Após onze anos de existência e com vinte filmes produzidos, a Marvel Studios consolidou um estilo, e uma estética para seus filmes. Já existe uma certa expectativa e um certo padrão de qualidade mínimo que é esperado dos filmes da Marvel, principalmente após o lançamento de filmes como “Guardiões da Galáxia”, que tomavam alguns riscos maiores que seus predecessores. E, principalmente, após o lançamento de “Pantera Negra”, no ano passado, que trouxe uma narrativa cheia de ação, capaz de entreter o grande público, e com um discurso político claro e pertinente para os nossos dias.
Havia uma expectativa que “Capitã Marvel” seguisse pelo mesmo caminho. Inegavelmente, no quesito da ação, há muito o que se admirar na obra, cheia de cenas de luta, bem coreografadas, com trilhas musicais empolgantes e efeitos convincentes, na maior parte do tempo.
Contudo, o que diz respeito aos sub textos políticos da obra, pode não agradar a todos expectadores. Lembrando que o fato de esse ser o primeiro filme protagonizado por uma heroína, e também o primeiro a ser dirigido por uma mulher, já são atos políticos muito poderosos. Mas a relevância desses temas na trama não grande, diferente “Pantera Negra”, onde a questão política estava intrinsecamente ligada a trama.
Em “Capitã Marvel” o foco da narrativa é descobrirmos, junto com a protagonista, sua verdadeira identidade. Aos poucos somos apresentados a Carol Danvers (Brie Larson) uma ex piloto da força aérea americana, que perde suas memórias após um estranho acidente que lhe concede poderes extraordinários. Ela é, então, acolhida e treinada pela raça alienígena dos Kree, que almejam usa-la como uma arma em sua guerra contra outra raça alienígena conhecida como Skrulls.
A situação da guerra entre os Krees e os Skrulls, se difere um pouco do que é apresentado nas HQs da personagem, o que pode desagradar alguns dos fãs do material original. Porém as alterações feias aqui, não só mantém a coerência com o que foi apresentado anteriormente em outros filmes, como permite a obra, fazer paralelos com as guerras que acontecem hoje, no nosso mundo e com as consequências reais desse tipo de conflito.
Apesar dos paralelos com os conflitos do mundo real, a trama é em sua maioria mais intimista, focando na busca de Carol por sua identidade. E executando tal busca de forma muito relacionável, muito graças a performance de Brie Larson, que traz uma personagem muito carismática, ainda que bastante sarcástica e confiante, ela nunca soa como arrogante, ou convencida. Há uma construção de uma personalidade genuína.
Personalidade que é muito bem balanceada com os coadjuvantes, principalmente Nick Fury (Samuel L. Jackson), que desenvolve uma química muito natural e divertida com Carol, as conversas entre os dois são alguns dos melhores diálogos do filme, trazendo um humor bastante pontual à trama.
Ainda falando de Fury, é essencial mencionar o fantástico trabalho de efeitos visuais feito para rejuvenescer o rosto do ator Samuel L. Jackson. É praticamente imperceptível que houve uso de computação gráfica em seu rosto, e a impressão final é de que o homem está realmente vinte anos mais jovem. Além disso os efeitos de maquiagem dos Skrulls também merece ser elogiado, pois os artistas conseguem fazer com que os atores pareçam realmente criaturas de outro mundo, mas ainda mantenham muita expressividade, mesmo com próteses e máscaras de borracha.
Vale também mencionar a trilha musical, que é bastante energética e atmosférica, cheia de músicas que remetem ao período em que o filme se passa, e também complementando muito as ações e pensamentos da protagonista, além de dar ritmo as cenas de ação, que sem a trilha perderiam metade do senso de aventura e empolgação.
Tudo isso culmina em um filme muito divertido, que apresente uma personagem forte, interessante, e muito carismática. Com uma história muito relacionável, e paralelos muito pertinentes a problemas do mundo real, “Capitã Marvel”, é um ótimo filme de origem para a personagem e um excelente passo para o futuro da Marvel, que deixa o expectador ansioso para ver mais.