Antes do filme
O Festival do Rio 2023 contou com a ilustre estreia do curta metragem nacional “THUË PIHI KUUWI – Uma Mulher Pensando”, dirigido por Aida Harika Yanomami, Edmar Tokorino Yanomami e Roseane Yariana Yanomami, e produzido da Aruac Filmes, por Eryk Rocha e Gabriela Carneiro da Cunha. A obra apresenta uma jovem mulher indígena Yanomami, que narra seu olhar e seus pensamentos enquanto observa o xamã de sua aldeia preparar o Yakõana, um pó alucinógeno utilizado em rituais xamânicos.
Durante o filme
O curta inicia com os agradecimentos de lideranças Yanomami ao público não-índigena por estarem assistindo e prestigiando a produção, ressaltando a importância de buscarmos um olhar mais consciente e atento às condições sociais, culturais e políticas nas quais os povos originários brasileiros se encontram, em especial o povo em questão.
O olhar curioso e atento da mulher Yanomami durante a preparação do Yakõana, assim como suas indagações acerca do poder espiritual da planta e do ritual a ser realizado, é um verdadeiro convite ao telespectador para se aproximar dessa cultura. Da mesma forma, a narrativa construída ao longo dos nove minutos foi capaz de captar a atenção do público, deixando o famoso “gostinho de quero mais”. Curiosidade, reflexão e imaginação são as palavras que mais se aproximam dos sentimentos que emergiram durante a sessão.
Talvez o estranhamento também tenha feito parte dessa experiência, uma vez que a obra rompe com as expectativas conclusivas acerca do fazer xamânico apresentado. “THUË PIHI KUUWI – Uma Mulher Pensando” apresenta um recorte uma das práticas Yanomami, a partir de um olhar que levanta muito mais questionamentos do que certezas, quase como o olhar de uma criança que conhece algo pela primeira vez, o que, eu arrisco dizer, que poderia ser as reflexões de nós, não-indígenas, estrangeiros e alheios à cultura Yanomami.
Diferentemente do que vivenciamos nas sociedades urbanas, que possuem a temporalidade e os espaços marcados por um ritmo de produção veloz e devorador de subjetividades, a obra reafirma a existência de outras percepções e formas de conhecer, experienciar e aprender com os ancestrais. Trata-se de um olhar cuidadoso, atento aos detalhes e instigante.
Após o filme
Que o Festival do Rio 2023 é um dos maiores festivais de cinema da América do Sul a gente já sabe, não é mesmo? Sendo assim, “THUË PIHI KUUWI – Uma Mulher Pensando” marca a importância dos Yanomami estarem ocupando espaço no audiovisual e em um evento de grande porte como este.
Ressalto que senti falta da presença de lideranças Yanomami no dia da estreia do curta. Alguns filmes contaram com o elenco no festival, seja na abertura da sessão (com agradecimentos e considerações especiais) ou após, para entrevistas e cobertura jornalística. Acredito que a experiência teria sido ainda mais enriquecedora.
Convidada: Giovana Vieira Barge