Crítica | O Rei – Chalamet impressiona, já o filme…

Rei
The King - TimothŽe Chalamet - Photo Credit: Netflix

O Rei é a mais nova produção que a Netflix lança de olho no Oscar, mas nem mesmo as fortes atuações de Timothée Chalamet e Joel Edgerton conseguem elevar esse filme do tédio casual.

Antes do Filme

A história de Henrique V, Rei da Inglaterra que derrotou os franceses na batalha de Azincourt, já foi contada diversas vezes, mais famosamente na peça homônima de Shakespeare. E a nova produção da Netflix, “O Rei”, estrelada por Timothée Chalamet e Joel Edgerton, é mais uma obra destinada a contar a história do rei que quase anexou a França à Inglaterra.

“O Rei” acompanha a história do jovem Hal (Timothée Chalamet, “Me Chame Pelo Seu Nome”), que se tornaria o rei Henrique V, da sua época de jovem beberrão e rebelde até sua transformação em um rei determinado e confiante em seus planos. É claro que o filme não está tão preocupado com uma exatidão histórica quanto a contar uma trama com intrigas palacianas, guerras e trazer uma discussão sobre como o poder pode corromper até as melhores intenções. Infelizmente, o filme não alcança voos tão altos como os que se propõe.

Trama e Roteiro

O filme é construído por uma abordagem dramática bem carregada, destacada pela paleta de cores sombrias de Adam Arkapaw (que tem experiência no tema, com trabalhos em “True Detective” e “Macbeth”) e pelo roteiro repleto de temas como família, poder e traição, cunhado por Joel Edgerton (que também atua e produz o filme) e pelo também diretor David Michôd, que é acostumado com produções da Netflix, visto que já dirigiu “Máquina de Guerra” para a companhia.

Todo o desenvolvimento da trama política que se dá após a morte de Henrique IV (pai de Hal, interpretado por Ben Mendelsohn) acaba sendo muito apressado, e o desenvolvimento dos personagens (quem são, o que querem e o que os motiva) é deixado de lado para muitas cenas expositivas desenvolvendo uma trama palaciana, como em tantos outros filmes de época. É curioso que uma das minhas maiores críticas a Netflix é o de tempo de duração excessivo de suas séries, mas esse é um filme que podia ser perfeitamente uma série, especialmente levando em conta que personagens teoricamente importantes, como Sir William (Sean Harris) e o Duque de Cambridge (Edward Ashley), entre outros, têm pouco desenvolvimento além de cenas expositivas que mais avançam a trama do que desenvolvem os personagens.

Esse problema acontece menos com os personagens de Chalamet e Edgerton, que interpreta Sir John Falstaff, um antigo cavaleiro que hoje está mais interessado em levantar uma caneca de cerveja do que uma espada. Ambos têm muitas cenas para estabelecer seus personagens, vemos os traumas da guerra que John busca afogar com a bebida e relação conflituosa com o pai que mantém Hal longe da corte. Mas o que acontece com o longa é que ele tem uma dificuldade em acompanhar essas cenas durante o filme, então as mudanças dos personagens de um ato para outro acabam bruscas demais.

Outro ponto bagunçado de “O Rei” é seu ritmo, se no primeiro e segundo ato ele parece ser mais um drama politico ou um estudo de personagem, o seu terceiro ato chega a parecer outro filme, quase uma aventura medieval, em uma sequência com a batalha de Azincourt, em que seis mil ingleses derrotaram mais de trinta mil franceses graças a seus arqueiros. Essa mudança constante de ritmo acaba por deixar o filme bem arrastado, sem mencionar que há três momentos diferentes da produção que você pode jurar que ela vai se encerrar.

Personagens e Atuações

Por mais que o roteiro tenha seus problemas no desenvolvimento de personagens, a interpretação de Chalamet consegue trazer tanto uma gentileza interior quanto uma rudeza exterior para o personagem, mas o filme nunca desenvolve de maneira clara o que muda internamente no personagem para entendermos o que faz um jovem revoltado com o pai e com a hipocrisia da guerra e que recusa a ser rei a não só VIRAR o rei, mas também entrar em guerra com a França. É uma interpretação forte de Chalamet em um personagem fraco.

Mais atores que fazem um bom trabalho de um roteiro mediano são Sean Harris, que consegue trazer profundidade e afeto a um personagem que, no papel, não tem nenhuma. Já o Sir John Falstaff de Edgerton é o arquétipo de um personagem “mentor” clássico, velho e um tanto ranzinza, ele tem um coração de ouro e vai auxiliar e aconselhar o protagonista quando necessário, e Edgerton cumpre esse papel com louvores, mesmo que não seja uma atuação inovadora ou surpreendente de um ator de seu naipe.

Outro ator de destaque em “O Rei” (as únicas personagens femininas da película interpretam, respectivamente: Uma irmã, uma taberneira e uma noiva) é Robert Pattinson, que faz o Delfim da França (algo como o príncipe), em uma atuação que fica no fio entre a caricatura e a sátira e que definitivamente não é ajudada por uma peruca de gosto… duvidoso, para dizer o mínimo.

Depois dos Créditos

“O Rei” é claramente uma nova tentativa da Netflix de receber glórias e indicações ao Oscar, e o filme não deixa a desejar em sua parte técnica, seja na bela e efetiva fotografia ou no seu trabalho primoroso de reconstrução histórica, que fazem um trabalho impactante nas cenas da batalha de Azincourt, mas isso não impede o filme de ser arrastado por um ritmo moroso e um roteiro cheio de falhas históricas (algo importante quando cada vez mais pessoas se educam através do cinema) e de personagens construídos pela metade. Uma pena, pois desperdiça tanto boas atuações de seus atores quanto uma história extremamente instigante como a de Henrique V, o rei que esteve a um passo de anexar França e Inglaterra.

 

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5.5

NOTA

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