Crítica | Happy Hour – Verdades e Consequências

Uma obra que quer falar sobre muita coisa, sem ter nada para dizer.             

A Coprodução Brasil e Argentina é vendida nos trailers e materiais publicitários como uma comédia sobre relacionamentos. Porém, o que se encontra é algo bem diferente e, por falta de palavra melhor, confuso. Afinal, a trama principal realmente gira em torno de uma crise no casamento dos protagonistas, mas a forma como essa história é contada pode ser considerada muitas coisas, e cômica não é uma delas.

A trama, ironicamente, em sua maior parte assemelha-se mais a um filme “de arte”, pela forma como é executada. Temos longas narrações, com direito a monólogos existencialistas provenientes de nosso protagonista, e comentários sobre política, feminismo, sexualidade e poligamia. Todos  esses temas são apresentados e discutidos com a maior seriedade possível e no final, com tantas ideias para serem abordadas, a pobre comédia fica em último plano, como um pensamento adicionado após a obra estar completa.

Agora, se o filme não funciona como comédia, ele pelo menos deveria funcionar como uma obra mais reflexiva e sofisticada, repleta de camadas, abordando vários temas sérios. Infelizmente não é isso o que acontece. Nenhum dos temas, além da crise no casamento, recebe foco o suficiente para ter alguma real relevância na obra. A impressão final é que a obra foi feita com o intuito maior de parecer inteligente, e não realmente levantar discussões de fato intelectuais.

Tal incoerência fica mais evidente quando analisamos os personagens. O protagonista Horácio(Pablo Encharri), por exemplo, é um homem que diz se sentir um estrangeiro, não só pelo fato de ser um argentino vivendo no Brasil, mas sim por ser uma pessoa alheia ás convenções sociais de seu tempo. Ao longo da trama, porém, vemos que ele é tão preso à tais convenções quanto a maioria dos homens de sua idade.

Assim como Horácio, sua esposa Vera (Letícia Stabella) é vítima das incoerências narrativas. Seu caso é, na verdade, ainda mais frustrante, pois há todo um arco sobre empoderamento feminino relacionado a personagem, assim como um comentário muito interessante sobre o jogo político e sua relação com a mídia. Porém, quase que por ironia, a personagem recebe pouca voz, tirando muito do peso de seu arco. Além disso, há falta de foco no comentário político, que nunca se conclui.

O conflito entre fidelidade e poligamia, não diferente de nenhum dos outros assuntos abordados durante o filme, apesar de muito mencionado, não tem nenhuma conclusão objetiva, deixando apenas ideias soltas e contraditórias. A crítica ao sensacionalismo das mídias de grandes massas é igualmente levantada durante vários momentos, mas nunca chega a ser nada mais do que um simples comentário.

Além do roteiro, os aspectos técnicos do filmes também deixam a desejar. A fotografia é genérica, sem cor, textura, ou profundidade, deixando tudo com uma aparência mais televisiva do que cinematográfica. A direção tem alguns momentos inspirados, com alguns planos sequencia bem interessantes, mas na maior parte do tempo é igualmente genérica.

Entretanto, há um detalhe da produção que merece elogios. A trilha sonora é muito boa, variando entre diferentes emoções, traduzindo muito bem os sentimentos dos personagens e dando ritmo às cenas. Com certeza o filme seria muito prejudicado com a ausência da trilha.

No fim “Happy Hour – Verdades e Consequências” é uma obra confusa, que se vende como uma comédia, apesar de não ter elementos cômicos. Aborda temas demais, sem foco o suficiente para torna-los significativos. Uma obra que quer falar sobre muita coisa, sem ter nada para dizer.             

4

NOTA

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