Crítica | Verão de 84 – Genérico mistura It e Janela Indiscreta

Verão de 84

Uma mistura de Stranger Things com o clássico Janela Indiscreta, Verão de 84 traz um grupo de adolescentes tentando desmascarar um serial killer da região, mas é somente mais um filme genérico.

Antes dos Créditos

Em 2016 tivemos o fenômeno Stranger Things e, em 2017, o remake de It: A Coisa. O sucesso imediato das duas obras apresentou a nostalgia dos anos 80 para uma nova geração. Assim, como toda tendência no mundo do cinema (falei aqui do saturamento do gênero de espionagem feminina na Guerra Fria), o subgênero “terror com elenco infantil” ganha mais um nome para seu catálogo. Entretanto, o diferencial é que não há monstros para derrotar, mas sim um serial killer. Imagine se It encontra Janela Indiscreta. O filho seria Verão de 84.

Enredo, Trama 

“Até serial killers vivem ao lado de alguém”. Após esta “profunda” análise de Davey (Graham Verchere, Supergirl), o protagonista de Verão de 84, o jovem vai ajudar seu vizinho, Mackey (Rich Sommer, GLOW), a levar algo para o porão. Afinal, o que pode dar errado? De fato, nada acontece, mas já é possível perceber que algo é estranho no ambiente. Um aparelho antigo liga sozinho, há uma porta trancada com fechadura e uma sala vermelha para fotografias. Se os acontecimentos até então não são motivo suficiente para sair correndo, a frase seguinte dita pelo vizinho certamente é. “Você tem 15 anos? A idade perfeita, se eu pudesse congelava para você”.

Após estes tensos minutos iniciais, somos apresentados ao resto da turma de Davey: Eats (Judah Lewis, Demolição), Woody (Caleb Emery, Goosebumps) e Curtis (Cory Grunter-Andrew, The 100). Como estão no auge dos quinze anos, o grupo está com a sexualidade a flor da pele, passando boa tarde do tempo conversando sobre pornografia e a menina mais velha do bairro, Nikki (Tiera Skovbye, Riverdale). Quando descobrem que há um serial killer na região matando crianças, Davey aposta todas suas fichas no vizinho. Em seguida, inicia-se um plano dos jovens entusiastas para espionar e pegar Mackey no flagra.

De maneira idêntica a It e Stranger Things, existe toda esta ambientação dos anos 80 vomitada em nossa cara pelo design de produção. Temos placas em favor de Reagan e Bush, um noticiário falando sobre a Guerra Fria, muitas bicicletas, walkie-talkies e, é claro, uma trilha sonora oitentista. Se em Turbo Kid os diretores Simard e os Whissell conseguiram fazer sua distopia nostálgica funcionar, seu segundo longa falha em ser marcante neste aspecto. Em contrapartida, Verão de 84 possui momentos que funcionam como um thriller, lembrando o clássico Janela Indiscreta e o mais recente Paranoia. A turma investiga o suspeito por binóculos, se comunica pelos walkie-talkies, faz missões de investigação na madrugada. Típico de jovens que não tem que o que fazer nas férias.

Para os acostumados com terror, a maioria dos sustos de Verão de 84 é fácil de antecipar. Mais irritante ainda é o uso de falsos jumpscares. Explico melhor, são as situações que teoricamente não seriam para dar medo, como um dos amigos assustando o outro, mas são aumentadas pela edição e design de som. Apesar de não funcionar dentro desse gênero, é possível dizer que o filme é um suspense satisfatório. Surpreendentemente, a trama parte de uma estrutura não-convencional, na qual o público desconfia, desde o início, de quem é o assassino. As pistas apontam tanto para Mackey ser o antagonista, que mesmo diante da obviedade há esse pé atrás. “Não é possível que seja ele mesmo, vai acontecer alguma reviravolta chocante” deve ter se indagado boa parte da audiência enquanto assistia. 

Personagens e Atuações

O elenco infantil está longe do carisma encontrado nas produções similares, mas se aproxima do humor encontrado em filmes adolescentes de besteirol norte-americanos, o que pode agradar um nicho em específico. A maioria dos adolescentes em Verão de 84 possui problemas familiares e encontram nas investigações um escapismo de verão, mas nenhum desses backgrounds é desenvolvido propriamente e, inclusive, a maioria surge e vai embora da trama sem resolução. 

Como subtrama, existe a tentativa de criar um romance convincente entre Davey e sua ex-babá Nikki, que falha completamente. A diferença de idade dos dois é visualmente gritante. Sendo o menino de 2002 e ela de 1995, não há como não estranhar a relação. Cabe ressaltar que para um filme que coloca um rapaz de 16 anos desvendando um serial killer que enganou toda a polícia, até que o relacionamento torna-se plausível dentro dessa realidade.

Depois dos Créditos

Com um terceiro ato assustador e um encerramento ousado, Verão de 84 não é nada mais do que uma aventura de verão que pode ser exibida na Sessão da Tarde, como seu próprio título indica. Ao escolher não focar na identidade do mistério do serial killer, a trama transfere sua atenção para a dinâmica do grupo, que não é suficiente para segurar o longa. Infelizmente, o gênero de terror infanto-juvenil irá envelhecer rápido demais se mais genéricos como esse continuarem sendo feitos.

5.5

NOTA

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