Antes
No ano de 2019 Karim Aïnouz viaja pela primeira vez para a Argélia, para conhecer o país onde seu pai nasceu, quando chega encontra um contexto político conturbado, com a população indo as ruas para protestar contra o presidente Abdelaziz Bouteflika, que estava há 20 anos no comando do país, filiado a Frente de Libertação Nacional, partido que se perpetuou no poder desde a independência da Argélia em 1964. É sobre esse contexto em que o cineasta encontra que é produzido o documentário Nardjes A..
Durante
No documentário Nardjes A. a jovem militante que empresta seu nome a produção é acompanhada pela cidade de Argel, capital da Argélia. A jovem narra detalhes sobre o momento político-social da Argélia, sua rotina durante os dias de protestos e como os manifestantes se organizavam durante os atos. Além disso, Nardjes correlaciona o momento histórico atual com a revolução argelina ocorrida entre 1954 e 1962, em que seus pais participaram ativamente como militantes.
O documentário começa em um ritmo um tanto monótono, se preocupando em primeiro apresentar Nardjes e sua rotina em dias de protestos, mas com o desenrolar do roteiro a história vai ficando cada vez mais interessante com as imagens dos protestos, com a abordagem de aspectos históricos e geopolíticos, como as correlações feitas com a revolução argelina, que tornou o país independente da França. Outro ponto que chama atenção é ênfase dada ao protagonismo da juventude nesse processo e a importância da organização popular para pautas coletivas. É preciso deixar registrado também a citação ao livro Os condenados da Terra, de Frantz Fanon, um importante intelectual que participou intensamente da luta anticolonial na Argélia e em outros países do continente africano, que traz suas análises nesta obra.
Nardjes A. traz imagens bastante emocionantes e inspiradoras de dentro dos protestos, que hora ou outra, faz com que o espectador consiga sentir, em certa medida, imerso naquele ambiente. Outra coisa que vale a pena destacar é a trilha sonora com músicas que combinavam perfeitamente com aquela atmosfera revolucionária que estava sendo construída.
Essa produção pode ser classificada no melhor dos sentidos como inspiradora, preocupada em colocar uma mulher ativista como humana, e como uma pessoa que como qualquer outra precisa trabalhar, estar com os amigos e família, ter momentos de lazer, e além disso, demonstra insegurança e medo, mas que acredita que a construção de uma outra sociedade é possível e vale a pena lutar por isso.
Depois
O documentário estreia nos cinemas nacionais no próximo dia 28 de setembro, juntamente com o documentário Marinheiro das Montanhas também feito por Karim Aïnouz nessa mesma viagem.