Crítica | Annabelle 3: De Volta Para Casa – Nem novos monstros salvam o filme!

Mesmo com novas criaturas, "Annabelle 3: De Volta Para Casa" não se reinventa o suficiente e mostra que a franquia já está saturada, com diversos sustos previsíveis.

Antes do Filme

Há alguém no mundo que ainda sinta medo de Annabelle? No terceiro longa-metragem focado na boneca — e também o sétimo do universo compartilhado de Invocação do Mal (The Conjuring, em inglês) — os produtores finalmente aprenderam a resposta para essa óbvia pergunta. O hype criado durante as propagandas de Annabelle nunca se justificaram, com o filme sendo um dos piores do gênero terror na década.

Em Anabelle 2: A Criação do Mal houve uma melhora evidente, mas o brinquedo também nunca pareceu ser a grande ameaça ali. Por isso, aprendendo com os erros do passado, Annabelle 3: De Volta Para Casa acerta ao trazer um enorme leque de criaturas verdadeiramente assustadoras, abrindo precedentes para uma maior expansão da franquia.

Trama e Roteiro

Repetindo a cena inicial de seus antecessores, Annabelle 3 inicia-se com casal de demonologistas, Ed Warren (Patrick Wilson, Aquaman) e Lorraine Waren (Vera Farmiga, Bates Motel) recolhendo a boneca do mal para a casa da família e guardando-a dentro de um porão, que contém outros diversos objetos amaldiçoados. Precisando viajar, eles deixam a filha, Judy Warren (Mckenna Grace, Capitã Marvel), com a babá, Mary Ellen (Madison Iseman, Jumanji).

A ilusão de dias tranquilos para a dupla se interrompe quando a melhor amiga de Mary Ellen, Daniela (Katie Sarife, Supernatural), oferece-se para fazer companhia a elas. Com um interesse demasiado na coleção de itens sombrios da casa, sua curiosidade acaba por despertar novamente a ira de Annabelle, que irá fazer da vida das três um inferno, literalmente.

Assim como em quase toda obra do terror, para se envolver com a trama é preciso uma grande descrença da realidade. Quando tal artifício torna-se demasiado acaba gerando um efeito reverso, fazendo com que situações tão ridículas e improváveis de acontecer tornem-se risíveis ao público. Infelizmente, os momentos aqui são muitos: Judy e a babá deixam Daniela sozinha na casa, mesmo sabendo de seu interesse em bisbilhotá-la; esta também acha sem dificuldades a chave para o porão e, principalmente, somos obrigados a aceitar, sem questionamentos, que Annabelle não pode ser destruída, apenas guardada.

Se o segundo Annabelle possui um grande acerto, este é a noção espacial da casa onde a história se passa. O diretor David F. Sandberg (Shazam) em um longo plano mostrou todos os cômodos da casa, orientando e familiarizando o espectador, que passaria a próxima hora e meia dentro daquele ambiente. Já nesta nova versão, o mesmo não é feito pelo diretor Gary Dauberman (estreante, mas roteirista de It e dos Annabelle anteriores), causando extrema confusão aos olhos.

Ainda sobre sua direção, há um uso recorrente de sustos causados através de sequências que mostram figuras desfocadas em 2º plano. Como são momentos silenciosos, há um sentimento de estranheza gerado por essas aparições surpresas que amedrontam. O problema ocorre quando ele decide utilizar os famosos jumpscares, extremamente telegrafáveis e previsíveis, gerando também risadas inesperadas daqueles que assistem.

Personagens e Atuações

Com diálogos clichês e expositivos, o roteiro dá pouco para o trio de atrizes trabalharem. Ainda que exista um drama familiar mal desenvolvido envolvendo Daniela, não é suficiente para que a novata Sarife convença em um papel emocional. Enquanto isso, Iseman possui uma química engraçada — e até boba — com Bob (Michael Cimino, ator novato), seu interesse amoroso e também o alívio cômico do filme. Já Mckenna Grace é a que melhor demonstra emotividade, seja nos momentos de tensão ou de tristeza, existindo uma trama bem trabalhada envolvendo sua personagem e bullying.

Por último, não menos importante, o principal acerto de Annabelle 3 é sua enorme variedade de criaturas. Com o público cansado da pálida boneca de olhos esbugalhados, a franquia precisava de novas ameaças. Entre as novidades estão uma noiva assassina, um cachorro do inferno, uma figura demoníaca, um caronte — barqueiro da mitologia grega que leva as almas para Hades — e inclusive um samurai. Misturando efeitos visuais e uma ótima equipe de maquiagem, todos eles convencem e são assustadores.

Depois dos Créditos

Mesmo com essa grata inovação no catálogo de vilões, abrindo brecha para novos episódios da franquia, Annabelle 3: De Volta Para Casa não justifica o porquê de ainda existirem filmes sobre essa amaldiçoada boneca. Com personagens fracos, furos no roteiro e sustos previsíveis, nem os bons momentos de comédia são o suficiente para entreter. No entanto, caso o espectador decida se distrair tentando adivinhar quando ocorrerá o próximo susto — e fatalmente acertará — ele poderá se divertir tanto quanto eu. Chegou a hora de Annabelle ser guardada para sempre no armário.

 

Revisão: Raquel Severini

Annabelle 3

4

NOTA

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