Review | GLOW (3ª temporada) – Menos luta livre, mais drama e muitas decisões ousadas

GLOW

Ambientada em Las Vegas, a terceira temporada de GLOW mostra menos momentos dentro do ringue e explora maior os relacionamentos do grupo de meninas, passando por cassinos, desertos, show de stand-ups e até um baile beneficiente contra drogas.

Antes da Temporada

GLOW é uma série de drama e comédia, distribuída pela Netflix. Criada por Liz Flahive (produtora de Homeland e co-roteirista de Capitã Marvel) e Carly Mensch (produtora de Orange is the New Black), a série é ambientada nos anos 80 e acompanha de maneira ficcionalizada o processo real de criação do Gorgeous Ladies of Wrestling, um programa de luta livre protagonizado por mulheres.

Apresentando 12 lutadoras, 1 produtor e 1 diretor, a primeira temporada familiarizou a audiência com seu belíssimo elenco etnicamente e culturalmente diverso. Muitas das dificuldades da pré-produção de um programa televisivo foram mostradas, juntamente com o treinamento das inexperientes meninas. Após conseguirem dar andamento ao show, a segunda temporada explorou ainda mais como o mundo da televisão pode ser cruel. Após o final do segundo ano, as meninas de GLOW iniciam a atual temporada mudando de rumo. Ao invés da televisão, elas agora fazem apresentações ao vivo em Las Vegas.

Enredo, Trama e Personagens

Uma série sobre wrestling pode funcionar mirando seu foco para longe da luta? Se nas temporadas anteriores a trama passava inevitavelmente pelo ringue e os arcos dramáticos das personagens se desenvolviam no palco, a terceira temporada veio para mostrar que ver essas meninas trocando golpes é apenas um pequeno detalhe. Com o início de um saturamento e repetição das coreografias e histórias que servem de contexto para as lutas, a série acerta em elipsar esses momentos. Nas pouquíssimas vezes que vemos os embates, o roteiro inova ao fazer um especial de natal e um brilhante episódio em que elas invertem os papéis, gerando uma ótima discussão sobre preconceito.

Precisando inserir novas localizações, GLOW pouco aproveita o potencial das ruas de Las Vegas (talvez por problemas logísticos), ficando presa a cenários repetitivos, como mesas de cassino. Quando decide ir para localizações diferentes, a temporada entrega suas melhores sequências. Há os divertidos shows na casa de stand-up, um baile de arrecadação, uma visita até Hollywood e, no melhor episódio desse terceiro ano, um emocionante acampamento no deserto.

Para ocupar o vácuo narrativo, o roteiro opta por aprofundar a relação de suas personagens secundárias, que até então eram pouco exploradas. Quem possui o melhor arco é Sheila (Gayle Rankin, O Rei do Show), em um processo de autoconhecimento e novas descobertas. A evolução da menina-lobo é impulsionada pelo aparecimento de Barnes (Kevin Cahoon), uma drag queen que possui seu próprio show de stand-up em Las Vegas, sendo a melhor adição ao elenco. Além disso, todas as outras relações são usadas para desenvolver importantes questões. Arthie (Sunita Mani) e Yolanda (Shakira Barrera) são usadas para falar da temática LGBTQ+. Rhonda (Kate Nash) e Bash (Chris Lowell) desenvolvem  a questão de impulsos reprimidos. A amizade de Melanie (Jackie Tohn) e Jenny (Ellen Wong) brilhantemente aborda a estereotipação.

Ainda que o segundo escalão do elenco tenho mais peso, Ruth (Alison Brie, Community) e Debbie (Betty Gilpin) continuam dominando em termos de atuação. Cada vez mais confortáveis com suas personagens, as atrizes entregam fortes performances. Ruth continua um mistério tanto para o espectador quanto para ela mesmo, indecisa sobre seu futuro, mas sempre com seu sorriso encantador e otimista. Já Debbie cada vez mais mostra sua força que se mistura com um certo cinismo. O  diretor Sam Sylvia (o ótimo Marc Maron, The Joker) vive sua própria trama paralela, que, apesar de gerar um aprofundamento do personagem, acaba por deixá-lo desconexo dos acontecimentos principais.

Depois dos Créditos

Fugindo de sua proposta original, que corria o risco de estar se tornando cansativa, a terceira temporada acerta ao trazer menos wrestling e mais do relacionamento do grupo das lutadoras. Poderosa dramaticamente, a série irá fazer com que o público se aproxime de personagens não tão exploradas antes. E para aqueles que sentem saudades da luta livre, nos poucos momentos que aparece, o roteiro entrega os cenários mais criativos dentro do ringue até então. Arriscando-se em um caminho ousado, GLOW mostra ser muito mais do que uma série sobre o esporte, mas sim sobre pessoas e ambições.

 

Revisão: Raquel Severini

 

8.5

NOTA

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