Critica | Hebe – A Estrela do Brasil – Uma Biografia Fiel

A cinebiografia de Hebe Camargo estréia sem querer causar muitas polemicas sobre a artista muito popular nos anos 80 na televisão brasileira.

Antes do Filme

Um dos projetos mais interessantes do cinema nacional e que se propõe a abranger um grande público é a cinebiografia. Esse gênero trabalha com grandes personalidades da sociedade brasileira. Normalmente, esses tipos de filmes trazem alguns problemas devido ao direito de imagem, certas histórias acabam sendo chapa branca (não querem polemizar sobre questões sensíveis ao personagem); ou quando se pretende a ser mais realista, muitos personagens tem que mudar de nome devido a problemas na justiça. Em Hebe – A Estrela do Brasil, a roteirista Carolina Kotscho resolve esse problema ao centrar a história em um breve período de vida apresentadora – entre sua saída da Rede Bandeirantes até o fim do envolvimento com o Congresso Nacional –  e a única polêmica maior que existe na trama (os abusos do marido de Hebe e seus problemas com o álcool), não envolveram outras personalidades que aparecem durante a projeção. O aparecimento do cantor Roberto Carlos (Felipe Rocha), é um caso, pois dificilmente permite o uso do seu nome ou imagem em produções que ele não ache adequado aparecer.

Enredo do Filme

No filme, vemos como Hebe Camargo (Andrea Beltrão), uma estrela já estabelecida da televisão brasileira, comanda seus programas ao vivo, em que apareciam figuras um tanto quanto controversas naquele momento (que talvez hoje voltariam a ter problemas para aparecer) como travestis ou mesmo pessoas que diziam o que vinha à cabeça (como Dercy Gonçalves). Enquanto isso, Hebe tentava contornar a censura, causando brigas com Walter Clark (Danilo Grangheia) – Grande diretor de programação da Bandeirantes naquele tempo. .

Esses problemas levaram Hebe a pedir demissão da emissora, e logo foi contratada pelo SBT, pelo próprio patrão, Sílvio Santos (Daniel Boaventura) que, infelizmente, aparece apenas nessa cena. A partir daí vemos participações de outras figuras da TV brasileira, como Chacrinha (Otávio Augusto), Roberta Close (Renata Bastos) e o já citado Roberto Carlos.

Ao mesmo tempo, a história perpassa pela vida pessoal da apresentadora e seu relacionamento de amor e ciúme doentio Lélio Ravagnani (Marco Ricca) e também a relação amorosa com seu filho, Marcelo (Caio Horowicz). As cenas de ciúmes entre Hebe e Lélio são as mais tensas da película, nas quais vemos ela passando por um relacionamento abusivo (suas crises de ciúmes eram constantes, vindo acompanhadas pelo consumo excessivo de álcool). A última cena de briga deles é a mais pesada,comum abuso sexual.

A entrega de Andrea Beltrão ao papel é a força do filme. Sua atuação demonstra os sentimentos conflitantes que a personagem passa. a alegria que passa quando está com seu público e sua equipe de produção. ao mesmo tempo, vemos toda a sua tristeza e por vezes solidão, quando está no caminho de casa. Ela encarna com naturalidade a persona de Hebe, sem exagerar nos momentos dramáticos e sem ser caricata. A atuação de Ricca funciona bem com a química entre os dois e ele trabalha bem nos momentos em que o papel pede intensidade e violência e é um dos poucos que carrega mais no sotaque paulista entre os personagens.

Outro ponto importante, é a relação de mãe e filho, que o roteiro insinua sobre a sexualidade dele e como ele se sentia melhor com os empregados do que com pessoas da sua classe social. O amor incondicional de mãe não permite críticas a sua cria, como ocorre algumas vezes quando Lélio se interpõe a falar sobre isso.

Depois dos Créditos

Por ser um filme que mostra apenas um pequeno período da vida da apresentadora, ficam de fora algumas polêmicas da sua vida, principalmente sua proximidade com o Regime Militar, pelo qual era bem vista por apresentar programas de família na época e sem polêmicas. O máximo que o filme se permite é mostrar sua amizade com então Governador de São Paulo, Paulo Maluf.

Sua briga com o governo só ocorre nos anos 80, já no fim da Ditadura e quando começa a defender os direitos dos homossexuais e, principalmente, quando ataca o Congresso Nacional com declarações em seu programa que a ameaçaram de cadeia e o SBT de ficar 30 dias fora do ar.

O filme se faz valer e é recomendado para aqueles que curtem o cinema nacional e uma cinebiografia bem realizada.

 

7.0

NOTA

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