Crítica | Histórias Assustadoras para Contar no Escuro – De arrepiar os cabelos

Histórias Assustadoras
SS_05759 Photo credit: George Kraychyk Austin Zajur in SCARY STORIES TO TELL IN THE DARK to be released by CBS Films and Lionsgate.

Com uma boa trama e monstros arrepiantes, "Histórias Assustadoras para Contar no Escuro" é um filme de terror adolescente que não tem medo de assustar sua audiência e pode ser uma ótima introdução para os jovens no gênero.

Antes do Filme

“Histórias podem curar, histórias podem machucar e se você repeti-las o suficiente, podem se realizar”. Com essas palavras, narradas pela nefasta voz de Tom Waits, que o “Histórias Assustadoras Para contar no Escuro” começa. A adolescência, com suas extremas inseguranças e vulnerabilidades é um período fértil para histórias, tanto aquelas que nos moldam e nos inspiram quanto aquelas que nos aterrorizam.

Produzido e roteirizado por Guillermo Del Toro e dirigido por André Øvedral (de “A Autópsia”), o filme conta a história de quatro adolescentes que se veem perseguidos por uma força sobrenatural, após entrar em uma casa assombrada no Halloween. É uma história que você já deve ter ouvido outras vezes, claro, mas o importante nas histórias é como ela são executadas.

Trama e Roteiro

O roteiro, escrito por Del Toro em conjunto com Kevin e Dan Hageman, é baseado no livro de contos de terror “Histórias Assustadoras Para contar no Escuro” de Alvin Schwartz e conta a história de Stella (Zoe Margaret Colletti), Auggie (Gabriel Rush), Chuck (Austin Zajur) e Rámon (Michael Garza). Eles são quatro adolescentes deslocados no Halloween de 1968 que começam a ser atormentados por um livro assombrado que originalmente pertencia a uma menina considerada bruxa.

A primeira coisa que tem de ser apontada no filme é o primoroso design de produção, principalmente em relação aos monstros e assombrações. Eles são todos devidamente perturbadores e grotescos, mostrando que mesmo o filme tendo baixa classificação e indicativa (PG-13 nos EUA, o equivalente de 12 anos no Brasil) ele não se acanha em criar imagens impactantes nem a colocar seus personagens em situações reais de perigo.

Um dos melhores aspectos do filme é que mesmo ele ostensivamente sendo um filme de terror voltado para um público mais jovem, adolescente, ele não tenta mitigar sustos ou assegurar o espectador que os personagens vão ficar bem. Na verdade, até o fim do longa essa tensão sobre o bem-estar dos personagens é mantida (com boas surpresas no caminho). Fica claro o “dedo” de Del Toro no longa, desde o design dos monstros, passando pela caracterização dos adolescentes (eles podem ser jovens, mas todos tem sonhos e obrigações) até o que é o tema principal do filme: A importância de ter sua história contada e ouvida, de ter uma voz ativa no mundo e na sociedade.

No entanto, o roteiro também tem seus tropeços, as vezes caindo de forma fácil em clichês já batidos do gênero, como transformar seus personagens em completos idiotas no primeiro momento que o perigo surge. Por mais que o primeiro ato seja um pouco arrastado e apresente seus personagens de maneira didática, o longa rapidamente ganha energia e ritmo a partir do seu segundo ato.

Personagens e Atuações

Todo o elenco adolescente do filme se sai bem, mas o destaque do filme sem dúvida é Zoe Margaret Colletti. A jovem atriz interpreta Stella com uma curiosidade incandescente e a transforma na personagem mais vibrante do filme. Outro destaque vai para Michael Garza, que interpreta Ramón Morales, que é o último adolescente a ser introduzido, mas que rapidamente toma um papel de destaque na trama e mostra bom carisma em cena.

Também há Auggie (Gabriel Rush) e Chuck (Austin Zajur), que interpretam dois amigos de Stella com menos destaque, mas que tem uma boa química entre eles e um bom timing para a comédia. E Nathalie Ganzhorn merecia mais aprofundamento como Ruth, a irmã de Charlie, ela tem um desenvolvimento interessante no começo da história e eventualmente é esquecida pelo longa.

No geral, as atuações são muito fortes, todo o elenco jovem se saí bem e tem uma boa química juntos, algo importante considerando que eles são os protagonistas da história. São bons atores que trabalham bem com o que têm, visto que as vezes o roteiro pode ser raso e não entra mais a fundo nas motivações dos personagens.

Depois dos Créditos

Por fim, “Histórias Assustadoras Para contar no Escuro” tem a possibilidade de ser um novo clássico do terror adolescente, com um elenco forte, atuações marcantes e monstros e situação realmente assustadoras. É um filme de terror sem vergonha do gênero e cujo diretor e produtor aproveitam cada oportunidade que tem para mostrar seu amor e conhecimento do gênero.

Também é curioso a maneira que “Histórias Assustadoras…” faz um paralelo entre os acontecimentos do filme (que se passa em 1968) com os acontecimentos da vida real, com o rádio e a televisão constantemente comentando sobre a eleição presidencial americana de 1968, que elegeu Dick Nixon como presidente, e a Guerra do Vietnã. Ao mesmo tempo em que vemos as histórias de terror assombrarem esses adolescentes, a vida real não para, mesmo com consequências tenebrosas.

Aqui fica um destaque para o final do filme, que entende perfeitamente a história que está contando. Afinal, os melhores filmes de terror são aqueles que lidam com os medos e as paranoias ocultas da sociedade, os destrincham e os expõem ao mundo. E o medo de ser esquecido, de não ter sua voz ouvida é um que atravessa gerações.

Corrigido por: Raquel Severini

Histórias Assustadoras

8.5

NOTA

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