Sobre o livro
A primeira coisa que chama a atenção em O Homem de Giz é sua ilustre capa dura na cor preta com desenhos de pequenos bonecos de palito na lombada, e seu título ilustrado para parecer desenhado a giz, fazendo também a ilusão de que o livro está manchado de pó de giz. Folheando algumas páginas, logo é possível notar que algumas folhas são pretas, o que combina perfeitamente com a trama de suspense do livro.
A história se passa numa alternância entre os anos 1986 e 2016, passado e presente, em que o leitor acompanha o protagonista, Eddie, e seu grupo de amigos que tinha como passatempo explorar a pacata cidade em suas bicicletas e trocar mensagens utilizando desenhos de giz. Eles eram inseparáveis, até que eventos estranhos foram se sucedendo até encontrarem algo que fez com que nunca mais fossem os mesmos: um corpo decapitado escondido no bosque em que costumavam brincar. Trinta anos depois, os membros do grupo já haviam seguido caminhos diferentes quando receberam cartas com desenhos de homens de giz. Esse aviso junto com um novo assassinato leva Eddie a tentar desvendar os mistérios de sua infância que o acompanharam por todos esses anos.
A autora C. J. Tudor se diz uma grande fã dos livros de Stephen King, o que se torna claro logo no ínicio da leitura de O homem de Giz, que foi seu primeiro romance. Existem na trama alguns elementos que podem nos lembrar It, livro adaptado para o cinema e que teve o lançamento de sua segunda parte recentemente, ou Stranger Things, série original da Netflix já em sua terceira temporada, que estão em alta atualmente.
O primeiro exemplo é logo o mais visível: o grupo é formado por quatro meninos e apenas uma menina, ruiva, com problemas de relacionamento com o pai, que foge do padrão andando apenas com meninos, como é visto tanto na série, quanto no livro/filme. Além disso, o fato de ocorrerem casos de assassinato com um espaço temporal exato de 30 anos lembra logo os misteriosos desaparecimento de crianças no livro de Stephen King, que acontecem a cada 27 anos. Esses elementos podem ser encarados de duas maneiras: falta de criatividade da autora ou uma inspiração respeitosa.
Desenvolvimento e Personagens
A história passa ao leitor a impressão de realmente estar na década de 80’, com diversas referências a artistas e elementos típicos da época. Nela, pode-se ver Eddie e seus amigos se divertirem de forma simples com seus desenhos de giz e na feira anual da cidade.
Como uma criança é narradora de 50% do livro, é impossível deixar de comparar o Eddie do passado com o do presente, notando, assim, uma evolução enorme do personagem. Ele precisou lidar com a doença degenerativa do pai e isso o fez amadurecer para que pudesse ajudar sua mãe durante essa fase difícil de suas vidas. Entretanto, Eddie é o personagem que tem todo o foco do livro, não deixando muito espaço para o desenvolvimento de outros além de seus pais. Os únicos de seus amigos que se mantém na cidade depois de adultos são Gav e Hoppo, com quem o leitor quase não tem um contato mais profundo. Comparando com It, onde cada personagem do clube têm seus medos e suas histórias expostas, O Homem de Giz não nos permite criar apego ou empatia com os personagens.
Conforme a história vai se desenvolvendo, mais e mais questões vão sendo criadas ao longo da trama, o que traz a indagação de se todas, ou até mesmo a maioria, terão suas respostas. Não existe uma regra que diga que nenhum thriller possa ter suas pontas soltas. Muito pelo contrário! Muitos amantes de suspense, inclusive, gostam que um pouco do mistério permaneça mesmo ao fim do livro. O Homem de Giz não é um dos que entregam todas as respostas, mas também não é dos que deixam aquela curiosidade confortável por não deixar espaço para que o leitor tenha teorias que façam sentido já que muitos personagens já estão envolvidos em seus próprios mistérios, deixando-o na dúvida de se eles fariam parte de mais algum acontecimento, e se sim, por que não deixar claro junto com as outras coisas que eles fizeram? Ou será que os culpados pudessem ser personagens em momento nenhum desmascarados?
Considerações finais
Apesar de carregar um final talvez não tão satisfatório para todos, O Homem de Giz vale a pena por muitos motivos. Um desses motivos é a escrita da autora, que brinca com o passado e o presente com maestria, em momento nenhum confundindo ou entediando o leitor. Outro ponto que faz o livro valer a pena é a forma como a história te prende também com essa alternância, deixando um mistério e uma tensão a todo capítulo, não importando de que época seja. O livro possui um clima tenso do início ao fim, sendo quase impossível largá-lo até que chegue o fim.
Informações técnicas (retirados do site da editora):
Formato(s) de venda: livro, e-book
Tradução: Alexandre Raposo
Páginas: 272
Gênero: Ficção
Formato: 15,5 x 23 x 1,8
ISBN: 978-85-510-0293-3
E-ISBN: 978-85-510-0295-7
Lançamento: 15/03/2018