Crítica | 1917 – Videogame da Primeira Guerra Mundial

1917

Sam Mendes cria uma experiência imersiva em uma videogamezação da Primeira Guerra Mundial em 1917

Antes do Filme

Dirigido por Sam Mendes (Beleza Americana, 007 – Skyfall), 1917 está despontando como um dos grandes favoritos do Oscar após vencer diversas outras premiações que funcionam como uma espécie de termômetro para ele. Assim como o vencedor de 2014, Birdman, o grande chamativo deste filme é que ele se vende como uma experiência em “plano-sequência”. Para quem não sabe, o plano-sequência é uma sequência sem cortes, ou seja, sem interferência da montagem. Todavia, o que acontece aqui, tal como a obra de Iñárritu, é que estes cortes existem, mas estão camuflados. 

Ambientada durante a Primeira Guerra Mundial, a trama acompanha dois inocentes soldados ingleses que possuem uma urgente missão. Blake (Dean-Charles Chapman, Game of Thrones) e Schofield (George MacKay, Capitão Fantástico) devem se deslocar entre as trincheiras inimigas para entregar um aviso até uma divisão avançada do exército. Tal mensagem refere-se ao fato de que mais de mil soldados aliados estão prestes a realizar uma ofensiva que se configura como uma grande armadilha feita pelo exército alemão. Não só isso, mas esta jornada ganha um caráter muito pessoal, uma vez que o irmão de Blake (Richard Madden, Game of Thrones) está incluído no pelotão.

Enredo, Trama e Atuações

Longe de ser um filme com uma história muito elaborada, 1917 é propositalmente simplista em seu roteiro. O que, ao meu ver, não se configura totalmente como um ponto negativo. Afinal, seu foco reside muito mais em uma experiência sensorial. Neste sentido, o longa é quase como um simulador de um parque de diversões ou aquele capacete de realidade virtuais. A forma como a narrativa é contada parece se assemelhar muito com a de um video game. 

Entretanto, em sua proposta de ser um um filme-jogo, não acho que seja uma experiência 100% sucedida, principalmente porque não é como se estívessemos jogando, mas como se assistíssemos alguém jogar. Estamos próximos o suficiente da ação e do perigo, mas nunca nos sentimentos, de fato, nele. O próprio modo como a câmera faz uma movimentação acompanhando os protagonistas, como se corresse para alcançá-los, ou quando desvia o olhar para algo que eles estão observando indicam esta autonomia. Sam Mendes acaba criando um terceiro soldado invisível, que somos nós, o espectador. Mas é um espectador que sempre parece invulnerável, enquanto  Blake e Schofield sofrem o tempo todo.

De mesma maneira, cabe aqui falar sobre o paradoxo da fotografia de Roger Deakins e da trilha sonora de Thomas Newman. Individualmente falando, me ouso a dizer que não é absurdo afirmar que é o melhor trabalho da vida dos dois. Eu mesmo cheguei a chorar algumas vezes no filme por conta desta combinação magnífica, somada ao potencial dramático da atuação de MacKay. No entanto, acho que para um filme que quer se passar como uma experiência simuladora realista, elas acabam se tornando perfeccionistas demais, calculadas, e até intrusivas (a trilha, principalmente). Existe tanto este preciosismo estético, que a tentativa de criar algo real se mostra artificial. 

Depois dos Créditos

Curioso que isso me faz pensar que 1917 é o filme perfeito segundo a lógica do Oscar. Difícil de ser feito, com movimentações de câmera elaboradas, a questão do plano-sequência, a ambientação de guerra, a temática do heroísmo e do sacrifício, atuações dedicadas e a primazia técnica irrefutável. Ele é estritamente calculado para vencer categorias separadas. O problema é que nunca consigo encontrar um senso de unidade forte nisso tudo. É uma mistura entre o realismo e o artificial que soa indigesta.

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6

NOTA

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