ANTES DO FILME
Quando lançou Minecraft em 2009, o programador e desenvolvedor Markus Persson — mais conhecido como “Notch” — dificilmente imaginaria as proporções que sua criação atingiria. Fundador da Mojang, estúdio adquirido pela Microsoft em 2014 por US$ 2,5 bilhões, ele acabou se afastando do jogo após a venda. De longe, viu sua obra conquistar o mundo, infiltrar-se na cultura pop e se tornar o jogo mais vendido da história, com mais de 300 milhões de cópias até hoje.
Quatorze anos depois do lançamento do jogo — e após um desenvolvimento cinematográfico liderado pela Warner Bros. desde 2014 —, Minecraft: O Filme chegou aos cinemas brasileiros em 3 de abril de 2024.
Dirigido por Jared Hess, o longa-metragem conta com as estrelas Jack Black e Jason Momoa no elenco. Completam o time principal Emma Myers, Danielle Brooks e Sebastian Eugene Hansen.
DURANTE O FILME
Steve invade uma mina e encontra dois artefatos poderosos: a Orbe da Dominância e o Cristal da Terra. Com eles, ele abre um portal para o Overworld, o mundo de blocos que conhecemos no jogo de Minecraft, lá ele constrói seu próprio paraíso. Mas ao explorar o Nether, submundo desse novo mundo ele é capturado por Malgosha, uma piglin obcecada em destruir a criatividade e dominar o Overworld. Antes de ser pego, Steve manda seu fiel cachorro, Dennis, esconder os artefatos no mundo real.
A aventura começa de verdade quando Garrett, um ex-campeão de videogames e dono de uma loja de jogos, acaba encontrando os objetos ao mexer nos pertences de Steve. Enquanto isso, os irmãos Henry e Natalie se mudam para Chuglass, onde conhecem Dawn, uma corretora que sonha em ter um zoológico. Quando Henry ativa sem querer os artefatos, um portal se abre, jogando todo mundo no Overworld. Lá eles conhecem Steve e juntos irão lutar para defender o Overworld da rainha piglin.
DEPOIS DO FILME
Você já deve ter lido ou ouvido pela Internet que existem algumas séries e filmes feitos para assistir “com o cérebro desligado”. Normalmente, essa definição é usada para defender produções infantis ou com mensagens mais despretensiosas. Nunca entendi muito bem esse conceito, já que, ao desligar o cérebro, todos nós sabemos o que acontece com um ser humano.
Acontece que esse tipo de discurso se encaixa muito bem em um longa como Minecraft, já que seu estilo narrativo é típico de comédia abobalhada para crianças. Não estou dizendo que toda produção infantil precise ter substância, subtextos complexos ou qualquer elemento que remeta a uma pseudo-intelectualidade. Afinal, com sua classificação indicativa recomendada para maiores de dez anos, era esperado que o filme não fosse além do óbvio para desenvolver sua trama.
Isso, por si só, não é um problema, e casos recentes do cinema blockbuster infantil provam isso — como é o caso de outra adaptação de games, Sonic, que fez tanto sucesso após seu lançamento em 2020 que já está caminhando para seu quarto filme — o real problema de Minecraft é que todo o filme é baseado única e exclusivamente em referências ao jogo, logo seu humor e trama não surtem efeito naqueles que não o jogaram.
Jack Black é talvez o único alívio dessa tortura em forma de filme. Carismático de rotina, os momentos em que o ator está em tela realmente são os únicos em que a trama parece respirar, já que o humor de referências não se sustenta com os outros atores em tela, em especial Jason Momoa e Sebastian Eugene Hansen que possuem o carisma de uma escada rolante. O primeiro poderia se contentar a papéis em que fala menos e é mais, como o guerreiro Khal Drogo da série Game Of Thrones, já que, até aqui, a única coisa que seu cosplay de Jhonny Depp em todos os papéis, para mim, é deveras entediante.
Se tem algo que para mim é uma verdadeira valência desse filme é a construção do mundo. O filme não perde tempo e logo nos primeiros minutos já nos coloca dentro desse universo quadrado sem muita cerimônia. As cenas iniciais em que mostram Steve interagindo com aquele universo, seu monólogo de explicação de como foi parar ali e seu contato primário com algumas dinâmicas daquele mundo são as mais interessantes de todo o filme, uma pena que não dura sequer cinco minutos.
Os visuais, paisagens e tudo que é efeito digital do filme são realmente bem bonitos e parecem ter um apego aos jogos, mas sem deixar de trazer inovação. As cores super saturadas realmente dão vida a esse mundo onde a criatividade é o que mais importa.
A direção se esforça para dar um bom ritmo as sequências, além de conseguir com muita naturalidade explorar o ridículo que algumas daquelas situações envolvem. Esse entendimento do que é o jogo e o que ele representa para seu público é um dos poucos elementos verdadeiramente legais do longa.
No mais eu talvez eu esteja sendo muito chato. Talvez as crianças adorem. Talvez eu realmente deveria ter desligado meu cérebro para ver esse filme. Mas infelizmente eu não consegui evitar de achar o filme bobo e entediante porém com algumas pérolas deixadas pelo caminho.