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Uma série cheia de representatividade e lições para o dia a dia.

Antes

Um maluco no pedaço (The Fresh Prince of Bel-Air) é uma sitcom estrelada por Will Smith, que inclusive empresta seu nome ao personagem principal, que marcou a geração nascida nos anos 1990 e acompanhava as séries que passavam na TV aberta brasileira. Neste ano, 2022, estreou um reboot da série no Star+ chamado Bel-Air que se trata de uma versão dramática trazendo uma outra perspectiva para história e reconfigurando de forma significativa alguns personagens.

Durante

Bel-Air definitivamente não é Um maluco no pedaço e talvez esse seja o maior acerto da série. Embora o enredo de ambas gire em torno da história de Will Smith (Jabari Banks), um jovem da Filadelfia que acaba arrumando confusão com o chefe de uma gang e acaba indo morar com seus tios, Vivian (Cassanda Freeman) e Phillip Banks (Adrian Holmes), seus primos Hilary (Coco Jones), Carlton (Olly Sholotan) e Ashley (Akira Akbar) em Bel-Air, um bairro nobre da cidade de Los-Angeles (USA), a forma como cada uma das produções aborda esse enredo é completamente diferente.

 Enquanto a série original, criada nos anos 1990, aborda de forma cômica a história de Will (Will Smith), conseguindo trazer elementos dramáticos em alguns episódios e abordando problemas como racismo e desigualdade de gênero, Bel-Air traz um tom dramático e mostra de forma escancarada e ao mesmo tempo sensível e emocionante como o racismo atinge pessoas negras, independentemente de sua classe social e gênero.

Bel-Air consegue discutir temas relevantes e atuais como relações familiares, racismo, exposição excessiva da juventude nas redes sociais, uso de drogas, saúde mental, gênero e sexualidade, política e desigualdades sociais, tendo sempre como foco como essas questões atingem pessoas pretas.

É interessante notar como alguns personagens foram reconstruídos, nesse sentido, poderia destacar a Hilary (Coco Jones), que de uma patricinha fútil, que tem sua beleza como principal atributo, passa a ser uma jovem cheia de personalidade com consciência racial e que, embora seja pressionada a todo momento a passar por um processo de embranquecimento e negar suas origens para ter sucesso na carreira, procura manter seus princípios, mesmo que em alguns momentos fique tentada a ceder. Outro personagem que merece destaque é o Carlton (Olly Sholotan), que embora ainda continue sendo um playboy, que por necessidade de aprovação, diferente da Hilary (Coco Jones), aceite se submeter a esse processo de branqueamento que o torna um negro socialmente aceitável no meio onde vive, rodeado por pessoas majoritariamente brancas, o que faz com que ele tenha problemas como ansiedade.

Mas o que o personagem principal traz de relevante para o enredo? Bem, esse novo Will Smith (Jabari Banks) traz uma versão mais realista do que um jovem negro que cresce sem pai na periferia pode ser de fato, um garoto que tem questões a serem resolvidas, mas que tem um potencial enorme e que quando tem apoio necessário pode se melhorar e ao mesmo tempo melhorar o mundo a sua volta e mostrando em vários momentos a realidade a família Banks de suas origens e sobre o mundo em que vivem. Will Smith (Jabari Banks) faz questão de mostrar que deixar a negritude de lado para ser aceito não é a melhor opção, e que na verdade não deveria nem ser uma opção renunciar à própria identidade para se adequar a um sistema que oprime pessoas que vieram de onde você veio.

Outro personagem que sofreu grande mudança na personalidade foi Geofrey (Jimmy Akingbola) que deixa de ser o mordomo para ser o grande amigo, conselheiro e parceiro da família Banks se tornando um membro essencial para a família.

Um bônus para a séria e para a cinematografia é a aparição de Marlon Wayans que sempre faz personagens de comédia, nos surpreende com um personagem sério e dramático fazendo que desejemos mais personagens assim em sua carreira.

Depois

A verdade é que a serie apresenta um nível de complexidade que a torna impossível de ser apresentada em poucas linhas, mas é possível afirmar que se você for negro em algum momento vai se identificar e se emocionar com Bel-air, e se você não for negro, mas estiver disposto a olhar com atenção e entender a mensagem que a série quer passar, você vai ser capaz de olhar com maior empatia para as questões que não te atingem diretamente, mas que atingem pessoas que estão ao seu redor todos os dias.

Autor Convidado: Andre de Sá, Jovem negro da periferia carioca, geek, professor e psicomotricista. Apaixonado pelo movimento hip-hop, pensamento decolonial, Neurociências e Educação.

Editado e Revisado por: Thayane Rodrigues

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10

NOTA

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