Crítica | Tolkien

Obra biográfica é divertida e edificante.

Antes do filme

Filmes biográficos carregam certa expectativa, espera-se que a obra retrate a figura central de forma realista respeitando sua importância, ao mesmo tempo que se traz a tona, elementos novos, ou pouco conhecidos, da vida pessoal do indivíduo.

Quando se trata da biografia de um dos maiores, se não o maior, autor de fantasia do mundo, espera-se saber como sua vida impactou sua obra e vice versa. A final de contas, qual é o impacto de lançar uma obra de tamanha
influência como a de Tolkien.

Personagens e Atuações

Em “Tolkien” temos algumas dessas perguntas respondidas, infelizmente não todas. Aqui o foco maior vai para a vida  do autor antes de ele lançar seus livros. Vemos sua relação com sua mãe, a dor e o impacto de sua perda, e a vida  difícil como um órfão pobre, porém muito inteligente e esforçado.

Porém o maior foco do filme é no grupo de amigos que Tolkien faz durante sua infância, e o elo que os unirá pelo resto de suas vidas. Essa amizade é muito bem realizada, em grande parte, graças ao trabalho dos atores. Tanto suas versões crianças, quanto jovens adultos, transmitem muita química.

É divertido ver as interações entre os jovens, suas aspirações, seus medos, e a forma como eles apoiam uns aos outros. Essa amizade é tão envolvente, que nós como expectadores nos sentimos parte desse grupo, e queremos viver aventura junto com eles.

Além do grupo de amigos, outro pilar fundamental na vida do futuro grande escritor, é seu interesse amoroso. E a relação entre o jovem Tolkien (Nicholas Hoult) e a bela Edith (Lily Collins), é representada de forma muito crível e envolvente. Pode-se sentir que há muita química entre os personagens, e a forma como sua relações se desenvolve de um flerte durante a infância, até uma avassaladora paixão durante o início da viada adulta de ambos, é realizada de forma muito bonita.

Novamente nós expectadores nos pegamos torcendo pelo sucesso do amor entre os jovens apaixonados. Vale ressaltar que grande parte do nosso investimento enquanto expectadores vem da forma como nosso protagonista é representado. A performance de Nicholas Hoult, na fase jovem adulta do personagem, é muito carismática, assim como sua contraparte criança/adolescente, vivida por Harry Gilby.

Ambos atores fazem um excelente trabalho em retratar Tolkien como um jovem muito talentoso, e promissor. Porém  vítima de circunstânceas infelizes. Torcemos por seu sucesso, sofremos com suas derrotas, e aplaudimos suas vitórias. Tornando a obra muito emocionalmente envolvente.

Trama e Roteiro

Enquanto todos os elogios residem na forma como a obra retrata seus personagens, e a forma como se relacionam. A maioria dos problemas da mesma, residem em sua estrutura, e principalmente nas escolhas do que deve-se, ou não ser contado.

A vida e obra de Tolkien, já são muito conhecidas, e foram bem exploradas na literatura. E havia uma certa expectativa de que o máximo de detalhes possível fossem abordados na versão cinematográfica da biografia do autor. Porém o foco da narrativa está na vida de Tolkien, antes do lançamento de seus livros. Há é claro menções das influencias que fariam Tolkien criar, o que viria a se tornar, o universo da Terra Média.

Sua paixão por línguas, e pela estrutura e significado dos idiomas, seu interesse por mitologia, de várias partes da
Europa, tudo isso é mostrado ao longo do filme, sempre com referências aos expectadores mais atentos, de como esses elementos afetaram as futuras obras do autor. Igualmente importante é o peso dado as experiências de vida do jovem  Tolkien, sua relação com seus amigos, e o elo de camaradagem formado entre eles, o peso avassalador de sua paixão por
Edith, e os horrores vividos durante a primeira guerra mundial, são todos apresentados como fatores fundamentais para a concepção de “O Hobbit”, “O Senhor dos Anéis” e todas as obras subsequentes do autor.

Algo que pode ser visto como irônico, uma vez que o autor sempre disse em vida, que seu trabalho não foi concebido como uma analogia à suas experiências. Obviamente, pode-se debater o quanto as experiências de vida de uma pessoa podem  influenciar sua obra, intencionalmente ou não. Mas ainda é uma divergência a se ressaltar, com as declarações do autor  em vida.

Outro fato a se ressaltar é forma como Tolkien é retratado na obra. Seu personagem é praticamente perfeito, gentil, esforçado, inteligente, dedicado.Praticamente não há falhas na pessoa de Tolkien. O que pode passar para alguns a impressão de que a obra é insincera, e indulgente a figura do autor.

Depois dos Créditos

Mesmo se focando demais no antes, e mostrando muito pouco, ou quase nada, do durante e depois da criação das obra mais populares dos autor. Mesmo mostrando o protagonista como uma figura quase perfeita, exímia de falhas. “Tolkien”é uma obra bonita, visualmente, e em sua mensagem, sobre o valor da amizade, da arte e da perseverança; sobre como as pessoas através do esforço e da criatividade, independente de sua origem, podem deixar sua marca no mundo.

Se isso é fiel a vida, e a pessoa de Tolkien, é complicado de dizer, mas é inegável a fidelidade á sua obra e seu legado. No fim a obra resume muito bem espírito das histórias criadas pelo autor, e unem esse espírito à sua história de vida, criando uma obra divertida e edificante, como as melhores aventuras são.

7

NOTA

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