Crítica | Amizade Dolorida

Bonding

A série conta uma história leve e divertida com referência ao mundo do BDSM

Antes da série

AMiZADE DOLORiDA, estilização em português da série de título original BONDiNG, foi uma das estreias do mês de abril da Netflix. Ele remete ao “bondage”, uma das práticas eróticas do “BDSM” – pra quem não sabe bem do que se trata, deixo aqui uma colinha da Wikipédia. A tradução “amizade dolorida” não tem nada a ver, nesse caso, porque a palavra bondage vem do inglês. Mesmo assim, o título acaba fazendo menção à relação dos dois protagonistas, melhores amigos que vivem alguns conflitos pessoais e entre si.

A série é um drama de humor ácido, por tratar do tema de fetiches da rotina de trabalho da protagonista e seu amigo de forma comediante. Escrita e dirigida por Rightor Doyle – diretor de A História Verdadeira (2015) e Nerve: Um Jogo Sem Regras (2016), a primeira temporada tem 7 episódios, que variam de 13 à 17 minutos de duração cada um, e a classificação 16 anos.

 

Sinopse

Tiff (Zoe Levin) é uma estudante de psicologia que trabalha como dominatrix às noites sob o pseudônimo de “Mistress May”. Ela convida seu melhor amigo do ensino médio, Pete (Brendan Scannell), que acaba de sair do armário, para ser seu assistente. No episódio piloto, Pete descobre que do que se trata o trabalho da amiga, e inicialmente não aceita a proposta. Ao longo dos episódios, Tiff pressiona o amigo pois ele vira atrativo e desejado pela sua clientela. Ele se torna motivado pela possibilidade de fazer dinheiro, já que seu aluguel está atrasado e, além disso, aos poucos descobre que leva jeito para a coisa. Vemos que a relação dos dois é um tanto conturbada, por conta das peculiaridades de cada um do passado dos dois – ele era apaixonado por ela e agora está descobrindo sua sexualidade como homossexual, e ela é uma garota que não consegue se envolver com ninguém, embora trabalhe com o prazer das pessoas.

 

Trama e Narrativa

O interessante da série, partindo do título “amizade dolorida” é que a relação dos dois protagonistas é literalmente desgastada, tem altos e baixos no desenrolar da história. É uma amizade que tem suas dores e problemas, não no sentido sexual – mesmo sabendo que os dois [SPOILER ALERT] já tiveram relações sexuais -, mas no sentido de se magoarem. Tiff e Pete tem assuntos mal resolvidos dentro de si mesmos, e essas questões pessoais que acabam afetando a forma com a qual eles lidam com o mundo exterior, entre si ou com outras pessoas. Destaco a personagem de Zoe, Tiffany, pois é uma jovem que se mostra cheia de si, confiante e bem resolvida, mas aos poucos vai desmoronando diante de sua forma de encarar o amor. Os dois protagonistas passam por um “ciclo de esclarecimento” ao longo dos episódios, no qual identificam essas questões e as enfrentam.

Outro ponto notável é que, mesmo sendo uma série que envolve o BDSM como assunto central – por meio de pessoas que têm desejos reprimidos e utilizam a prática para se libertarem, e outras que se mantém “recalcadas” -, o foco da narrativa parte da relação de Tiff e Pete para seus conflitos e vidas pessoais. Mesmo sendo um direcionamento interessante, nesse artifício também mora o problema: falar sobre a prática do BDSM de uma forma que talvez não seja bem uma representação fiel aos profissionais da área. A série, mesmo com faixa de 16 anos, é suave e pouco explícita, por incrível que pareça. Isso deixa a dúvida se houve uma consultoria a profissionais da área para atrelar camadas mais realistas à dramatização, em todos os aspectos – não só no roteiro em si, mas também na direção de arte da série. Pra quem conhece e aprecia a fundo o mundo do BDSM, AMiZADE DOLORiDA provavelmente não vai ser uma bela retratação.

 

Personagens e Atuações

Os atores que dão vida aos protagonistas, Zoe e Brendan, constroem uma boa consistência da intimidade de seus personagens – amigos, ex-amantes, colegas de trabalho. Os personagens secundários também dão bom suporte à narrativa, e os atores que os interpretam ilustram pontos altos de humor na série. A comediante D’Arcy Carde, a Janet de The Good Place, entre outros atores, dão suas contribuições para transformar os personagens recorrentes em peças interessantes e divertidas dentro da narrativa. Talvez pelo fato de ser uma série curta – de poucos episódios e curta duração cada um -, AMiZADE DOLORiDA ainda deixa algumas lacunas abertas em relação a alguns personagens, que antecipam a necessidade de uma segunda temporada para levar a história adiante, além concluir a temporada em uma situação inacabada.

 

Considerações Finais

Recomendo a série AMiZADE DOLORiDA para quem quer ver uma história curta, rápida e diferente. Não há muito envolvimento com a narrativa, obviamente, por conta da duração. Isso é chato para quem gosta de se prolongar com a história de uma série, no entanto, ótima pra quem está procurando um conteúdo rápido pra consumir no transporte, em um intervalo, no almoço. Em síntese, a produção é uma proposta diferente tanto na temática quanto na forma de apresentar ao espectador.

 

 

Escrito por: Roberta Braz

7

NOTA

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