Boy From Heaven | Cobertura 46ª Mostra de Cinema de São Paulo

Dirigido pelo sueco Tarik Saleh, Boy From Heaven, vencedor do prêmio de roteiro no Festival de Cannes desse ano, é um thriller político situado na prestigiada universidade Al-Azhar, na capital do Egito, Cairo. O filme gira em torno dois acontecimentos seguidos envolvendo um jovem do interior que recebe uma bolsa de estudos para cursar na universidade e a morte do Grande Iman de Al-Azhar, uma figura de poder e importância não só para a universidade mas como para todo o país.

O filme então cria um cenário de tensão já que, após a morte do Grande Iman, inicia-se a procura do próximo que receberá o título. Essa procura gera atritos e opiniões sobre quem deveria receber o título dentro e fora do campus universitário. Daqui pra frente, assassinato, mentiras e revoltas tornam-se temas recorrentes no filme; personagens que achávamos ser algo, mostram-se serem mais que isso e paira o sentimento de ninguém-sabe-quem-é-ninguém. É uma bola de neve pequena que vai gradualmente crescendo, seja para bem ou mal.

Não consigo assistir esse filme e imediatamente não lembrar de Homeland, série que durou oito temporadas e envolvia thrillers políticos na mesma região do mundo. Apesar das naturezas da série e do filme serem diferentes – uma sob uma perspectiva externa dos Estados Unidos enquanto outra interna –, faço essa breve comparação para destacar o que, pra mim, incomodou no filme: ele simplesmente não tem profundidade e as reviravoltas não seguem um curso natural, sendo jogadas e entrelaçadas na trama sem muita justificativa. É um filme extremamente confuso e, confesso, que ao sair da sala de cinema, minha cabeça estava pra lá de perdida. 

Não adianta ter dois ou três pontos interessantes na montagem de uma trama de assassinato se o todo não é sustentável. Não apenas isso, mas não há também motivo para se importar com uma investigação desse estilo se as pessoas que estão sendo investigadas também não importam para o espectador. Qualquer filme ou série de investigação que preze por uma qualidade crescente narrativa cria antes de mais nada simpatia pelo elenco, um caso recente de filme de investigação que realizou esse feito bem foi Entre Facas e Segredos.

Ainda assim, não me surpreende que esse filme tenha ganhado o prêmio de roteiro em Cannes. A verdade é que a sua natureza de permuta e constante surpresa-reviravolta é justamente o que o prêmio do festival costuma prezar, ignorando, inclusive, inconsistências problemáticas que esses ganhadores podem ter, o que, infelizmente, é também o caso de Boy From Heaven, um thriller político convoluto, confuso e, acima de tudo, extremamente esquecível.

5

NOTA

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