Crítica | Homem-Aranha: Longe de Casa – Grandes mudanças para Peter Parker

Homem-Aranha

Funcionando como um epílogo para "Vingadores: Ultimato" e como um novo começo para o Homem-Aranha, "Longe de Casa" oferece uma emocionante aventura do herói, mesmo que assombrada pelo espírito do Homem de Ferro.

Antes do Filme

Aviso, esse texto contém spoilers de “Vingadores: Ultimato”.

“Homem-Aranha: Longe de Casa” é um filme que, para o bem e para o mal, sabe o que quer: Interligar ainda mais o jovem herói com o falecido Homem de Ferro, sendo uma base para as novas aventuras do Cabeça de Teia no mundo pós Thanos, mas também funcionando como um epílogo de “Vingadores: Ultimato”. Desde que Tony Stark fez o sacrifício final em Ultimato, Peter e o mundo não são mais os mesmos e “Longe de Casa” busca lidar com esse luto e preencher o vazio deixado pelo Homem Ferro.

Um pouco sobrecarregado e traumatizado por ser um dos poucos heróis no mundo sem os Vingadores, Peter não pode esperar pela excursão que sua turma fará pela Europa, vendo isso como uma oportunidade de tirar férias do uniforme. No entanto, Nick Fury está de volta, acompanhado pelo misterioso Mysterio (perdão pelo trocadilho), interpretado por ninguém menos que Jake Gyllenhaal. Fury e Mysterio juntam forças porque o mundo corre risco iminente de destruição e, na falta dos Vingadores, cabe ao Cabeça de Teia resolver a situação.

Trama e Roteiro

O roteiro, escrito por Chris McKenna e Erik Sommers, sempre busca lidar com as consequências dos acontecimentos de “Guerra Infinita” e “Ultimato”, tendo resultados mistos. Enquanto a figura do Homem de Ferro e sua morte são exploradas de maneira efetiva, já grande parte dos efeitos do desaparecimento de metade da população do mundo há cinco anos são deixados de lado, salvo uma curta cena com a Tia May (Marisa Tomei). Outro ponto tratado pelo roteiro é como a nossa consciência coletiva, se propriamente traumatizada e sugestionada, pode ser usada contra nós sem ao menos percebermos.

O filme é dirigido novamente por Jon Watt, que faz uma direção correta, trabalhando bem com a plasticidade do Homem-Aranha em tela (e tem o orçamento para isso), mesmo que peque em cenas mais dramáticas. Ao primeiro olhar, o CG do filme pode parecer um pouco “cru”, não se camuflando 100% ao ambiente, mas isso também dá ao filme e aos espectadores um ar maior de ilusão, o que combina com todo o conceito do Mysterio. Por falar no personagem, fica aqui o destaque para as cenas em que ele usa seu já clássico jogo de ilusões. Elas são bem criativas e se aproveitam do potencial hipnótico que podem ter.

O ponto mais controverso da trama sem dúvida é o Homem de Ferro, que mesmo falecido continua influenciando as motivações de Peter e de muitos outros personagens. Por um lado, isso mostra o impacto do personagem de Robert Downey Junior, mas por outro, tira um pouco da liberdade criativa que um personagem como o Homem-Aranha poderia ter.

Personagens e Atuação

Esse é o quinto filme de Tom Holland no papel de Homem-Aranha e fica claro o quão confortável ele está com o personagem; . No entanto, fica claro o papel de Tio Ben que o Tony Stark tem para Peter. E um dos grandes arcos do filme é justamente a dificuldade do Homem de Ferro ser substituído, algo que quase todos os personagens do filme (Nick Fury, Mysterio e Peter Parker) procuram. Essa busca por substituir o Homem de Fero (ou chegar à altura dele) é uma sombra que atormenta Peter, mas que também interessa a Marvel, que claramente quer encontrar um novo personagem (e ator) com o mesmo peso do personagem interpretado por anos por Robert Downey Junior.

Essa necessidade um tanto que mercadológica de transformar o Homem-Aranha nesse novo Homem de Ferro é um tanto danosa ao personagem, porque a essência dele é diferente, muito mais contida e fácil de se identificar. Ele é o amigo da vizinhança, um cara um pouco atrapalhado, (quase) sempre sem dinheiro e que quer ajudar outras pessoas, não um grande heroi que vai embarcar em uma odisseia para salvar o mundo.

O elenco de apoio é basicamente o mesmo de “Homem-Aranha: De Volta ao Lar”, com o retorno de seus colegas Ned (Jacob Batalon), Flash Thompson (Tony Revolori), MJ (Zendaya) e do azarado professor Harrington (Martin Starr). Ned ainda é o mesmo amigo tranquilo e atrapalhado de antes, sem aparentar nenhum trauma de ter perdido cinco anos de vida em um estalo (a falta de impacto do estalar de Thanos é um tanto desconcertante), e o Flash Thompson de Revolori continua tão sem propósito quanto no primeiro filme.

Já a MJ da Zendaya… bem, fica claro que ela e Tom Holland tem uma química forte, é possível sentir a tensão nas cenas com os dois e ela é uma boa atriz. Contudo, fica claro que os roteiristas não sabem como escrever essa nova versão da MJ, que tenta ser descolada e independente, mas algumas vezes fica forçada, como se ela fosse o que dois adultos pensassem ser uma adolescente descolada, não uma adolescente descolada de verdade.

Por fim, Jon Favreau retorna como Happy Hogan e dessa vez, graças a morte de Tony, tem um papel maior na história. É ele quem agora dá conselhos para Peter e funciona como uma ligação direta com o mundo maior da MCU como, por exemplo, com Nick Fury. Ele pode não ter tanto material dramático, mas Favreau sabe trabalhar muito bem com os momentos mais cômicos.

Depois dos Créditos

“Homem-Aranha: Longe de Casa” tem seus problemas: Um primeiro ato que não engrena, um segundo ato um tanto dependente de reviravoltas e um elenco de coadjuvantes um pouco inchado (o Peter precisa de tantos colegas na viagem escolar sendo que a maioria tem uma fala?). Também há a sombra do Homem de Ferro pesando sobre Peter e sobre o filme. No entanto, isso não tira os pontos positivos do filme, como a atuação de Jake Gyllenhaal, a química entre Peter e MJ, boas cenas de ação e um terceiro ato eletrizante. Ah, e sempre bom poder rever o Samuel L. Jackson no papel de Nick Fury.

E fiquem atentos, são duas as cenas pós-créditos, cada uma com uma surpresa maior que a outra!

Corrigido por: Raquel Severini.

7

NOTA

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