ANTES DO FILME
Maren (Taylor Russell) é uma jovem com apetite para carne humana; Quando é abandonada, ela entra em uma jornada pessoal para se encontrar, até que encontra Lee (Timothée Chalamet), que compartilha os mesmos desejos perversos que ela. O novo longa de Luca Guadagnino é um romance road-trip que examina o próprio âmago das relações humanas quando postas contra características desagregadoras.
DURANTE O FILME
Até os Ossos, em um primeiro momento, parece ser uma drama familiar, no entanto a problemática que incita esse drama na família é a mesma que a destrói. A partir daí, o filme se inicia ao modo em que Maren inicia dentro de si mesmo e nas estradas dos EUA, uma busca pessoal interna.
Maren tem desejo pela carne humana desde muito pequena e não sabe muito como e por quê esse desejo existe e a afeta. Não é o objetivo de Até os Ossos ser um longa sci-fi-esque que examine as dissonâncias morais do ato canibal, mas sim utilizá-lo como apetrecho para uma retórica pessoal e humana. Ou seja, o desumano se torna um ponto de ignição para a descoberta do que, de fato, é humano.
Em Lee, Maren encontra amor. Às vezes rodeado de um básico clichê, o filme, aliás, por momentos, tange o romance teen; mas quase sempre baseado em singularidades momentâneas – o trabalho de trilha sonora aqui é marcante, apesar de, em alguns instantes, a super melancolização da música ter me incomodado, especialmente em cenas trágicas.
Ademais, o filme também conta com aspectos técnicos marcantes como a fotografia fria que traz um sentimento de conforto momentâneo – como se tudo tivesse apenas “ok”, assim como os personagens parecem se sentir em muitos momentos. Outro personagem que impacta a história é Sully (Mark Rylance), que não irei entrar muito em detalhes sobre suas motivações apesar dele já aparecer logo nos primeiros minutos, porém há de se destacar a performance macabra e cautelosa de Rylance. Aliás, essa performance tem características similares à que o ator performou em Não Olhe Para Cima, do ano passado.
DEPOIS DO FILME
Até os Ossos é melancólico, brutal, ao mesmo tempo que singelo e comovente. Me impressiona sua capacidade de, em poucas horas, conectar tão forte os personagens de forma naturalística e fiel. É um bom filme que desumaniza para humanizar, um ótimo exercício de como o cinema é também uma peça que ilumina o não-natural para, detalhadamente, alcançar retóricas condizentes com o pensamento contemporâneo.