Resenha | X – A Marca da Morte

ANTES DO FILME 

O slasher é um gênero que, desde sua introdução, cambaleia sob diversos subgêneros dentro de si mesmo. A verdade é que ele não possibilita inovações constantes e tende a sempre cair de volta no mesmo lugar, dando ao gênero um cansaço. No entanto, a forma a qual muitos cineastas encontram para inovar dentro do gênero é trazendo alguma diferença sub narrativa para o filme. 

Em X – A Marca da Morte, do diretor Ti West, esse gênero de terror é formulado por uma história ambientada no final da década de 79 que mistura bastidores da recém criada indústria pornográfica, uma casa medonha no meio do nada e dois velhinhos pra lá de estranhos.

DURANTE O FILME 

O filme inicia-se trazendo uma intersecção entre certo e errado: em uma televisão é possível ver uma fita repetindo as pregações de um líder religioso, onde temas dicótomos como céu e inferno são exaustivamente repetidos. Depois desse momento, já é possível reconhecer uma das tomadas de dilema propostas pelo filme: a intersecção entre slasher e pornografia usando a religião como pano de fundo. 

Veja, misturar subgêneros em um filme de gênero é algo comum, no entanto, é importante ressaltar que tais combinações devem ser feitas com meticuloso cuidado ou o resultado pode ser simplesmente catastrófico. São poucos os filmes que fazem tamanha astúcia e conseguem permanecer na memória, talvez o maior exemplo de um filme bem-sucedido que usou dessa estratégia é o clássico Ghost, de 1992, com Demi Moore e Patrick Swayze. Em “X” felizmente essa receita traz resultados positivos: o mistério não promete absurdismos, reviravoltas chocantes ou um suspense insigne, mas sim uma atmosfera de temor constante. 

O filme possui dois núcleos principais de personagens. Um deles é formado por uma trupe da indústria pornográfica: um jovem com inspirações de ser diretor de cinema que aqui trabalha como o diretor do pornô e sua namorada que não vê com bons olhos esse trabalho, mas está ali para auxiliar, duas atrizes que trabalham como contraponto uma da outra – a loira se vê uma estrela de Hollywood, enquanto a morena vê o trabalho como pura libertação. O grupo também tem um manda-chuva que vê o pornô, especialmente o pornô não-trash, como o futuro e, por conseguinte, muito lucro. A trupe completa com um ator que não possui muito desenvolvimento, mas é essencial para, claro, a produção dos filmes. Já no outro núcleo, temos os donos da pensão no qual esse grupo se reúne para fazer o filme: um senhor de idade que causa, no mínimo, estranhamento e sua esposa, inofensiva – até primeiro momento. 

O sentimento contínuo de perigo à espreita é fortalecido pelas boas performances do elenco, mas também pelo trabalho de direção de arte. No elenco, destacou-se a impressionante a forma como a atriz, aparentemente idosa, realizou algumas cenas com alto trabalho de fisicalidade. No entanto, após sair da sessão, para surpresa minha, descobri que ambas personagens – da jovem atriz pornô que destaca o pôster do filme e da senhora casada com o dono da pensão – são interpretadas pela mesma atriz. Escolha essa que não é casual e sim intrínseca a como o filme tenta correlacionar o clássico slasher do horror com questões morais e éticas religiosas. 

DEPOIS DO FILME 

Se X – A Marca da Morte e dissolver em duas horas todos os tópicos que quer, ele compensa ao criar um ar de horror sinistro e único. Os riscos aqui são baixos e, consequentemente, trazem um sentimento de satisfação em relação ao horror exibido aqui: não é um horror dependente de “jumpscares” ou aquele suspense exagerado cansativo comum nos filmes de terror atuais, mas sim pela contínua sensação da dúvida – essa sobretudo em relação a como caráter de cada um dos personagens é moldado e consequentemente a como suas ações são responsáveis pelo destino de cada um. X é um filme forte, levemente assustador, que busca originalidade e tem um elenco pra lá de afiado e isso só já é uma boa razão para ir conferi-lo.

7

NOTA

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