O primeiro trabalho de direção da brasileira Carolina Markowicz é um drama contemporâneo que se passa em uma cidade no interior do Brasil. Carvão explora a mudança dentro de uma dinâmica familiar após a matriarca da família fazer um acordo e aceitar abrigar um traficante argentino dentro de sua casa. O pano de fundo que cobre essa história envolve diversos temas já presentes no imaginário brasileiro, especialmente aqueles que fazem parte de um cotidiano mais bucólico.
Irene (Maeve Jenkins) cuida de seu pai que, há anos, está em estado aparentemente vegetativo. Com pouco dinheiro e tempo, ela arranja uma solução para resolver a situação. Quem inicialmente traz a proposta de abrigar o traficante é a agente de saúde Juracy (Aline Marta Maia), ainda no início do filme. A subversão de valores e expectativas é algo recorrente durante todo o percurso do longa.
Dentre todas essas subversões, talvez a que mais chame atenção seja a forma como o filme utiliza o humor – muitas vezes de forma mórbida. São das situações mais ordinárias e, às vezes, funestas, que se extraem bordões engraçados. A plateia a qual eu estava durante a sessão no festival de cinema foi bem vocal nesses momentos e gargalhadas foram constantes. Quase sempre rindo das situações mais absurdas. Foi inesperado e eficiente.
O que, no entanto, Carvão falha em apresentar é uma história que justifica o que se compadece na tela. No fim das contas, parece haver um desinteresse interno no que tange o que é dito no filme. A diretora cria um grande esforço em produzir dinâmicas interessantes inter-relacionais e montar características específicas de cada personagem, mas falha em aprofundar cada um desses elementos, deixando de lado aspectos importantes da trama, que, por vezes, aparecem e somem em instantes, desde personagens à situações vivenciais cotidianas que os personagens vivem.
Carvão não é de forma alguma um filme ruim, porém é farto de lacunas narrativas que dificultam a imersão cinematográfica que tenta ser apresentada. O elenco forte chama atenção e entretém, além de possuir pitadas humorísticas únicas e, certamente, não casuais no cenário nacional de cinema. Havia aqui um espaço grande de crescimento, mas que foi largado pela metade. De qualquer forma, o filme ainda é enredado por discursos válidos, mesmo que, por vezes, fracos.