Antes do K-Drama
Entre 2015 e 2017 a BBC inglesa lançou a série “Doctor Foster” by Mike Bartle, divida em 2 temporadas. Que contava a história de Gemma Foster, uma médica super decidida que acreditava ter a vida perfeita tanto com sua família quanto com seu trabalho. Seu mundo caiu quando ela encontra um fio louro na roupa de seu marido e decide investigar, sua investigação leva a uma rede de traições e vinganças que nós somo incapazes de imaginar.
No início de 2020 a emissora sul coreana, JTBC, decidiu fazer um remake desta série consagrada, sob o controle do diretor Mo Wan-il que possui uma longa lista de sucessos na televisão coreana, transformando-a em um grande sucesso no universo do K-drama o que rendeu grandes prêmios no Baeksang Arts Award.
O K-Drama
Fonte: Imagem retirada de “The World of Married”
“The World of Married” traz a história de uma mulher, Su Woo(Kim Hee-ae), que vê sua vida ruir ao descobrir a traição de seu marido, Tae Oh (Park Hae-joon), com uma mulher quase 20 anos mais nova. Junto com a traição conjugal, a personagem descobre que todos os seus amigos e conhecidos sabiam do caso de seu marido, ela percebe que ninguém estava realmente a seu lado.
O desenrolar da história é excelente até o episódio 6, a partir do 7 temos todos os estereótipos sociais em relação a mulheres divorciadas e a ausência deles quando a amante se torna oficial. Essa mudança de enfoque na história é importante para apresentar os novos eventos e até temas tratados na história e com isso somos capazes de separar a trama em duas partes.
A segunda fase do drama vemos Su Woo ser crucificada por algo que não fez e torcemos o tempo todo para que isso mude. Além disso, temos o filho da médica e seu ex marido, Lee Joon-young, o qual ela decide dedicar a vida, cujo personagem foi mal interpretado diversas vezes.
Inicialmente, temos a impressão de que ele é apenas um adolescente rebelde que não vê o amor e dedicação de sua mãe, porém ao olharmos a fundo as relações familiares dentro do drama, vemos um adolescente negligenciado pela família e com constante inserção em questões adultas que fogem ao seu controle. Mesmo Su Woo sendo uma mãe dedicada, em diversos momentos ela acaba colocando sua confusão com Tae Oh acima de seu filho.
A personagem principal passa ser a louca que persegue o ex-marido e mesmo que nós espectadores saibamos a verdade, ficamos o tempo inteiro ansiosos para que os personagens também saibam. E esse estereótipos é marcado pelo fato de que o Tae Oh casou com sua amante e “seguiu” em frente, porém Su Woo o fato dela ter escolhido viver por seu filho,Lee Joon-young (Jeon Jin-seo) faz com que ela seja vista socialmente como alguém que nunca superou o ex-marido. Até porque eles ainda precisam manter contato, visto que eles possuem um filho juntos.
Da Kyang (Han So-hee) é aquela personagem feita para ser odiada, afinal ela é o pivô da separação do casal e a destruição de uma família. No decorrer da história vemos a personagem amadurecer e entender que sua ideia de felicidade era extremamente limitada. Sua personagem acreditava que o amor supera qualquer coisa, inclusive um casamento de 17 anos, porém a realidade é dura para todos. Sua personagem se torna uma mulher forte que vai lutar pela família até entender que a sua família é sua filha e todo o resto é apenas ilusão.
As questões da posição da mulher na sociedade são extremamente marcadas no drama. Ela só se torna realizada ao ter um companheiro, como já foi dito anteriormente, o fato dela não ter se casado de novo a transforma em uma mulher que continua presa ao ex- marido e não uma mulher decepcionada e que gostaria de viver sua independência tanto na carreira quanto na vida familiar. Pensamos que isso é algo apenas do drama e da série britânica, entretanto apenas precisamos ler os comentários das fãs sobre os rumos da trama e como o final foi definido. Uma mulher não é capaz de viver sozinha e feliz, vimos essas mesmas questões com o fim do drama “The Last Empress”, Oh Sunny (Jang Na-ra) termina o drama sendo mãe e solteira. Nós precisamos repensar como nos vemos na sociedade como mulheres e como transmitimos o modo como a sociedade nos vê.
Além da posição feminina, o drama traz a alienação parental em sua pior forma. Quando Sun Woo induz Tae Oh a agredi-la na frente para que seu filho veja é uma cena clássica de indução do filho a tomar partido por um dos pais. O mesmo ocorre quando Tae Oh começa a questionar a capacidade de Sun Woo de cuidar de seu filho após desestruturar toda a sua vida. Vimos, Lee Joon Young, ser completamente controlado e manipulado psicologicamente por ambos os pais. Esses ataques psicológicos foram exatamente o motivo pelo qual o personagem foi mal interpretado pelos espectadores.
A cada episódio temos uma trama nova com os personagens e vemos uma nova faceta de atuação do elenco, cada episódio um personagem de destaque e seu ator mostrando que veio para arrasar. Nossa satisfação ficou para as duas mulheres principais, Kim Hee‑ae e Han So Hee, que conseguiram demonstrar cada sentimento e situação onde a amante e a esposa trocam de papéis e interagem de forma dramática e sofrida. A cada cena de Kim Hee-ae ficamos impressionadas com o tamanho do talento dessa mulher e queremos assistir todos os seus dramas. Han So Hee, uma atriz tão nova e mostrando tanto profissionalismo, sabemos que teremos mais dramas poderosos pelo caminho.
Jin-seo fazendo o papel de um adolescente rebelde e problemático que vive a vida em meios as brigas dos pais, da segunda esposa de seu pai e sua família. O ator interpretou muito bem o papel de um jovem nesses conflitos que em alguns momentos até parecia ser real. Acreditamos que seu personagem é muito bem desenvolvido dentro da trama e sua atuação é digna do papel.
“The World of Married” nos faz repensar como a mulher é vista na televisão e na sociedade como um todo. É uma trama viciante e que te prende de maneira única tanto pela produção quanto pelo enredo e atuação do elenco.
Depois do K-Drama
Precisamos enaltecer a atuação desse elenco, especialmente Kim Hee-ae que levou o prêmio de melhor atriz na cerimônia Baeksang Arts Awards – 2020. Nós estamos acostumados com atuação de alta qualidade dos atores sul coreanos, entretanto o elenco de “The World Of Married” superou tudo que estávamos esse costume em muitos aspectos, especialmente os jovens atores. Uma trama envolvente que precisou de dedicação máxima de todo o elenco e tivemos, desde conflitos psicológicos, tentativa de suicídio, traição, vingança e tudo que temos direito.
A produção de “The world of married” foi excelente e os diretores e produtores foram capazes de trazer uma visão nova sobre a mulher divorciada, mesmo que em certos momentos vimos os clichês, as três mulheres mais sofridas e com a trama desenvolvida sobre traição e separação decidiram por seguirem sozinhas, isso foi um marco muito grande para a sociedade que conhecemos. Além disso, a trilha sonora representava os conflitos de forma intensa e sem ceder ao romantismo das trilhas sonoras comuns, isso também foi importante para que não criássemos a ilusão de um drama feliz e o que pode remeter a questão da mulher não poder ser feliz sozinha como é apresentada pela sociedade dentro da trama.
E como resultado de toda essa dedicação foram as duas estatuetas, de melhor melhor atriz e melhor diretor, que o K-drama levou na maior cerimônia de premiação da Coreia do Sul, Baeksang Arts Awards – 2020, que também é conhecido como o Globo de Ouro do país asiático.
