Antes do filme
O Poço, thriller da Netflix que estreou recentemente na plataforma no Brasil, já está nos Top 10 mais vistos do streaming. O longa espanhol, dirigido pelo novato Galder Gaztelu-Urrutia, é uma metáfora para questões importantes atuais, e não economiza nem um pouco para isso.
Trama e roteiro
A ambientação claustrofóbica e perturbadora do filme é uma sala cinzenta com conexões no teto e no chão, dando passagem para os outros andares do prédio, ou o poço. Trimagasi (interpretado por Zorion Eguileor), explica ao recém-chegado Goreng (Iván Massagué) como as coisas funcionam: uma plataforma com um banquete sai do nível 0 – andar mais alto – e os dois prisioneiros que estão no andar 1 comem o quanto podem deixando o resto para o nível 2, que repetem o processo e deixam para o 3, e assim sucessivamente. A plataforma para por alguns minutos em cada andar e, quando atinge o último nível, ela sobe rapidamente ao topo para ser reabastecida. A cada mês, os indivíduos acordam em níveis diferentes do prédio, logo, sabem se vão comer bem ou não. O que nos traz à pergunta: quantos andares abriga o poço?
O longa brinca com a sensação mais desesperadora da condição humana: a fome. Frente ao desespero e a desesperança, o diretor mostra o pior do comportamento humano para a sobrevivência. Até aí, é óbvio que o filme trata do capitalismo selvagem e da desigualdade social: os que estão em cima se esbanjam do bom e do melhor, enquanto que os que estão abaixo tentam sobreviver com pouco. A alegoria é importantíssima para mostrar o conflito entre os prisioneiros e como eles já internalizaram o poço como uma realidade normal e aceitável. No entanto, o filme guarda ainda mais simbologias quando o protagonista Goreng decide perturbar a ordem e levar uma mensagem para quem mantém o sistema.
Depois dos créditos
O final é aberto à interpretação do espectador. Diferente de Parasita, mas parecido com Bacurau, o diretor espanhol lança mão do horror gore, sangue e mutilação para provar sem nenhuma sutileza que a solidariedade não é espontânea. O filme é uma brilhante hipérbole da realidade capitalista do “poucos com muito e muitos com pouco” e choca pela construção da imagem da base da sociedade, que funciona às custas dos que estão no fundo do poço.