Crítica | Mudbound – Lágrimas Sobre Mississipi

Carga dramática do filme exala forte crítica social ao racismo nos EUA pós-Segunda Guerra Mundial

Estrelado por Jason Mitchell, Carey Mulligan, Jonathan Banks e Garrett Hedlund, “Mudbound – Lágrimas Sobre Mississipi” faz jus ao seu nome, sendo um filme que de fato poderá arrancar lágrimas de quem o assistir. 

O filme começa com a história de Henry (Jason Clarke) e Laura (Carey Mulligan), após Henry adquirir uma fazenda no interior do Mississipi. Henry é irmão de Jamie (Garrett Hedlund), seu irmão piloto que possui uma química muito forte com Laura, e filho de Pappy (Jonathan Banks), um homem preconceituoso e agressivo que constantemente critica os filhos. Desde pequeno, Henry sempre possuiu o desejo de ser dono de uma fazenda, e consegue comprar um terreno pela bagatela de $100.

Chegando ao local, Henry descobre que foi passado para trás, e acaba indo morar nos fundos do local, onde mora uma família de negros trabalhadores, a família Jackson. A família Jackson é formada por Hap (Rob Morgan), Florence (Mary J. Blige), Ronsel (Jason Mitchell) e Lilly May (Kennedy Derosin). 

Logo de cara, Pappy já demonstra sua insatisfação ao viver nas mesmas condições que uma família de negros, proferindo constantemente comentários racistas e debochando da família Jackson. Jonathan Banks consegue entrar em seu papel majestosamente, fazendo com que o telespectador se sinta desconfortável e com raiva de seu personagem. O personagem também tem papel fundamental na trama, sendo a principal chave do filme para demonstrar e criticar os atos de preconceitos raciais.

Enquanto isso, Jaime e Ronsel são escalados para ir até a Europa lutar na Segunda Guerra Mundial nas tropas norte-americanas, passando cerca de 5 anos fora do país. Durante todo esse período, o filme consegue demonstrar muito bem as diferenças sociais de como Ronsel é tratado na Europa e como sua família é tratada no Mississipi, e quando Ronsel retorna para casa, o longa-metragem reforça a crítica.

Ao retornarem para casa, Jaime e Ronsel não se sentem verdadeiramente em seu lar, e acabam criando um laço de amizade por conta deste sentimento. Durante o desenvolvimento da relação entre os dois personagens, o filme consegue abordar temas já vistos antes no cinema, como o psicológico dos soldados após uma guerra, porém de forma suave e que se encaixa muito bem na trama. Jaime ao retornar, acaba cedendo ao alcoolismo, e Ronsel se sente preso a família e com saudades de uma mulher que conheceu em um vilarejo na Europa, e com quem descobre que posteriormente teve um filho.

Garrett Hedlund e Jason Mitchell também conseguem se manter muito firmes em seus personagens. Garrett consegue equilibrar muito bem entre fazer o rapaz charmoso no início da trama e o ex-soldado beberrão no fim, e Jason apresenta com maestria olhares de confusão sobre seu futuro e objetivos, passando um sentimento claustrofóbico sempre que está na fazenda de sua família. 

O filme foi indicado ao Oscar 2018 na categoria de Melhor Roteiro Adaptado com a excelente direção e roteiro de Dee Rees e Virgil Williams, respectivamente. A diretora consegue equilibrar muito bem o filme e o mantém em um tom dramático e faz com que o telespectador se apegue pelos personagens ali presentes, com cenas um tanto quanto pesadas e gráficas, e o roteiro é bem amarrado sem deixar pontas soltas. Esta combinação torna o filme uma experiência bem forte, podendo causar um certo desconforto em algumas cenas por conta de sua violência, sendo ela com comentários absurdos ou atos físicos.

O filme também foi indicado ao Oscar na categoria de Melhor Fotografia, fotografia esta dirigida por Rachel Morrison. Vale citar que ela é primeira mulher indicada ao prêmio da Academia nessa categoria. A fotografia do filme aposta muito no escuro e no azul, e sempre destacando um elemento muito constante no filme – a lama. Tal aspecto consegue trazer uma sujeira aos personagens, fazendo um paralelo com suas personalidades.

Por fim, “Mudbound – Lágrimas Sobre Mississipi” consegue abordar muito bem a questão do preconceito racial, com uma história emocionante e tocante, merecendo as indicações da Academia.

Indicações: Para os cinéfilos que se divertem com filmes sobre questões raciais e com âmbito rural, recomenda-se “12 Anos de Escravidão” e “O Nascimento de Uma Nação”.

9

NOTA

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