Antes do Episódio
Depois do sucesso de “Game Of Thrones“, é nítido que a HBO está buscando uma nova série de destaque que consiga repetir o sucesso que GoT fez. Com tantas apostas, algumas séries acabam se destacando, como “Westworld“, e algumas permanecem mais tímidas, como é o caso da recente “Perry Mason“. E a mais nova aposta da emissora é “Lovecraft Country“, que promete ser recheada de terror, críticas sociais e mistérios.
Enredo, Trama e Personagens
Na série, vemos a história do Atticus Black, um homem negro que parte em uma viagem por uma América racialmente segregada, para procurar seu pai desaparecido. O seriado adapta o livro homônimo de Matt Ruff , ambientado na década de 1950, e nela vemos que os verdadeiros monstros não são as criaturas com dentes afiados e formas assustadoras, e sim o preconceito, segregação e violência racial.
A série tem como principal ponto o sobrenatural inspirado nas obras de H.P Lovecraft, autor norte-americano do século 19 considerado o pai do terror cósmico. Suas obras e mitologias criadas são fortes inspirações de diversos nomes como Ridley Scott, Stephen King, Alan Moore , entre outros. Contudo, Lovecraft também tinha uma outra faceta: o autor era extremamente racista, misógino, xenofóbico e também era simpatizante dos fascistas. Tal faceta trouxe o debate entre separar a obra do autor, ponto abordado pelo elenco e pela produção da série, que escolheu por subverter as ideias originais do autor, colocando negros como os heróis da história e abordando a segregação racial do sul dos Estados Unidos na Era Jim Crow.
A decisão de tal abordagem se mostra brilhante e, de certa forma, poética. Com a produção de Misha Green (Underground), Jordan Peele (Corra, Nós) e J.J Abrams (Star Trek, Cloverfield), o trio trouxe a tona logo nos primeiros minutos do primeiro episódio visuais incríveis de monstros, aliens e uma guerra totalmente bizarra e cósmica, mantendo a essência do terror lovecraftiano. Contudo, era apenas um sonho (ou pesadelo) do protagonista, e vemos durante todo o episódio Addicus e sua família enfrentando um sistema segregatório e racista. Toda a tensão do episódio se dá justamente nas situações onde vemos os personagens em situações onde suas vidas correm risco, não por causa de um vampiro diabólico ou um alien roxo gigante, mas sim por um policial branco que abusa das leis e do poder para diminuir aqueles que considera inferior.
A série começa muito bem,apostando em retratar perigos reais em situações que, infelizmente, também são reais . Desde acontecimentos sutis como olhares até atos escancarados como perseguições, a tensão e terror que vemos em trabalhos anteriores de Pelle, como “Corra”, se mantém presente e cada vez mais pontual em suas críticas, e de certo a experiência de J.J com obras espaciais e visuais de monstros contribuíram na parte sobrenatural da série, com as criaturas vampirescas que aparecem na reta final do episódio.
Tal reta, apesar de interessante, acabou sendo um pouco apressada e destoante do tom do restante do episódio, que possui uma hora de duração, minutagem padrão das séries da HBO. Tal introdução ao sobrenatural e místico buscou chocar e surpreender, mas sua condução trouxe mais um desconforto e menor sensação de perigo justamente por se distanciar de todo o tom e ritmo que vimos no episódio inteiro, pois nos identificamos e tememos muito mais por um perigo tangível do que com algo impossível na forma que a série foi trabalhando, e quando apresentados ao elemento místico, se torna um tanto quanto esquisito.
Depois do filme
Por fim, o primeiro episódio de “Lovecraft Country” se mostra extremamente promissor, com um elenco de ponta, uma produção impecável, com uma excelente ambientação dos anos 50 e uma trilha musical bem presente, se perdendo apenas na reta final do primeiro episódio, mas no geral, sendo um ótimo piloto e que om certeza vai despertar o interesse dos espectadores.
Corrigido e Revisado por: Hugo Montaldi e Raquel Severini