Crítica | Carcereiros – O Filme – Longa nacional é pouco crível e prejudica narrativa

Filme peca pelo excesso de ações e resulta em uma obra pouco envolvente com o espectador

Antes do Filme 

O homônimo filme da conhecida série Carcereiros, inspirado no livro de Dráuzio Varella, estreia nesta quinta-feira (28). Dirigido por João Eduardo Belmonte, o longa conta com o mesmo protagonista da série, Adriano (Rodrigo Lombardi), em uma trama inédita.

Sinopse

A chegada de um terrorista estrangeiro (Kaysar Dadour) causa um reboliço no presídio em que o carcereiro Adriano (Rodrigo Lombardi) trabalha. Nessa noite, ele fica encarregado de manter a ordem na presença do criminoso, que é levado para um pernoite na prisão pela Polícia Federal, antes de ser transferido ao país de origem. A chegada do gringo não agrada nada aos presos, que pretendem punir o novato por causa dos crimes que cometeu. Mais tarde, a prisão é invadida por mercenários encapuzados e armados, que vasculham a prisão em busca de um detento. Além disso, o conflito das facções torna o clima ainda mais inflamado, e Adriano tenta manter a ordem entre as rivais. 

Personagens, atuações e narrativa

O filme inicialmente faz uma breve contextualização da vida de Adriano e dos personagens que estão presentes em seu dia-a-dia. Para quem nunca viu a série, essa apresentação é muito rápida e apresenta uma enxurrada de informações, o que pode deixar passar algumas peças importantes do enredo. A montagem intercala essas imagens com a voz em off do protagonista, o que torna o ritmo frenético e até um pouco confuso do que exatamente ele está se referindo. Em contrapartida, em outros momentos, especialmente nas cenas de ação, o artifício da montagem clipada e paralela colabora para a energia e desenvolvimento dos conflitos armados. 

Adriano é um personagem que o tempo todo parece tentar ser amigável e agradar a todos. Ele exerce uma posição que precisa não só obedecer às ordens de cima, do Estado, mas manter o respeito e a ordem entre os presos, que incitam conflitos a todo tempo. No entanto, os diálogos e a forma com a qual o carcereiro trata os detentos faz parecer equivocadamente que há um diálogo horizontal, o que não é comum de ocorrer no tratamento de presos e agentes penitenciários. A atmosfera que paira é quase como um coleguismo, embora note-se que Adriano está apenas fazendo seu trabalho – ainda que dando muita “confiança” aos presos, em um ideal ético exagerado. Essa relação pouco real quebra a credibilidade das interações, o que deixa o filme mais parecendo uma sátira do que uma representação da veracidade carcerária no Brasil.

Tais elementos inverossímeis também estão presentes no roteiro, que cria situações beirando absurdos. Muitas vezes, essas ações pouco críveis são evidenciadas novamente pela montagem clipada, já que muitas situações ocorrem ao mesmo tempo e rápido demais. Esse fator torna a construção da narrativa aos poucos pautada em incoerências e superficialidades resolvidas de forma simples demais, e pouco desenvolvidas individualmente. Em suma, muitos conflitos se desenrolam ao mesmo tempo, e a história fica comprometida diante de poucas explicações e cenas desnecessárias.

Depois dos créditos

Na sombra da expectativa de sucesso alcançada pela série, o longa Carcereiros deixa a desejar. É notável a intenção de construir um plot-twist interessante e um desenvolvimento eletrizante ao longo do filme, mas erra na quantidade de informações que tenta passar, o que resulta em uma obra distante do envolvimento com o espectador.

Escrito por: Roberta Braz
Revisão: Raquel Severini

5

NOTA

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