Crítica | Rambo: Até o Fim – Fim da carreira para Stallone?

Rambo: Até o Fim
Rambo: Até o Fim

Sério, mas ao mesmo tempo exagerado, Rambo: Até o Fim não encontra sentido em sua própria lógica, gerando risadas do público. Com dois atos genéricos, o filme vai buscar uma nostalgia apenas em seu final, já sendo tarde demais.

Antes do Filme

Quando Rambo retornou para seu quarto filme em 2008, após um hiato de vinte anos, a franquia parecia ter chegado ao fim. Afinal, Stallone estava com 62 anos e o encerramento do longa parecia mostrar que o veterano de guerra iria, finalmente, para um merecido descanso, após chegar à fazenda de sua família. Entretanto, por mais que ele fuja da guerra, ela vem até ele. Não importa onde esteja. É nesse contexto, do inevitável conflito do herói fugindo de sua natureza selvagem, que Rambo: Até o Fim se passa.   

Enredo e Trama

Após ter participado de inúmeras guerras, tanto externas quanto internas, John Rambo (Sylvester Stallone, Rocky) tenta viver em paz em sua fazenda no Arizona. Eventualmente, para resgatar o sentimento de que ainda pode ser útil, trabalha como voluntário na guarda local. Inclusive, na sequência inicial, vemos o ex-militar fracassar parcialmente ao tentar salvar um casal de uma forte tempestade. Fora isso, ele vive uma vida bucólica em sua fazenda com Maria (Adriana Barraza, Babel), antiga governanta da família, e Gabrielle (Yvette Monreal, Faking It), com quem possui uma relação de paternidade postiça.

Ao descobrir uma notícia sobre o paradeiro de seu verdadeiro pai, a jovem decide ir atrás de suas origens no México. Obviamente, as coisas não dão certo, e Rambo precisa atravessar a fronteira para se envolver em um conflito com o cartel mexicano. Sobretudo, é essa relação motriz entre “Tio John” (como é chamado) e Gabrielle que move Rambo: Até o Fim. Justamente por sua habitual incapacidade de se relacionar com outros seres humanos — com exceção do Coronel Trautman (falecido Richard Crenna) nos três primeiros filmes — torna-se interessante assistir a dinâmica entre os dois. Com seu jeito duro e grosseiro, percebemos que Rambo ama, pela primeira vez na franquia.

Apesar deste princípio de uma carga mais dramática na narrativa, o diretor Adrian Grumberg (Plano de Fuga) não consegue decidir o tom que quer dar ao seu universo. Se de certo há momentos que carregam um maior peso, como na virada do segundo para o terceiro ato, o impacto é perdido quando o filme quebra sua própria lógica. Em contrapartida, constantemente adota-se uma cosmologia do exagero que, caso estivesse presente desde o início, não teria o menor problema. 

Por outro lado, esse exagero é até interessante, uma vez que praticamente canoniza Rambo como um super-herói para maiores de 18 anos. Tanto a edição do som, extremamente desproporcional e que dá força aos pequenos atos do protagonista, como um bater na porta ou o enfiar de uma faca na mesa, quanto a ultra violência performada por ele em crescendo (a última morte é bastante especial neste sentido) indicam essa camada galhofa e gore.

Outra estilização forçada de Rambo: Até o Fim é no seu lado visual, principalmente quando a trama vai para o México. O constante amarelo reforça o estereótipo de uma miserável aridez da região e o vermelho reforça a cena de matança no bordel ou o figurino de uma personagem que se revela uma traidora. Ainda sobre a parte técnica, o longa indica sua pobreza em diversos aspectos.

Primeiramente, a montagem do filme mostra estar perdida. Erros amadores de continuidade são cometidos, como durante um diálogo entre Rambo e Gabrielle. Na cena, ela está chorando, a câmera corta para um contraplano, e quando volta ela está com o rosto seco, para depois aparecer lacrimejando novamente. Além disso, diversas elipses de tempo soam artificiais, como se tivesse ocorrido um corte pesado na duração do filme.

A urgência da narrativa e a sua curta duração acabam por refletir no modo como ela é contada, sempre por meio de ação e reação, sem tempo para descansos. Por exemplo, seria muito interessante ver ou escutar mais sobre o passado mal desenvolvido entre Rambo e a menina. Ao invés disso, Grumberg acha que um único plano exibindo as fotografias da família ao longo do tempo é o suficiente para que o espectador crie um vínculo emocional com os personagens. Ademais, vê-se uma enorme falta de criatividade e preguiça ao optar por planos-detalhes repetitivamente óbvios sobre um bracelete que viria a ser importante na trama depois.

Da mesma forma, o diretor também falha ao encarar o grande problema das cenas de ação. Com o peso da idade de Stallone, Grumberg faz de tudo para esconder que não é o ator durante essas cenas. Para isso, ele utiliza close-ups, ambientes escuros, movimentações esquizofrênicas e, claro, planos e contra-planos. Contudo, isso não tira o mérito da sequência final, uma grande diversão, encontrando sua catarse em um sadismo que chega a ser cômico. No momento em que Rambo: Até o Fim mais relembra a franquia, lamentamos por já ser tarde demais. Estratégias, armadilhas, túneis, explosões, tiros e arco e flecha levam a nostalgia do cinema brucutu dos anos 80.

Depois dos Créditos

Não há como falar de Rambo: Até o Fim sem falar de Sylvester Stallone. O amor que o ator possui pela franquia (assim como as outras que protagoniza), e sua tentativa de eternizar ao máximo John Rambo — e claro, fazer algum dinheiro com isso — é bonito. Entretanto, o quinto filme está mais para o terceiro e o quarto, que prolongam desnecessariamente sua jornada, colocando o personagem em situações aleatórias que poderiam ter saído diretamente de um outro filme genérico de ação. Ao que parece, com 73 anos, Stallone fez seu último expurgo de violência. Rambo, finalmente, terá seu merecido descanso, após a guerra que nunca pediu para lutar. Sendo provavelmente a última vez que escutamos esta maravilhosa música-tema, a franquia se encerra de uma emocionante maneira para os fãs. 

 

Revisão: Raquel Severini

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Rambo - Até o Fim

4

NOTA

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