O gênero do terror é um dos mais antigos e rentáveis da história do cinema. Devido ao relativo baixo custo de produção, e ao apelo com o grande público, é um dos gêneros mais proeminentes, até hoje. Com tantos filmes e subgêneros lançados é sempre um desafio criar algo original no mundo do terror. Na verdade muitos dos melhores filmes lançados recentemente surpreendem pela forma original que executam premissas já conhecidas.
O filme Maligno, dirigido por Nicholas McCarty, tenta ir por um rumo diferente buscando inovar em sua premissa. Somos apresentados de forma simultânea a um serial killer, que é morto pela polícia, e a uma criança que acaba de nascer. Ao longo do filme descobrimos que o menino partilha muitas semelhanças com o assassino, morto dias antes de seu nascimento, e somos apresentados a ideia de que tal criança possa ser a reencarnação do cruel matador.
A ideia de uma criança inocente ser a reencarnação de uma alma tão maligna é muito interessante. Porém a forma como é executada na obra é confusa, no mínimo. Primeiro, porque o conceito de reencarnação apresentado no filme se difere muito do que é apresentado em muitas religiões. Aqui a pessoa não só tem memórias residuais de sua vida passada, ou uma personalidade semelhante, no universo que nos é apresentado, a alma reencarnada ocupa o corpo, e divide espaço com a alma da nova pessoa que acaba de nascer, a fim de concluir seus assuntos não solucionados no mundo. Algo que se assemelha mais ao conceito de possessão.
Tal incoerência da a impressão de que os realizadores apenas deram uma roupagem diferente para um conceito antigo, tentando mascara-lo como uma idéia original. Esse é um dos problemas na lógica interna do filme, que prejudicam a credibilidade do mundo que nos é apresentado, mas não é o único, há também o fato de pessoas da área da saúde que, presumivelmente, buscam respostas racionais e científicas para os problemas de seus pacientes aceitarem, com muita facilidade, soluções místicas como reencarnação. E seria ilógico para uma médica que acompanha um paciente por um período de tempo de oito anos demorar tanto para chegar nessa conclusão, se ela está disposta a crer nesse tipo de coisa.
Se há algo para ser elogiado nesta obra, são os trabalhos dos atores, tanto a mãe (Taylor Schilling) que faz um trabalho fantástico, passando uma sensação de desespero, preocupação, amor, e medo por seu filho; que também não deixa a desejar, pois o ator (Jackson Robert Scott) consegue oscilar entre ser uma criança indefesa, e uma pessoa fria e ameaçadora, de forma impressionante, seu trabalho é uma das melhores coisas do filme, é o que salva a obra de ser um filme ruim e esquecível.
Infelizmente os outros pontos do filme não seguem o mesmo padrão de qualidade, pois, além de uma premissa mal executada, o roteiro não estabelece bem nenhum de seus personagens, ou suas relações, exceto mãe e filho, de forma crível, ou interessante, tornando-os assim, dispensáveis. Como é exemplo do pai do menino, que é abandonado e esquecido pelo segundo ato do filme.
Ou a própria mãe, que não tem nenhum traço de personalidade além de se preocupar com seu filho, ou o psicólogo especialista em reencarnações, que só está no filme para explicar a trama através de diálogos expositivos.
Vale mencionar também os efeitos visuais, e a montagem, que na maior parte do tempo fazem um trabalho decente em manter o suspense e a tensão, mas em outros, proporcionam situações não intencionalmente hilárias, como quando o rosto do assino de meia idade é inserido no corpo de um menino de oito anos, criando uma imagem que deveria ser assustadora, mas devido a forma que é feita, acaba engraçada. Ou cenas que são editadas de tal forma que deveriam subverter nossa expectativa, mas acabam apenas repetindo os clichês que já se tornaram o esperado.
No final Maligno é um filme com uma premissa interessante, e repleto de potencial, que é sabotado por uma execução previsível, e pobre, que é salva pelo trabalho dos atores que dão uma bela moldura para um quadro horroroso. Infelizmente o resultado é um filme que não consegue inovar em sua premissa, nem executar seu terror de forma eficiente.