Antes do Filme
A comédia é um gênero muitas vezes, desvalorizado em relação a outras categorias cinematográficas. Vista por muitos com algo simples de se produzir e consumir. Uma percepção bastante equivocada.
Não é simples fazer uma boa comédia, com uma estrutura narrativa satisfatória e piadas que contribuam para o segmento da história ao invés de prejudicar o ritmo do filme. Não é simples criar personagens engraçados, com personalidade e que ainda tenham o mínimo de desenvolvimento durante o filme.
Assim como é difícil equilibrar o humor com uma narrativa minimamente coesa, é igualmente complicado construir boas piadas. Obviamente, há um nível de subjetividade no humor – nem todas as pessoas respondem da mesma forma à certa piada- porém, quando não é possível ouvir nenhuma risada após uma piada, a eficácia da mesma deve ser questionada.Poucos filmes conseguem conciliar boas piadas.
Trama e Roteiro
No início do filme somos apresentados a Penny Rust (Rebel Wilson), uma australiana que vive aplicando pequenos golpes em homens. Ela decide tentar a sorte em uma cidade no sul da França, onde vive Josephine Chesterfield (Anne Hathaway), uma britânica muito bem-sucedida graças aos seus golpes.
As duas se conhecem e, após uma breve rivalidade, decidem trabalhar juntas. Elas armam um esquema, no qual Josephine seduz homens ricos e os convence a se casarem com ela. Após receber uma aliança de seus pretendentes, Penny os espanta, fingindo ser a grotesca irmã de Josephine.
Tudo vai bem, e as duas vigaristas começam a forjar uma amizade. Até o momento em que Josephine se recusa a partilhar os lucros com Penny, causando uma briga entra as duas, que resulta no fim da parceria.
Elas chegam à conclusão que não há espaço para as duas na cidade, e para decidir quem deve se retirar, as moças criam uma aposta. Essa aposta consiste em enganar um jovem bilionário que está passando férias na cidade. Essa aposta consiste em enganar um jovem bilionário que está de férias na cidade e vence quem conseguir seu dinheiro primeiro..
A trama, apesar de não muito complexa, é executada de uma forma pouco competente. As idas e vindas da parceria entre as protagonistas não impacta nenhuma das personagens. Não há peso quando a parceria é desfeita pela primeira vez e, como não houve foco suficiente na amizade das duas durante o período em que trabalharam juntas, sua reconciliação no final também desperta poucas emoções. Isso torna o enredo cansativo.
Essa falha na narrativa é contrabalanceada pelas piadas do roteiro, que investindo em piadas de desconforto, como quando os pretendentes de Josephine reagem aos comportamentos grotescos de Penny, ou quando Penny vai até as últimas consequências para convencer sua vítima de que ela é realmente cega.
Além disso roteiro subverte as expectativas do público com relação a um certo personagem, resultando em uma situação realmente hilária. Essa situação infelizmente é comprometida quando esse personagem nunca enfrenta consequências por suas ações, prejudicando a credibilidade na história.
Personagens e Atuações
O elenco faz um trabalho muito competente com o material que lhes é dado. Em especial, vale ressaltar as interações entre Anne Hathaway e Rebel Wilson. Ambas têm muita química e seus diálogos são muito divertidos; a rivalidade entre as duas é muito crível, assim como sua amizade.
Outro destaque é o ator Alex Sharp, que interpreta o bilionário Thomas. Sua performance é absolutamente convincente e as mudanças que o personagem sofre ao longo da trama são executadas de forma impressionante, tornando o personagem memorável, apesar do pouco tempo de tela, em comparação com a dupla de protagonistas.
Depois dos Créditos
Por fim, “As Trapaceiras” é um filme engraçado e divertido, que é sabotado por um roteiro fraco, tornando a obra que tinha potencial para ser excelente em algo apenas satisfatório. Um trabalho que cumpre sua função, mas não faz muito além disso. Infelizmente as boas piadas não conseguem salvar o projeto de sua trama fraca, o que torna o resultado final decepcionante.
Revisão: Raquel Severini