Nosso Sonho e Mamonas Assassinas: Duas histórias que se cruzaram na vida real

Imagem/Gizmodo-Uol

O filme Nosso Sonho retrata a carreira de Claudinho e Buchecha, dois meninos da periferia do Rio de Janeiro e que se tornam estrelas do Funk carioca de forma estrondosa. Já Mamonas Assassinas conta a história da ascensão meteórica de um grupo de garotos de Guarulhos que queriam apenas viver de música.

Claudinho e Buchecha surgiram em meio ao funk carioca com letras leves e grandes sorrisos, mas também com história de vida bastante comuns para o cenário das comunidades brasileiras. Dois jovens pretos de favela que encontram na música uma esperança para uma vida melhor, Buchecha é um jovem que trabalha com entregador de uma loja, Claudinho é vendedor de doces nas ruas do Rio de Janeiro.

Mamonas Assassinas é uma banda de rock paulistana, composta por 5 jovens moradores de Guarulhos (SP) e com diferentes classes sociais, mas todos oscilando entre a classe média brasileira. Mesmo com dificuldades, todos tinham alguma forma de sustento e apoio, seja dos pais ou pelo produtor. Buscavam realizar o sonho de terem uma banda de rock nacionalmente famosa.

Ambos iniciaram as carreiras no mesmo momento, entre 1990 e 1992, Mamonas Assassinas conquistaram o Brasil em 8 meses e o sucesso foi interrompido pelo trágico acidente de avião na serra da Cantareira em janeiro de 1996. Já Claudinho e Buchecha tiveram mais tempo, conquistaram não só o Brasil, mas também o mundo e permaneceram sendo grande sucesso até 2002 com o precoce falecimento de Claudinho em um acidente de carro após um show. Buchecha segue firme sendo um dos maiores nomes do funk brasileiro até os dias de hoje.

As histórias são bem parecidas, certo? No ano de 2023 tivemos o lançamento de dois filmes. Nosso sonho, que contra a história de vida de trajetória da dupla Claudinho e Buchecha. Mamonas Assassinas contra a trajetória da banda desde a entrada de Dinho na Utopia (nome inicial da banda).

O filme Nosso Sonho traz um roteiro impecável, emotivo e bem próximo da realidade, boas atuações e representações da época que a história se passa como figurino e os cenários cariocas. Já Mamonas Assassinas tem um roteiro fraco e com atuações questionáveis. Compreende-se que grande parte do elenco do filme não eram atores e acredita-se que um roteiro mais redondo teria fornecido melhor qualidade para os atores recém-formados. Os diálogos eram simples e os cortes passaram pouca emoção em relação ao que a banda representava para os fãs.

Assistindo a ambos os filmes é possível lembrar de toda a história e questionar algumas questões da época. Primeiro, crianças de 5 ou 6 anos ganhando fitas cacetes dos Mamonas Assassinas e os meninos aparecendo em programas de domingo a tarde. Já Claudinho e Buchecha possuíam letras leves, porém o rotulo de funk bloqueava o acesso a determinadas idades.

Quando Mamonas Assassinas sofrem o acidente, todo ano na mesma data uma determinada emissora fazia uma enorme homenagem, isso durou por 10 anos. Mas quando Claudinho faleceu, existiu uma grande comoção da mídia e dos fãs, mas não com o mesmo apelo. Sabemos que existem mais questões nesse contexto, afinal a banda inteira do Mamonas Assassinas faleceu. Já no caso da dupla, Buchecha lidou com o luto de perder o melhor amigo. Mas não vale questionar os diferentes tratamentos e pensar se hoje aceitaríamos isso?

A autora que aqui escreve tinha 5 anos quando os Mamonas Assassinas faleceram e 10 quando o Claudinho faleceu. Todas as minhas recordações do Mamonas Assassinas são dos memoriais que aconteciam todo ano no mesmo programa de domingo a tarde. Já minha memória sobre a perda do Claudinho, mesmo eu sendo maior se resume a algumas notícias nos dias seguintes ao acidente e agora ao filme. Como uma criança criada em uma comunidade do Estado do Rio de Janeiro, não da cidade, e hoje uma adulta com determinados acessos fiquei realmente pensativa sobre essas questões.

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