Review | Black Mirror: Striking Vipers

Striking Vipers

Sem ousar, Striking Vipers repete elementos antigos já usados em Black Mirror e se torna um episódio esquecível.

Antes do episódio 

A antologia de ficção científica Black Mirror vem chocando o público desde seu primeiro episódio, em 2011. O seriado tem como principal atrativo a utilização de uma realidade com nuances futuristas para denunciar situações do presente. Criada e escrita por Charlie Brooker, cada episódio possui seu próprio elenco, história e diretor. Após um hiato de 2 anos – ignorando o esquecível, porém bem-intencionado Bandersnatch – a quinta temporada se inicia com Striking Vipers, dirigido por Owen Harris (responsável pelo excelente episódio San Junipero). 

Sinopse

Após anos de juventude compartilhando um apartamento, pizzas, baseados e jogatinas de Striking Vipers (em clara alusão ao jogo Street Fighter) o destino separou Danny (Anthonie Mackie, o Falcão de Vingadores) e Karl (Yahya Abdul-Mateen II, o Arraia Negra de Aquaman). Enquanto o primeiro formou sua família e aceitou de vez a vida adulta – não há nada mais “paizão” do que fazer churrasco usando camisa polo – o segundo ainda vive uma vida de solteiro, com encontros marcados no Tinder. No entanto, tudo muda quando Danny faz aniversário e recebe de seu ex-melhor amigo a nova versão de Striking Vipers, agora em realidade virtual aumentada. Através do jogo, a dupla se reconecta novamente de uma forma que eles não imaginavam. 

Trama e Narrativa

Antes de mais nada, como um bom patriota, uma curiosidade interessante a ser destacada é que Striking Vipers foi filmada em São Paulo, que através de uma fotografia fria e esmaecida conseguiu realmente parecer ser de uma realidade alternativa. A informação em detalhes pode ser vista aqui. Aliás, todo o tom estético e o uso de cores se encaixam perfeitamente no realce do contraste das vidas opostas que os protagonistas vivem. Quando Danny, que vive uma rotina apática, é mostrado, a paleta acinzentada segue o personagem como uma nuvem cobre o Sol. Já Karl, aparece em ambientes mais iluminados e com tons de neon, representando toda sua energia.

Contudo, se um crítico começa seu texto falando uma mera curiosidade de locação, é porque ele está em uma luta interna para adiar os inevitáveis comentários sobre a decepção que é todo o resto do episódio. Tal sentimento surge porque Striking Vipers escolhe jogar seguro, não inovando em nada do que Black Mirror já apresentou anteriormente. Como se tentasse repetir a fórmula do sucesso de San Junipero, o episódio aposta novamente em uma história na qual seus protagonistas usam um mundo ilusório para liberar suas ânsias e conhecer uma vida que nunca tiveram.

Há também alguns easter eggs que confirmam a ambientação futurista da história, como um telefone que se dobra (aliás, isso já é o presente) e uma máquina de pinball em 3D, mas essa não é uma das maiores preocupações do episódio, que em certos momentos parece atemporal. Sendo o único elemento tecnológico de destaque, o video game em realidade virtual se torna uma oportunidade desperdiçada ao usar cenários extremamente simples e comuns, sendo no máximo ornamentados por uma mensagem flutuante escrita game over. Se há um elemento do mundo virtual esse é a luta dos personagens. Com total consciência de que ter atores reais imitando personagens em 2D seria algo tosco, o diretor Owen Harris explora a comicidade da cena através de movimentações absurdas e efeitos especiais parecendo vir diretamente de um filme B.

Personagens e Atuações

Mesmo que esse bucolismo moderno seja um melodrama clichê, há uma certa química – que paradoxalmente também é sua negação – entre os atores Anthonie Mackie e Yahya Abdul-Mateen II, passando desde o estágio da negação até o da sedução. Por outro lado, a interação dos protagonistas no mundo real só ganha impacto porque o público acredita que são genuinamente eles naquela realidade do jogo, o que destaca os trabalhos de Pom Klementieff (Mantis, de Guardiões da Galáxia) e Ludi Lin (Ranger Preto, de Power Rangers), que interpretam Roxette e Lance, respectivamente. Já Nicole Beharie (Abbie, de Sleepy Hollows) também faz um sólido trabalho como esposa de Danny, mostrando a insegurança de uma pessoa que não se sente amada.

Considerações Finais

Tentando ser uma combinação de outros episódios de Black Mirror que fizeram sucesso, Striking Vipers soa calculado e planejado, ao invés de ser uma genuína e tocante história de amor. Abordando exaustivamente os temas da fidelidade, da autoaceitação e da monotonia da vida adulta, mensagens essas que se tornam óbvias ao longo do episódio, nem os bons atores envolvidos conseguem diminuir a decepção de quem está acostumado com uma série que nivela seus episódios por cima, e não por baixo.

 

Revisão: Raquel Severini

Striking Vipers

5

NOTA

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