Crítica | Todo O Dia

Romance adolescente tem idéias originais e execução interessante.

Nos últimos quatro ou cinco anos, tornou-se comum em Hollywood adaptações de livros românticos voltados para o público adolescente, a maioria dessas obras partilha uma similaridade crucial, elas tentam de alguma forma subverter alguma das convenções já estabelecidas em histórias de amor. Seja porque um dos personagens principais tem uma doença terminal, ou porque ele não se encaixa em algum padrão estabelecido pela sociedade, ou por qualquer outro motivo, a regra é quebrar as regras de uma história de amor clássica, mas sem abraçar a desconstrução total e ainda contando uma história romântica “fofinha”.
Esse é o caso do filme “Todo O Dia”, o longa dirigido por Michael Sucsy, conta a história de “A”, uma pessoa cuja consciência acorda no corpo de um indivíduo diferente a cada dia. Por razões desconhecidas, durante 24 horas “A” pode controlar o corpo de seu hospedeiro, acessar suas memórias, pensamentos e sensações, além de controlar o que o indivíduo lembrará da experiência de ter outra pessoa vivendo em seu corpo. 
Ciente da responsabilidade por trás de suas habilidades, “A” tenta viver seus dias sem causar nenhuma alteração na vida das pessoas que abriga sua consciência. Tudo isso muda no dia em que “A” acorda no corpo de Justin (Justice Smith) e conhece Rhiannon (Angourie Rice), namorada do rapaz. Após fugirem da escola e passarem um dia se divertindo, ele se apaixona por Rhiannon, e chega a conclusão que Justin não da o valor que sua namorada merece, e que ela deve encontrar alguém melhor.
A partir daí vemos a jornada de “A” para se aproximar de Rhiannon, explicar sua condição para a garota, e finalmente conquistar seu coração. Tudo isso através de uma interpretação muito boa dos atores que conseguiram dar vida para “A”. A forma como todos repetem os maneirismos, o tom de voz, e principalmente a química com Rhiannon, é impressionante, assim como o fato da atriz Angourie Rice conseguir transmitir o mesmo nível de intimidade com tantas pessoas diferentes, dando uma credibilidade incrível à obra.
Outro componente interessante é o fato de que o filme não foge das questões que a existência de uma entidade como “A” levantariam, questões de o que é certo ou não se fazer quando se está no corpo de outra pessoa, o quanto se pode intervir na vida de outro ser humano, e quais são os impactos de tais intervenções, são todas abordadas no longa. Além das questões pessoais do protagonista, ele pode viver uma vida normal, se relacionar, casar, ter filhos, seriam filhos dele, eles herdariam sua condição?
Questões que levam à uma conclusão que, sem entrar no campo dos spoilers, é bem diferente da maioria dos filmes românticos, sem parecer forçada ou anticlimática, na verdade é uma das soluções mais satisfatórias, e ao mesmo tempo realistas, possível.
Além das questões literais abordadas pelo filme, há também, todo um subtexto sobre identidade de gênero. A final nosso/a protagonista é uma pessoa que pode acordar no corpo de qualquer indivíduo, de qualquer gênero. Em um ponto do filme “A” em pessoa diz não se considerar nem homem, nem mulher. Essa questão nunca se torna a temática central do filme, mas a mensagem de que todos merecem amor, e que ele existe nas mais diferentes formas está lá, e é abordada de forma sensível, sem nunca se tornar muito didática.
No final das contas “Todo O Dia” é um filme, simples, que apesar de seguir uma tendência de mercado, conta uma história envolvente, de forma muito competente, sem abrir mão do realismo ou do romantismo, cria questões interessantes de se pensar, mesmo depois dos créditos acabarem de subir, e ainda faz comentários interessantes, sobre assuntos muito pertinentes no mundo atual, tudo de forma muito competente e, porque não dizer, fofa.

8

NOTA

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