A Esposa de Tchaikovsky | Cobertura 46ª Mostra de Cinema de São Paulo
A obra de Tchaikovsky dominou o mundo da música clássica e suas composições são, até hoje, importantes para o gênero musical. No entanto, para além disso, a vida do compositor também foi marcada por sua homossexualidade mantida em segredo, além de um casamento acidental. São esses dois aspectos da vida do músico russo que o novo filme de Kirill Serebrennikov exploram com delicadeza e calma – essa última talvez de forma até exagerada.
A Esposa de Tchaikovsky se passa nas últimas décadas do século XIX na Rússia. Assim como o título sugere, o filme é de fato sobre a vida de Antonina Miliukova, que antes de ser esposa de um dos maiores compositores clássicos da história, foi também aluna dele. Não apenas qualquer aluna, mas uma fã. Antonina via em Piotr, primeiro nome de Tchaikovsky, não só paixão, mas sim, um amor inquebrável e o homem que deveria estar ao seu lado para sempre.
Para Antonina, o casamento foi um sucesso, mas a realidade se provou um desastre. A incompatibilidade do casal estava além das suas diferenças sexuais, mas também emocionais. O que o filme explora neste tópico é de base singela e, até mesmo, superficial. Não porque houve ali um erro narrativo ou falta de aprofundamento, mas sim porque simplesmente não há tanto ‘pano da manga’ que justifique a duração do filme. E esse foi meu grande problema com A Esposa de Tchaikovsky.
Vejamos, há aqui sim uma história válida de ser contada, com nuances, personagens cativantes e uma ambientação histórica pra lá de admirável. No entanto, as duas horas e meia do filme russo se arrastam ao passo em que os dramas da frustrada recém-casada Antonina se cansam junto com a protagonista. Há um limite para a destreza possível nesse tipo de história e o filme a cruza algumas vezes. A busca por uma fonte racional para narrativa do filme torna-se uma longa sessão de incansáveis nadas para quem o assiste. Cansa, e muito.
O filme é, todavia, dotado de características passionais e sedutoras. A começar pela direção de arte, que habita a Rússia pré Revolução Bolchevique, formidavelmente. Outra direção que chama à atenção é a de elenco, especialmente por parte da protagonista Antonina, interpretada pela atriz russa Alyona Mikhaylova. A atriz é capaz de expressar os mais variados tipos de emoções necessárias e a conotação singela em sua performance convence com facilidade de que os sentimentos de Antonina por Piotr são da mais real genuinidade. É certamente uma das performances mais impactantes do ano, e não por conter cenas de drama intensas ou uma transformação física chocante, mas sim por um contínuo poderio de naturalidade e domínio.
Infelizmente, a performance de excelência de Alyona não é suficiente para ignorar os sérios problemas que o filme possui em relação ao seu tempo e ao que é mostrado. A verdade é que o filme se demonstra simplesmente como uma coleção de momentos saturados e maçantes, falhando em expandir brechas históricas que poderiam favorecer melhor não apenas o texto em si, mas as relações interpessoais entre os personagens que muitas vezes são sub-exploradas.