Belfast - Imagem/Foto de Divulgação

Belfast é um amontoado de comuns, falhando no que deveria ser seu maior trunfo: a pessoalidade

ANTES DO FILME 

Belfast acompanha uma família irlandesa, navegando sobre adversidades diárias, problemas familiares e o conturbado cenário político atual da época, a partir da visão do protagonista, o jovem Buddy (Jude Hill)

O filme indicado esse ano a 7 Oscars, incluindo Melhor Filme e Melhor Diretor, recebeu destaque ao estrear no Festival de Telluride e, posteriormente, ao ganhar o prêmio principal do Festival de Toronto, conhecido como um dos maiores do mundo. Em adição a promessa de trazer uma visão estilizada, genuína e com um toque de ingenuidade das lembranças da infância do diretor, Belfast é uma carta de amor à cidade natal do diretor Kenneth Branagh, escrita pelas lentes de uma câmera cinematográfica. 

DURANTE O FILME 

Belfast se inicia com um plano aberto exibindo uma rua em um dia tranquilo; há crianças brincando, vizinhos conversando no que parece ser uma típica vizinhança irlandesa. O que se vê após essa cena, no entanto, é uma quebra dessa paz com a chegada de inúmeros vândalos. Em alguns segundos, a realidade da rua é mudada drasticamente e Belfast mostra o que pretende examinar ao longo do filme: paz e sossego; mas não tão dualística como a cena inicial deixa transparecer, mas sim como pequenos momentos de felicidade e não felicidade são vistas pelos olhos de uma criança em um período de picos e vales dentro de um contexto sócio-político turbulento. 

Se o filme sucede integralmente nesse aspecto há discordâncias, o diretor Kenneth Branagh tem uma “pegada corpulenta” na direção, ele faz questão de argumentar a origem das imagens mostradas ao espectador cena após cena. Há aqui muito charme, carinho, leveza, mas falha quando se fala na mínima visceralidade requerida, há, sim, uma certa superficialidade. Talvez essa última seja a parte que menos tem sucesso dentre as vertentes que compõem o longa; infelizmente, as cenas de violência são esparsas, desordenadas, pretensiosas e até um pouco bregas – nesse caso, o plano de fundo são eventos reais que aconteceram no país, principalmente durante as décadas de 1960 e 70 entre católicos e protestantes conhecido como The Troubles (em tradução literal. As Confusões). 

O maior trunfo do filme se dá na sua qualidade como drama familiar. Há um sério dilema pairando sobre a vida dessa família: deixar sua terra natal, família e amigos em busca de uma vida melhor em uma terra estrangeira ou continuar apesar dos pesares em um enlace familiar que parece cada dia que passa se enfraquecer mais? Essas questões mergulham diretamente sobre os dilemas da própria infância do diretor que aos nove anos se mudou com sua família para Inglaterra em busca da fuga da violência que ocorria na Irlanda devido aos The Troubles e ao desemprego que assolava o país na época – ambos temas chaves do filme. 

Como muitos dramas familiares, Belfast necessita de um elenco de suporte afiado, e aqui, há de se dizer, que é onde o filme brilha. Os pais interpretados por Jamie Dornan e Caitríona Balfe intervém como mediadores de cada ação grande do protagonista Buddy, enquanto trazem Buddy mais dilemas, ambos atores sobressaem os estereótipos atribuídos a personagens de pais trazendo autênticas performances, mas também única, há, aqui, uma certa elevação do roteiro que, às vezes, é limitado. Os indicados ao Oscar Judi Dench e Ciarán Hinds também trazem delicadeza, porém sem muita profundidade, nos papéis dos avós de Buddy. Provavelmente foram indicados por serem atores já há muito tempo na ativa, veteranos; algo que a Academia já provou muitas vezes apreciar. 

DEPOIS DO FILME 

Belfast é uma autobiografia condensada, cheia de charme, mas que é, também, escassa de fôlego. As tramas nem sempre são bem amarradas, mas todo o coração existente em um núcleo familiar unido por respeito, compaixão e o amor ao lugar de onde vêm dá ao filme o suficiente para deixar a audiência suficientemente instigada.

 A fotografia nem sempre sucede perfeitamente, com planos extremamente fechados, que podem causar incômodo, mas possui frames únicos com uma mistura interessante de cor e preto-e-branco. Por fim, o elenco é a base sólida do filme que mais carrega o roteiro do que deixar-se carregar por ele; Belfast é, por fim, uma sólida adaptação das memórias do diretor Kenneth Branagh, mas que precisava de mais alguns retoques e revisões para sobressair seu status apenas aceitável. 

6

NOTA

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