Família é uma palavra com muitos significados e interpretações possíveis, dependendo de quem estiver falando sobre o assunto pode se referir a um grupo de pessoas ligadas por laços sanguíneos, ou um grupo de pessoas que convive no mesmo espaço e partilha uma conexão afetiva, e ainda existem muitas outras interpretações possíveis para essa complexa ideia.
No filme “Assunto de Família” somos apresentados á um modelo de família bem fora do usual; não há laços sanguíneos unindo os protagonistas, alguns deles estão morando juntos por motivos egoístas, e o senso de moralidade de praticamente todos os indivíduos é, no mínimo, questionável. Ainda assim, há uma conexão genuína entre essas pessoas, há alguma coisa que os torna mais do que um grupo de mau caráteres que vivem sob o mesmo teto.
Durante toda a obra, o diretor Hirokusa Koreeda se esforça para mostrar que há um sentimento de carinho genuíno entre os membros da disfuncional família, mesclado às motivações egoístas dos personagens, principalmente os adultos, que são alimentadas pela situação financeira precária em que vivem. O resultado é um clima de tensão latente durante a maior parte do filme, que conta sua história de forma bem paciente.
Fica claro, desde o começo, que a situação da família não vai terminar bem, que os momentos de paz e confraternização não vão durar, isso é até falado por uma das personagens em determinado momento, mas a história envolve o espectador de tal forma que é impossível não se afeiçoar pelos personagens. Somos levados a torcer por um desfecho feliz para a família mais desfuncional do Japão, apesar de sabermos que é pouco provável.
Além da direção, vale também ressaltar o trabalho dos atores, que tornam os personagens muito humanos e críveis, as performances são sutis e sempre há uma impressão de que nem tudo o que é sentido foi dito nos diálogos, dando muito espaço para que as nuances dos personagens sejam ressaltadas nas reações e nas expressões dos atores.