Crítica | Socorro, Virei Uma Garota! – Comédia adolescente não deixa a peteca cair

As piadas juvenis do filme arrancam risadas a todo tempo e propõe uma reflexão interessante através do protagonista

Antes do Filme 

Uma comédia adolescente costuma ser previsível e amena, com um plot-twist corriqueiro, e o que mais brilha são as atuações. Não é diferente com Socorro, Virei Uma Garota!, o filme nacional que estreia nessa quinta-feira (22). Ainda assim, o longa consegue trabalhar a temática de troca de gêneros de forma hilariante e renovar esse tipo de assunto na comédia a sua própria maneira. Vale destacar a comicidade singular da atriz protagonista Thati Lopes, além do elenco que sustenta o tom e ritmo do gênero.

 

Sinopse

Júlio (Victor Lamoglia) é um adolescente nerd, virgem e não faz muito sucesso com as garotas. Ele é apaixonado por Melina (Manu Gavassi), uma das meninas mais populares da escola, que não dá bola pra ele. Certo dia, em uma viagem da escola, ele é ridicularizado na frente dos colegas de turma após enfrentar o ex-namorado “babacão” da moça. Arrasado, ele faz um pedido para uma estrela cadente: se tornar a pessoa mais popular da escola. No dia seguinte, ele acorda como Júlia (Thati Lopes), sua versão feminina, que é o contrário de tudo que ele era na vida – desejada, visível e popular – Ele se depara com diversas situações e aprendizados ao longo da experiência vivendo como uma garota, incluindo conquistar o coração de Melina, que nessa realidade é a melhor amiga de Júlia.

 

Personagens, atuações e narrativa

A história de Socorro, Virei Uma Garota! se desenvolve em uma trama pouco surpreendente, mas ainda assim consegue entreter bastante e manter o espectador atento. Embora a linearidade da história não proporcione um roteiro arrebatador, a dinâmica entre os personagens e as situações que o protagonista (ou a protagonista) passam renovam a todo tempo o interesse na tela. As atuações são parte importante para esse entrosamento fluido dos personagens. Thati e Victor, os atores protagonistas, desenvolvem Júlio e Júlia com maestria como uma só pessoa. Os atores coadjuvantes também têm um desempenho hilário e interessante – destaque para o melhor amigo de Júlio, o Cabeça (Leo Bahia), o pai de Júlio (Nelson Freitas) e o irmão de Júlio (Kayky Brito), cômicos nas alternâncias das “realidades” e devidos bordões. O humor construído no filme é sem dúvida o ponto mais alto. A comédia cumpre seu papel e arranca risos da plateia a todo tempo, mantendo a atmosfera e o ritmo constante no bom humor – por exemplo a cena de Júlia curtindo e fazendo caretas com as amigas ao som de “I kissed the girl”, ela e Cabeça brincando sobre “pegar no peitinho”, entre outros – As piadas são bastante juvenis e abobalhadas, mas combinam com a proposta do filme adolescente. 

Uma camada interessante que o longa-metragem oferece é a diferenciação entre os mundos de Júlio e Júlia. Não só os dois personagens se alternam, mas Júlio conhece toda uma vida que seria diferente caso ele fosse uma mulher. Não só os amigos se comportam de maneira diferente, já que ele vira a menina mais popular da escola, mas também seus familiares vivem vidas completamente diferentes. Dessa forma, a narrativa cria terreno para que o personagem passe por um arco interessante no qual ele mesmo se coloca em oposição do que tanto quis e criticou, diante das “perdas e ganhos” – o que ele se torna quando vira o que mais detestava?

Além disso, ao se deparar com uma vida completamente nova, Júlio passa por altos e baixos na adaptação ao novo universo. Em muitos momentos, o filme retrata a realidade de Júlia muito mais fácil e agradável que a sua vida anterior. Na perspectiva do personagem, faz sentido, pois ela tem coisas que ele nunca teve ou teria. No entanto, é uma forma perigosa de se lidar com a mudança de sexo, pois não se trata de um consenso geral como é mais “fácil” ser mulher. Em compensação, há cenas que ele se desespera com situações ironicamente colocadas sobre as “desvantagens” de ser uma garota. O filme é bastante satírico e ironiza bastante a posição na qual o personagem se identifica e tira sarro da própria masculinidade, mas acaba não expondo tanto o machismo sob a perspectiva feminina. Na narrativa, é pertinente, já que Júlio é um garoto no corpo de uma garota. No entanto, sob uma visão externa, é perigoso achar que essa retratação é verossímil e a vida de toda garota seria daquele jeito. Falta profundidade no olhar feminino que ele ganha, o machismo que uma mulher está propensa a sofrer é muito leviano no que Júlia passa no filme, levando a crer que é realmente menos grave e frequente.

 

Depois dos créditos

Socorro, Virei Uma Garota! tem toda cara de uma comédia típica adolescente, mas surpreende por seu humor e alto desempenho dos atores, o que torna o filme agradável e simpático. É um filme leve, que arranca risadas a todo tempo – piadas bestas mesmo, coisa de adolescente – mas que não deixa a peteca cair e é impossível de sair sem gargalhar. 

 

Escrito por: Roberta Braz

7

NOTA

Compartilhe: