ANTES DO FILME
Com a direção Brady Corbet (Vox Lux e Melancolia), O Brutalista vencedor do prêmio de Melhor Direção no Festival de Veneza, tem 3h e 35 min de história para contar. O filme inclui um intervalo de 15 minutos, trazendo como novidade uma experiência diferenciada para o público, permitindo que as pessoas possam ir ao banheiro, comprar algo para comer ou simplesmente esticar as pernas.
O longa tem Adrien Brody (O Pianista) no personagem principal “László Tóth” que é um arquiteto visionário que foge da Europa no pós-Segunda Guerra e vai para os Estados Unidos. Além disso, conta com a participação de grandes nomes como Felicity Jones no papel de Erzsébet Tóth, esposa de László, e Guy Pearce como Harrison Lee Van Buren.
Curiosidade: a arquitetura brutalista surgiu no início do século XX e alcançou seu auge entre as décadas de 1950 e 1970, se caracterizando por uma estética ousada e impiedosa, marcada pelo uso de concreto bruto.
DURANTE O FILME
O Brutalista começa com László Tóth (Brody), um aclamado arquiteto húngaro e judeu, migrando para os Estados Unidos durante o pós 2ª Guerra Mundial, em 1947. Ao longo da trama, László enfrenta diversas dificuldades em lares coletivos e passa a trabalhar em empregos precários. Ele é descoberto pelo magnata Harrison Lee Van Buren (Guy Pearce), que o contrata para idealizar um empreendimento ousado, uma espécie de espaço multifuncional em homenagem à sua falecida mãe, confiando nas veias artísticas e visionárias de Tóth.
Antes disso, Harrison encontra László com seu primo na biblioteca de sua casa, onde eles realizavam uma reforma encomendada por seu filho, Harry. Ele fica extremamente furioso, até de fato perceber que o arquiteto é realmente talentoso.
O filme nos faz mergulhar em uma época onde havia precariedade em diversos pontos, mas não para os ricos. Van Buren deixa bem claro que pode pagar a quantia que for para ter o que quer. O filme de Cobert nunca deixa de ser pretensioso, mas sua capacidade de rir (tipicamente às custas de Pearce) do suposto intelectualismo dos debates de Toth e Van Buren nos impede de rir do suposto intelectualismo do longa em si. Isso ocorre especialmente em sua primeira parte, que mantém um ritmo relativamente morno.
PARTE 2
Após os 15 minutos de intervalo, a segunda parte traz, anos depois um László aparentemente mais centrado e estabilizado. Então, temos à chegada de Erzsébet (Felicity Jones) na história, a esposa do Brutalista.. Então, temos a chegada de Erzsébet (Felicity Jones) à história, a esposa do Brutalista, após anos de luta para fugir dos EUA com sua sobrinha, Zsófia (Raffey Cassidy). O diretor se preocupa em enquadrar os personagens na geometria das portas e janelas ao redor deles, e nos força a considerar a arquitetura ali presente. Sua esposa chega em uma cadeira de rodas, o que o deixa chocado, mas ela acabou nessa condição devido a uma artrose causada pela fome.
László divide a dependência em opioides com um amigo negro, Gordon (Isaach De Bankolé). É Gordon quem, cumprindo os estereótipos, fornece os opioides ao arquiteto e compartilha o vício com ele.
Os fundamentos em si serão revelados pelo diretor no epílogo e estimulam, além de surpreenderem, levando em conta o posicionamento social e político do arquiteto inserido em uma sociedade que apenas o explora. Tudo é elaborado como uma reparação histórica que ele, como ex-confinado em um campo de concentração, pôde oferecer como subversão diante de todo o abuso que sofreu na América, que supostamente deveria lhe proporcionar uma vida digna. Ideal e tematicamente, é um conceito muito interessante, mas a construção de Corbet, que é bastante convencional, transforma o trunfo de seu filme em algo incapaz de gerar muitas sensações, apesar do apelo.
O momento mais chocante do filme ocorre quando Harrison comete uma violência sexual contra László. Não há sutileza num épico que utiliza o ato da construção para falar sobre nações e seus povos. É ingenuidade, mas o clímax do relacionamento entre os dois homens deixa clara as falhas do roteiro, que parecem resultar da falta de confiança de Cobert em sua capacidade de comunicar temas claríssimos. Inseguro, o diretor opta pelo choque vazio. Confesso que, para mim, ssa cena não fez tanto sentido dentro da narrativa, parecendo existir apenas por puro choque.
O filme termina com algumas conclusões para personagens e uma homenagem ao Brutalista Laszló, muitos anos após os acontecimentos. A fotografia é muito boa, mas acredito que o roteiro se perde em alguns momentos, ficando solto e, por vezes, até “infantil” em certas partes. Brody entrega uma atuação impecável, digna de Oscar. Guy Pearce está bem, mas não me agrada tanto, há momentos em que parece algo forçado demais. A direção também não é ruim, mas eu apostaria em outros elementos para compor o filme de maneira mais dura, sem precisar recorrer a “sustos” em quem está assistindo. O filme cumpre seu papel, não se tornará um clássico, mas certamente também não cairá no esquecimento tão rápido.
DEPOIS DO FILME
O Brutalista concorre em 10 categorias no Oscar, que acontece no dia 2 de março. Brody é, com certeza, o nome mais forte para levar a estatueta de Melhor Ator. Confirmando seu favoritismo, ele já venceu o Globo de Ouro na categoria “Melhor Ator em Filme de Drama” e também o BAFTA. A direção de Brady Corbet também foi premiada no “Oscar Britânico”.
O longa vem dando o que falar por conta do uso de IA para ajustar algumas partes do dialeto húngaro falado por Brody e Jones. O filme Emilia Perez também vem sofrendo com ataques por conta do uso de IA. Os diretores de ambos projetos se pronunciaram sobre o assunto.
“As performances de Adrien e Felicity são completamente deles. Eles trabalharam por meses com a treinadora de dialeto Tanera Marshall para aperfeiçoar seus sotaques”, disse Corbet em um comunicado.
Sobre o uso de IA para recriar os desenhos arquitetônicos, Corbet observou que sua designer de produção, Judy Becker, e sua equipe não utilizaram IA para renderizar nenhum dos edifícios no filme, afirmando que as imagens “foram desenhadas à mão por artistas”. É perceptível o uso da IA nas vozes dos atores em algumas partes,mas há um momento específico em que isso se torna bastante evidente se você for assistir sabendo do caso. No contrário, passa despercebido, e a impressão é de que os atores realmente dominam o dialeto húngaro em sua forma mais autêntica.
Não creio que o Brutalista seja um canditado real à disputa de Melhor Filme, mas ele está lá e pode surpreender. O longa estreia nos cinemas de todo o país no dia 20 de fevereiro.