ANTES DO FILME

Indicado a 6 Oscars este ano, TÁR chega ao circuito brasileiro de cinemas dezesseis anos após o último filme do diretor Todd Field (Pecados Íntimos). O filme se passa no mundo da música clássica e acompanha Lydia Tár (Cate Blanchett), considerada uma das maiores compositoras e maestrinas do mundo. Conta também com Nina Hoss e Naomie Merlant, da ótima Homeland e do ótimo Retrato de uma Jovem em Chamas, respectivamente, em papéis secundários.

DURANTE O FILME

Longas cenas e sequências, monólogos compridos e uma fotografia erma caracterizam a áurea de TÁR desde o início. Há em um primeiro momento, uma grande necessidade do filme de apresentar para o espectador quem Lydia Tár é. Ainda na primeira cena há um bombardeio de informações sobre a protagonista; ela não é apenas uma das mais bem sucedidas maestrinas do mundo, ela é A maestrina. Lydia é uma das pouquíssimas vencedoras do EGOT (isto é, vencedores do Emmy, Grammy, Oscar e Tony), é também antropóloga com pesquisas etnográficas chocantes. Há uma grandeza em sua persona que para quem assiste fica no imaginário, afinal só ouvimos falar e pouco vemos essa grandeza em ação.

TÁR em diante, começa a examinar essa personagem pelas lentes de seu cotidiano. Despida de suas conquistas e honradez, o filme analisa a protagonista a partir dos ensaios de sua orquestra e sua vida extra profissional. Há uma cena, ainda no começo do longa, no qual Lydia vai a universidade de Julliard e confronta (e é confrontada) por um estudante em relação a compositores antigos e problemas e virtudes pessoais deles. O estudante mostra-se desconfortável em performar Bach devido a seu possível comportamento misógino, além de, em suas palavras, sentir incômodo como uma pessoa não-branca panssexual performar músicas de compositores brancos cisgêneros. A cena é riquíssima pois põe duas esferas da classe artística uma contra a outra, em um debate extremamente atual, cuja resposta nem sempre é clara. TÁR não exatamente responde a questão, em vez disso, propõe um olhar crítico do espectador para a situação. 

Além disso, é impossível falar de TÁR sem se debruçar sobre seu carro-chefe: a atuação da já premiadíssima Cate Blanchett. A atriz recentemente recebeu sua oitava indicação ao Oscar por uma performance que talvez seja a melhor de sua carreira. TÁR existe e caminha pela força da natureza que é a atuação da atriz no filme. Lydia Tár é complexa, intrigante e ludibriosa. Ela usa e abusa de mentiras para se safar de pequenos descalços até grandes problemas que evocam os principais temas do filme. É pouco o que é sólido e estável na vida da personagem, tampouco suas relações também são líquidas. Sua esposa é jogada de lado, sua assistente é mera escora e sua orquestra a seduz, mas não é seu universo. Tudo isso torna mais interessante a justaposição que Tár enfrenta na metade final do longa. 

DEPOIS DO FILME

TÁR possui longas cenas e takes, uma atmosfera fria e palavras afiadas compondo seu roteiro, mas não é exatamente revolucionário. O retorno de Todd Field às telonas é subordinado por uma certa convolução de ideias que não permitem o filme tornar-se algo único, mas também não o excluem de ser considerado um bom produto. O longa se destaca pela atuação de sua protagonista que, a todo momento, traz uma nova faceta para uma complexa e intrigante personagem. A fotografia gelada traz um bem vindo vigor de incerteza e suspense para o filme, além de belíssimas composições sonoras que, na sala de cinema, impactam quem assiste.

7

NOTA

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