante vínculo com a versão infantil de John Connor.

No entanto, nenhuma continuação fez jus ao legado deixado pelos anteriores. Aliás, o subestimado A Salvação (quarto) até traz um interessante conflito interno existencialista entre homem e máquina. Igualmente esse dualismo também presente na ação dirigida por McG (As Panteras), com elaborados planos sequências realistas (homem) em contraponto aos extensos efeitos especiais (máquina).

Gênesis (quinto) possui ótimos quinze minutos iniciais, repletos de fan service, e faz uma releitura de momentos clássicos da saga, mas se perde completamente em seus próprios paradoxos. O mais inexpressivo de todos, A Rebelião das Máquinas (terceiro), é apenas uma cópia de T2 com fracas atuações e sem o toque mágico de Cameron. Assim, em que patamar se encontra Destino Sombrio, sexta aventura deste universo de ficção científica dominado pela Skynet?

Enredo e Trama

Primeiramente, fique tranquilo, pois, com a volta de James Cameron na produção, Destino Sombrio ignora os três últimos “fracassos” da franquia. Ou seja, só é preciso ter visto os filmes de 1984 e 1991. Ainda assim, uma expositiva narração em off no começo fazem com que ele seja autossuficiente, apenas com a perda de algumas referências — como a menção à Skynet ou a gag recorrente envolvendo óculos escuros.

Assim como seus antecessores, O Exterminador do Futuro – Destino Sombrio traz dois seres do futuro com missões antagônicas. A humana geneticamente melhorada, Grace (Mackenzie Davis, Blade Runner 2049), deve proteger a mexicana Dani (Natalia Reyes, Pássaros de Verão), enquanto a máquina Rev-9 (Diego Luna, o Motoqueiro Fantasma em Agentes da SHIELD) precisa matá-la. Somando-se a esse jogo de gato e rato, Sarah Connor (Linda Hamilton, T1 e T2), traumatizada por eventos do passado, chega para salvar o dia e ajudar as outras duas mulheres com sua experiência.

O roteiro coescrito por Goyer (franquia Batman de Nolan), Ray (Projeto Gemini) e Rhodes cria uma eficiente harmonia ao emular os acertos do passado, contextualizando-os com a temática contemporânea. Neste sentido, subtextos da força feminina (girl power), da imigração mexicana e da mecanização nas fábricas estão todos presentes. “A ameaça é o seu útero”, afirma uma das personagens. Na atual era em que os homens brancos deixam de protagonizar o cinema, nada mais irônico e pontual do que botar seus dois potenciais substitutos para batalharem pelo topo do pódio: uma mulher mexicana contra uma máquina (que seria a computação gráfica).

Destino Sombrio até contém alguns paradoxos — se a Skynet acabou, o Exterminador não deveria ter desaparecido? — mas, no geral, não complica muito sua lógica. Afinal, toda a franquia vem trazendo a mensagem de que não importa quantas vezes o futuro apocalíptico seja impedido, há uma inexorabilidade quanto ao potencial destrutivo da humanidade. Neste episódio, pouco da mitologia é explorado e o foco é mais na ação imediata, com a Legião (nova inteligência artificial) sendo pouquíssimo citada.

Não menos importante, a direção de Tim Miller (Deadpool) é mais notada nas cenas de ação. Ele segue um estilo quase guy-ritcheano (Sherlock Holmes), com coreografias frenéticas interrompidas por um slow-motion que dá ênfase em certos movimentos. Por outro lado, há as clássicas cenas da saga Exterminador e aqui ele é eficiente, homenageando o próprio Cameron ao emular suas perseguições de caminhão e helicóptero. Com o passar do tempo, elas vão se tornando repetitivas, até a cena final, quando surge Grace e sua corrente.

Personagens e Atuações

Um dos maiores problemas de O Exterminador do Futuro – Destino Sombrio é como seu maior trunfo é, ao mesmo tempo, sua maior armadilha. Explico: o que há de melhor no longa são as participações de Linda Hamilton e, principalmente, de um mais-hilário-do-que-nunca Arnold Schwarzenegger. Quando a dupla se encontra, é como se todo o resto perdesse a importância e você apenas quer ver aqueles dois interagindo. Isso acaba gerando uma enorme contradição, pois a história principal acaba perdendo força, juntamente com o novo elenco. No fim, ele sabota sua possibilidade de se renovar ao dar destaque demais para a nostalgia.

Todavia, deixando isso de lado, é inegável o talento da dupla de veteranos atores. Linda Hamilton traz uma Sarah Connor niilista e potente, com diversas tiradas sarcásticas, mas ao mesmo tempo esconde uma enorme fragilidade ao relembrar do passado. Enquanto isso, a partir do momento que Schwarzenegger aparece, o filme ganha dono. Primeiramente, porque seu personagem é extremamente complexo e explora um nível da relação humanidade/inteligência artificial ainda não visto até aqui. Em segundo, o ator-polítco-bodybuilder parece entender que ele é justamente engraçado quando tenta agir naturalmente. Sua robustez — que já é até meio robótica — gera um hilário contraste com uma tentativa de humanizá-lo.

De mesmo modo, Mackenzie Davis é o ponto de equilíbrio dos personagens, uma vez ela possui tanto o lado humano quanto o lado robótico. Por isso, a atriz passa tanto a imposição necessária de sua personagem nas sequências de ação, mas também uma maior sensibilidade na parte de relacionamento. Porém, infelizmente, o mesmo não pode ser dito para o núcleo latino — o que é uma pena, pois a diversificação do elenco no cinema é algo que deve ser levado a sério.

Claramente, Diego Luna tenta imitar o lendário Robert Patrick, seja em suas corridas ou no olhar compenetrado, mas sem jamais parecer ameaçador. Aliás, o próprio roteiro sabota o ator, ao dividir a ameaça entre ele e um Exterminador que sai de seu corpo. Similarmente, Natalia Reyes é funcional na maior parte do tempo, mas quando a cena pede uma performance mais dramática, ela acaba nunca saindo do quase.

Depois dos Créditos

Inegavelmente, O Exterminador do Futuro – Destino Sombrio é divertido. Aliás, não é muito difícil conseguir ser o melhor da franquia depois de T2. O problema é que, assim como a própria humanidade deste universo, ele é um filme autodestrutivo. Ao começar apresentando uma renovação com novos personagens, a ótima subtrama envolvendo Arnold e Hamilton surge roubando espaço, gerando um desequilíbrio. Assim, a narrativa segue rumo com duas histórias paralelas que, apesar de estarem fisicamente juntas, jamais soam conectadas. Por mais que o Exterminador seja a melhor coisa de Destino Sombrio, não é coerente que um longa pautado inteiramente na união feminina tenha um grande Deus Ex Machina masculino. Em suma, a nostalgia e a renovação de Exterminador do Futuro 6 funcionam separadamente, mas, conjuntamente, anulam-se.

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Exterminador do Futuro Destino Sombrio

6

NOTA

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