Crítica l The Man In The High Castle 4° Temporada – Um Decepcionante Desfecho!

Apesar da excelente execução das 3 primeiras temporadas, o carro-chefe da Amazon Prime Video não finaliza bem e decepciona fãs.

Antes do play

Com excelentes narrativas, reflexões e desenvolvimentos de personagens durante as 3 temporadas de “The Man In The High Castle”, a série se tornou um tesouro escondido para o grande público. Talvez a série venha a ser conhecida com a recente popularização do serviço de streaming da Amazon, a Prime Video. The Man In The High Castle é uma das séries mais aclamadas do serviço, e no dia 15 de Novembro foram liberados os 10 episódios finais da série, em sua 4° temporada.

Trama e Roteiro

Como muitos teorizaram durante o gap entre a 3° temporada e esta última, John Smith consegue ascender politicamente e toma controle total da América do Norte, após um golpe em Berlim contra Himmler. Entretanto, acreditávamos que Smith viraria as costas para o Reich, e voltaria as suas raízes e restauraria os EUA, derrubando o Reich com o apoio de Juliana, como a própria série parecia dar indícios. Mesmo que ele tivesse que se matar para isso, o que faria dele um personagem muito mais interessante e um anti-herói digno, ainda assim teríamos o desfecho de arcos mais impactantes e num tom otimista, por conta da construção que a série faz ao longo das temporadas e jornadas dos núcleos. Mas, não é o que testemunhamos aqui.

No episódio final, ele se mata e esse controle passa para Bill Whitcroft, seu amigo que é a favor do retorno dos EUA. E no final, Juliana e Wyatt terminam olhando para o portal que foram destruir, e várias pessoas estão atravessando, indo para a realidade nazista. O final em si acaba por decepcionar aquele que assiste pois, além de não fazer sentido dentro da proposta da missão do núcleo da Resistência, termina em algo que não vai mudar o rumo do mundo apresentado na série, pois o Reich continua de pé, o Império Japonês apresenta certa dificuldade em se manter, porém ainda é uma ameaça contra a liberdade, e os personagens não tiveram um fim satisfatório e condizentes com sua jornada, como o Kido, que acaba tendo uma espécie de redenção forçada fracamente estabelecida e desenvolvida.

Personagens e Atuações

As jornadas de Kido e Smith são um foco nessa temporada, voltado para os arrependimentos de seus atos e com a consciência começando a pesar. Kido é assombrado pelo fantasma de seu filho que, embora vivo, sofre de estresse pós-traumático devido a guerra na Manchúria, e acaba se envolvendo com a Yakuza e trazendo vergonha para o pai.

Já Smith é assombrado pelos fantasmas de seu passado, e quando o mesmo visita a realidade em que Thomas está vivo, ele expressa sua insatisfação e descrença no sistema em um diálogo com o “filho” em um restaurante na tentativa de fazer com que ele não se aliste para a guerra no Vietnã, após ambos presenciarem um caso de racismo. O psicológico de Smith também fica pior ao reencontrar seu amigo Danny, que é judeu, e nessa realidade está vivo por motivos óbvios. Vale ressaltar que as atuações de Rufus Sewell e Joel de La Fuente se superam na série, sendo,possivelmente, as melhores de suas carreiras.

Durante os episódios, vemos também um foco maior nas vidas pessoais dos personagens secundários, em como eles chegaram até o ponto onde se encontram e como eles estão lidando com todas as consequências de seus atos nas últimas temporadas. Robert Childan, que outrora era um homem covarde e sempre abaixava a cabeça perante atos de opressão, e que constantemente tinha sua loja invadida (isso não muda tanto), acaba por encontrar o amor em sua assistente Yukiko, em um romance shakesperiano que acaba com um final agridoce, porém satisfatório.

O núcleo da BCR (Black Communist Revolution, ou Revolução Comunista Negra) contém ideias e reflexões interessantes como a busca pela liberdade, ao mesmo tempo que oprime outro grupo de maneira sutil e controversa, como a própria série levanta em determinado ponto, quando americanos que querem vingança contra Kido o capturam e questionam a BCR quanto seus métodos e alegam que são, simplesmente, uma versão diferente de uma forma de opressão.

A ideia é boa, entretanto, com um arco mal desenvolvido. A atuação de Frances Turner é admirável, sendo nítido seu esforço para com a personagem, porém a história e o caminho traçado para seu núcleo é fraco, parecendo mais uma inclusão forçada na série do que uma adição justificada dentro do universo da mesma.

Aliás, arcos inteiros e personagens das temporada anteriores foram completamente descartados, como o Ed e a homossexualidade, Nicole Dormer e a mídia nazista, e a questão da irmã da Juliana, que passou poucos dias em uma dimensão diferente e teve efeitos colaterais negativos, enquanto Juliana passou um ano inteiro em uma dimensão diferente e simplesmente não teve nenhum efeito colateral. Tagomi, um dos personagens mais queridos dos fãs, teve uma morte pífia e ridícula, que nem ao menos mostrou o ator que interpreta o personagem.

Produção

O valor de produção da série está impecável, a produção, atuação, trilha sonora (não tão marcante como as outras temporadas) são incríveis, entretanto, parece que o roteiro se perdeu ao tentar incluir ideias novas e mudar os rumos já existentes. Frank e Joe não fizeram tanta falta, apesar da dinâmica do Frank com a resistência e a Yakuza ser muito mais interessante do que a dinâmica da BCR, que poderia facilmente ser incluída nessa temporada e criar um caminho de resistência e retomada em um quinta temporada, com devido tempo de roteiro, desenvolvimento e arcos interessantes. Joe e o arco dos filhos perfeitos do nazismo foram completamente ignorados e esquecidos, e apesar de não fazer falta, demonstra uma certa negligência e correria com o universo construído.

Porém, é válido citar também a atenção da série quanto ao mundo que ela constrói. Na temporada passada vemos Helen se tratando com um psquiatra e ele utilizando como base o Carl Jung, ao invés de Sigmund Freud. Agora vemos que o toque desta temporada é que, no Natal, a figura proeminente não é o famoso São Nicolau, e sim Odin, visto que os nazistas possuíam um plano de reformulação da Bíblia para aproximar a mesma das culturas nórdicas.

Depois dos Créditos

No fim, a série acaba se perdendo em sua última temporada, com decisões sem sentido e um sentimento de correria para a finalização, demonstrando total falta de esmero e capricho que a produção teve em suas 3 temporadas anteriores, o que se torna frustrante e decepcionante para os fãs que ela conquistou ao longo dos anos. Agora, para os fãs de realidades alternativas e ficção científica, resta aguardar uma nova série com o mesmo nível e pegada, que se mantenha fiel as raízes ao mesmo tempo que traz ideias novas; Mas ainda assim, que vale a pena ser lembrada e assistida e principalmente, como uma mensagem e aviso dos perigos de ideais facistas e atos preconceituosos.

Revisão: Raquel Severini

6

NOTA

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