Crítica Telecine| De perto ela não é normal

O GRITO DE LIBERDADE DA MULHER, NÃO TÃO LIBERTA ASSIM. 

Antes do filme:

Utilizando uma premissa que conversa bastante com uma realidade comum entre as mulheres no Brasil, a nova comédia do Telecine conta a história de uma mulher sobrecarregada com as responsabilidades familiares, infeliz e que, ao ver as filhas saírem de casa, decide dar seu grito de independência.

A produção já foi sucesso como peça de teatro e seu roteiro foi escrito pela própria protagonista do filme, a atriz Suzana Pires. Além dela, o elenco conta com nomes como: Marcelo Serrado, Samantha Schmütz, Henry Castelli, Gaby Amarantos, Ivete Sangalo, entre muitos outros nomes já conhecidos.

Durante o filme:

Com um marido machista, toda a responsabilidade da sogra doente nas costas e duas filhas para criar, Suzie (Suzana Pires) é o típico retrato da sobrecarga de obrigações que são impostas para as mães nas famílias. Esses é um ponto forte do filme, pois é um ponto de partida em que a personagem vai de encontro com as feridas de seu público alvo.

Depois que suas filhas saem de casa, ela acaba se decepcionando com a ingratidão do marido e da sogra. Em desilusão, a personagem sai para uma noite de música, que termina em uma noite de sexo no barco de um estranho (Ricardo Pereira). Suzie, então, se dá conta do tamanho de sua insatisfação e de que ponto seu casamento havia chegado. Após pedir o divórcio, ela aproveita o melhor que sua liberdade pode lhe proporcionar.

Até então, o filme estava indo bem. Porém, ao decidir abordar temas sérios, o filme peca ao tratá-los de forma leviana, o que aconteceu mais de uma vez. Ainda que seja uma comédia, esperamos que a personagem evolua, entenda que não precisa de um homem para ser feliz, nem de um padrão estético para ser bonita, mas é exatamente o oposto que acontece. E isso nem é o pior. Vemos a banalização descarada do uso de remédios para emagrecimento, o que é um gatilho para muitas pessoas tendo em vista que, ainda com percalços, eles funcionam para Suzie.

Muitas questões relevantes são tratadas no filme, mas abordadas de forma bem superficial e com certo descaso. A comédia, que devia ser o ponto auge, também deixa a desejar. Incomoda bastante a forma caricata de alguns personagens, sotaques criados, vozes que causam estranheza e novamente, superficialidade. Salvo a exceção de Marcelo Serrado, que consegue transmitir exatamente o que o personagem pede e é impecável em sua atuação e Suzana Pires, que, apesar de pecar no exagero algumas vezes, convence bem com os personagens que interpreta no filme. A participação de Heloísa Périssé também é ótima e super divertida, ela não erra mão em nenhum aspecto da atuação.

O desfecho do filme é bacana, só que um pouco corrido. Apesar de ficar em aberto, temos uma vaga noção de como a personagem termina, pois um novo homem aparece no caminho dela. Dá impressão de que ela não poderia terminar bem sem o indício de um novo romance, o que se mostra bem problemático diante da proposta da adaptação.

Após o filme:

É compreensível que por se tratar de uma comédia, é preciso preterir certos aspectos como a verossimilhança para que a criatividade do filme não seja abalada. As cenas mais “absurdas” e sem muito sentido são as mais divertidas do filme, porém o ator precisa trazer verdade para quem está assistindo. A personagem da Suzie segurou bem essa parte, mas foi um problema recorrente e que incomodou bastante.

Ainda assim, o filme poderia ser bem melhor se não causasse mal estar por fazer pouco caso de assuntos sérios e tão debatidos atualmente. Apesar da forma velada, existe a expectativa do momento em que Suzie encontre um homem e se realize. O filme é sobre descoberta feminina, mas no final, tudo acaba sendo sobre homens. São eles que tiram a personagem do eixo, para o bem ou para o mal.

5

NOTA

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