Crítica | Abigail e a Cidade Proibida – A Russia na Sessão da Tarde

Abigail

"Abigail e a Cidade Proibida" é um filme de fantasia com ótimos efeitos visuais e uma péssima história, sendo mais um na lista de muitos filmes adolescentes esquecíveis.

Antes do Filme

Desde que filmes como “Os Guardiões” e “A Sereia – Lago dos Mortos” estrearam nas salas brasileiras, fica claro que o cinema russo não é movido apenas por filmes independentes de festivais (como “Leviatã”, que foi indicado ao Oscar de melhor de filme estrangeiro), mas também por produções de gênero e filmes que procuram emular sucessos de bilheteria americanos. Isso acaba sendo muito interessante, pois traz a oportunidade para os críticos e para a audiência nacional entrar em contato com obras de diferentes países e diversificar seu conhecimento; uma pena que as vezes esses filmes tenham tão pouco a acrescentar.

Infelizmente “Abigail e a Cidade Proibida” é um desses casos. O filme dirigido por Aleksandr Boguslavskiy conta a história da jovem Abigail, moradora de uma cidade cujo alguns habitantes sofrem de uma doença incurável e são exilados, como seu pai. E então, em uma trama que lembra uma mistura apressada de “Harry Potter” com “Jogos Vorazes”, ela decide procurar por seu pai e descobre os segredos da cidade.

Uma nota: O longa foi exibido dublado em sua cabine, o que dificulta a possibilidade do crítico de analisar as atuações, visto que a dublagem, por melhor que seja, sempre vai diferir da atuação original.

Trama e Roteiro

A trama do filme é extremamente confusa e surpreendentemente arrastada para um filme de menos de duas horas, no entanto as constantes viradas de mesas e a falta de motivações claras para os personagens principais confundem o espectador e o impedem de se imergir na história de Abigail (Tinatin Dalakishvili). Ostensivamente, os personagens principais do filme são Abigail e o jovem rebelde Bale (Gleb Bochkov), mas suas motivações e objetivos no filme não são estabelecidos propriamente desde a primeira cena ou mudam abruptamente de uma hora para a outra.

O roteiro, escrito por Aleksandr Boguslavskiy com Dmitriy Zhigalov – seu parceiro de outros longas como “Mentes em Jogo” – é raso e não consegue desenvolver com clareza nem a cidade em que Abigail vive e nem as pessoas que a habitam. Fica claro que é um filme voltado para um público mais pré-adolescente, mas isso não é uma desculpa para um desenvolvimento tão confuso tanto nos poderes dos personagens quanto no cotidiano dessa sociedade. A própria distribuição dos atos no filme é muito confusa, ele se arrasta demais no segundo, tem três momentos diferentes no terceiro, que parece que vai se encerrar, apenas para subitamente ter mais vinte minutos de trama.

O filme é muito mais polido em seus aspectos técnicos, como na fotografia cristalina de Eduard Moshkovich ou na belíssima trilha sonora de Ryan Otter que, francamente, é bonita demais para o filme. Outro ponto extremamente positivo são os efeitos especiais, muito bem feitos e que não ficam devendo para nenhuma produção americana.

Personagens e Atuações

Como já mencionado anteriormente, é complexo analisar atuações que foram apreciadas de maneira incompleta, e isso não é uma crítica a dublagem, bem feita no geral, mas uma mera constatação que as atuações não estão sendo avaliadas em sua forma original.

Agora, nem mesmo a versão original do filme ia transformar o Bale de Gleb Bochkov em um personagem interessante, ele não tem nenhum carisma e não é ajudado por um roteiro confuso que mais o deixa franzindo em cena do que realmente desenvolve um arco narrativo para ele. Também não ajuda a sua total falta de química com Tinatin Dalakishvili, que interpreta Abigail, a protagonista do filme e a personagem com o maior estofo dramático. Tinatin certamente tem mais material para trabalhar com, mas mesmo assim ela (e o filme) acabam por vezes presos em um estereótipo de “garota determinada”, muito comum em filmes de fantasia desse tipo, e não desenvolve a Abigail em si, sem falar que o filme abusa no uso de flashbacks.

Um outro destaque positivo do filme também vai para Eddie Marsan, o experiente ator britânico interpreta o pai de Abigail, Jonathan, como um homem inventivo e sagaz, mas com a responsabilidade pesando nos seus ombros, e Marsan traz a sobriedade necessária para o papel.

Depois dos Créditos

Por fim, “Abigail e a Cidade Proibida” é um filme tecnicamente muito bem feito, seus efeitos especiais e cenas de lutas são competentes, mesmo que toda a trama seja arrastada e não consiga desenvolver os personagens e suas motivações propriamente. O longa como um todo tem um “jeitão” muito Sessão da Tarde, com a história de uma garota que só quer encontrar seu pai e descobre verdades ocultas sobre sua cidade. Infelizmente é o máximo que se pode ser dito sobre o filme, que parece ter se preocupado tanto em criar um mundo supostamente fantástico e interessante que esqueceu que o que realmente importa são os personagens que o habitam.

 

Corrigido por: Raquel Severini

Abigail

4

NOTA

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