Antes do filme
Filme do diretor grego, Yorgos Lanthimos (conhecido por filmes como “Dente canino” e “A favorita”), “Pobres Criaturas” é baseado no livro de mesmo nome de autoria de Alasdair Gray. O longa conta com nomes estrelados no elenco como Emma Stone, Williem Dafoe e Mark Ruffalo.
O filme conquistou 11 indicações ao Oscar 2024 e saiu do prêmio com as estatuetas em três categorias: melhor cabelo e maquiagem, melhor direção de arte e melhor figurino.
Recentemente o longa foi adicionado ao catálogo do serviço de streaming, Star+, e desde sua estreia, o filme tem gerado debates e discussões por conta de sua trama polêmica.
Durante o filme
Pobres Criaturas se passa em uma espécie de Era Vitoriana ficcional e conta a história de Bella Baxter (Emma Stone), uma mulher que foi trazida de volta a vida e rebatizada, após o gênio da ciência e médico, Godwin Baxter (Williem Dafoe), ressucitar uma mulher que se suicidou ao trocar seu cérebro recém morto pelo do bebê que carregava em seu ventre.
Como ainda possui o cérebro em desenvolvimento, mesmo que evolua mentalmente muito rápido, Bella ainda é inocente e está descobrindo o mundo e seu próprio corpo. Bella descobre que possui sensações ao se tocar e então assim, ela descobre mais sobre si e sobre seus desejos sexuais (O filme possui inúmeras cenas de sexo, que aqui, é tema central e parte importante da narrativa do filme).
Godwin acredita que um casamento, pode manter sua experiência mais próxima dele então pede para que Max (Ramy Youssef), um de seus alunos que foi convidado a acompanhar a evolução de Bella, se case com ela, pois vê que o jovem nutre sentimentos por sua experiência.
Nos preparativos do casamento Godwin chama o advogado Duncan Wedderburn (Mark Ruffalo) para redigir os documentos da formalidade. Duncan é um homem rico, galanteador e prepotente que tem sua curiosidade despertada após ler os papéis do matrimónio, se questionando: Quem seria a mulher que se submetera a um casamento próximo a uma prisão?
Ao conhecer Bella, Duncan lhe conta sobre as maravilhas do mundo, e a faz conhecer o sexo, despertando o desejo de liberdade de Bella. Bella então, parte em sua aventura de autodescoberta.
Depois do filme
Pobres Criaturas é um filme provocativo em sua essência. Assim como boa parte da filmografia de Yorgos Lanthimos o filme explora o conflito da liberdade contra o status quo. Aqui esse embate se desenha a partir do desejo masculino pelo poder, dominância e controle de corpos femininos, como deveriam agir e se portar em uma sociedade “polida”.
Todos os homens que passam pela trama representam algum tipo de opressão do patriarcado sobre as mulheres. Godwin representa o desejo paternal de inocência e resguardo, Max na primeira metade do filme representa a repressão institucional e social pela necessidade do matrimônio, Duncan representa a repressão sexual, o mesmo se diz um homem livre e sem amarras, porém ao perceber que a mulher ao seu lado também possui esse traço em sua personalidade, se frustra por não conseguir manipular as emoções e sentimentos de Bella para com ele.
A fotografia do longa é impecável. O diretor de fotografia Robby Ryan faz uso de lentes olho de peixe e grandes angulares que ajudam a dar o tom de estranheza do projeto.
A direção de arte traz elementos da era vitoriana e detalhes regionais por todas as cidades que Bella atravessa em sua jornada de autodescoberta.
As coomposições, principalmente de Emma Stone (que foi considerada a melhor atriz da temporada de premiações, tanto por BAFTA tanto pelo Oscar) são riquissíssimas e cheias de detalhes. Emma consegue trazer nuances a cada cena ao representar com gestos e fisicalidade a evolução mental da personagem.
Aqui em Pobres Criaturas, o lúdico e o real se misturam para contar uma história de libertação, autodescoberta e descoberta do mundo ao redor. O imaginário e real por trás da beleza dos planos e pela direção de arte em perfeita sintonia com o tom do projeto, nos ajudam a mergulhar de cabeça na trama que nos faz refletir sobre o mundo que vivemos e sobre como vivemos.
O ser humano é estranho e impõe regras a si e aos seus semelhantes, pouco importando seus anseios e vivência. Pobres Criaturas é um filme que nos leva a questionar como tratamos os outros e como o mundo exerce poder sobre o nosso comportamento e as nossas vontades.
O filme é impactante não só pelas senas de nudez e sexo, mas também pelo universo criado. É uma história que não acaba nas cerca de duas horas que o filme te reserva, após assistir você talvez se questione assim como eu – Por que o mundo é assim? Por que eu não posso ser como quero? A forma com que eu vivo diz somente sobre mim?
Pobres Criaturas é um ótimo filme e que vale o seu tempo e sua reflexão.