Não há nada mais instigante que tentar adentrar na cabeça de uma mente sombria, o suspense, a tensão e o desconforto neutralizam os clichês que por vezes permeiam filmes que retratam as vidas dos psicopatas e sociopatas tanto da vida real, como da ficção. Alguns são considerados repulsivos, outros não tão fiéis aos verdadeiros fatos, e outros até condescendentes, mas algo em comum rodeia: o fato de que ficarão marcados para sempre na história da indústria cinematográfica!
Monster
Aileen Wuornos foi uma prostituta que ficou conhecida como a primeira serial killer do sexo feminino dos Estados Unidos. Monster, no Brasil com o subtítulo Desejo Assassino, traz a história da moça negligenciada pelo pai pedófilo e abandonada pela mãe, que em meio a abusos dos parentes, desde cedo aprende a se virar por meio da prostituição. Após um brutal estupro em um de seus programas, Aileen começa a cometer assassinatos com o intuito de roubar as vítimas para fugir e recomeçar. As coisas saem do controle ao perceber ter matado um policial e, após algumas traições, acaba na cadeia e recebe pena de morte. Por ser uma história real e até bem conhecida, não se trata de um spoiler. Com a sensibilidade da diretora estreante Patty Jenkins, ficamos imersos nos mistos de sensações e por vezes somos capazes de nos colocarmos no lugar de Aileen, como se a vida tão dura e tão injusta, incluindo as faltas de oportunidades, fossem o suficiente para justificar as ações da mulher. O exitoso filme rendeu um Oscar de melhor atriz à Charlize Theron, e a história de Aileen também pode ser mais aprofundada em seus 2 documentários.
A Casa Que Jack Construiu
A obra já se mostra poço de polêmicas apenas por pertencer ao excêntrico cineasta Lars Von Trier, fora que diretor faz barulho com tudo o que lança, então A Casa Que Jack Construiu é de longe um de seus trabalhos mais provocativos. O filme segue a linha do seu famigerado Ninfomaníaca, no quesito narrar suas impetuosas experiências a alguém. Certa vez na estrada, aceita dar carona a uma desconhecida com problemas em seu carro, ao ser confrontado por transmitir uma sensação ameaçadora, num impulso, golpeia a mulher até a morte. Com um sentimento de deleite pela tal ação, Jack resolve construir uma casa, propícia para fazer várias vítimas sucumbirem em seus ataques sádicos. Se por um lado Aileen Wuornos condenava apenas homens devido às circunstâncias, Jack ia além de sua misoginia exacerbada, ao ter como alvos até mesmo crianças. Por dividir opiniões, e se tratar de um filme muito sórdido e forte, nem mesmo a soberba atuação Matt Dilon, impediu que os expectadores do Festival Cannes abandonassem o filme em meio a sua exibição. O longa foi duramente criticado pela crueldade, mas o que se esperar de um serial killer?
Psicopata Americano
É um terror psicológico obrigatório para quem curte o tema, considerado cult pela crítica especializada, a trama é instigante e de fácil compreensão. Nele observamos a vida de Patrick Bateman, empresário extremamente mimado e exageradamente vaidoso. Com uma rotina inquebrável, ele sustenta uma beleza invejável e porte físico impecável. Nas tardes sempre rodeado de conversas fúteis com seus amigos narcisistas, que exibem seus cartões de visita em um duelo de egos, como donas de casas dos anos 60 amostrando tupperwares no chá da tarde. De noite um amante vigoroso, que trai sua entediante namorada, hora com uma mera conhecida, hora com acompanhantes de luxo. Ao longo do filme vemos a insanidade chegar ao ápice entre os inúmeros assassinatos bem executados que incluem um morador de rua e até mesmo um cachorro, fora a chacina no terceiro ato expressa seu total desiquilíbrio. Mas não se preocupe, o que eu disse até agora não revela as verdadeiras intenções do filme, que se torna eficiente em causar, chocar e te deixar pensando mais tarde.
Ted Bundy – A Irresistível Face do Mal
É inegável o comprometimento do Referência Nerd com os melhores assuntos da atualidade, então é claro que já temos uma interessante crítica sobre o referido filme, Ted Bundy a irresistível face do mal, disponível logo abaixo. Um spoiler sobre a crítica de Leo Salerno, é o talento expresso por Zac Efron que dá vida ao mais charmoso serial killer, que conquistou a atenção e afeto de diversas mulheres mesmo após as descobertas a respeito de suas atrocidades. Como muitos psicopatas, o galã passa imperceptível por baixo de sua pele de bom moço e pai de família. As barbaridades realizadas por ele consistiam em estupro, assassinato entre outras devassidões incompreensíveis a olhos sãos. E sua esposa Liz se mostra incrédula com a descoberta da verdadeira personalidade do companheiro de vida. Esperado por muitos, o longa que já chegou dividindo opiniões, não deixa de merecer uma chance. Essa citação sobre o filme não se estende muito, pois o melhor já foi reservado no material a seguir:
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A Troca
Changeling, título em inglês, conta uma história verídica de uma mãe que tem seu filho sequestrado e nunca mais o encontra. Desde sua estreia em 2008, no Festival de Cannes o filme foi ovacionado se firmando como um dos maiores trabalhos da carreira de Angelina Jolie. Certo dia ao chegar do serviço, Christine Collins percebe que seu filho de apenas 9 anos desapareceu, e após buscas desenfreadas e sem sucesso, com a ajuda de um reverendo a mãe desesperada acusa a polícia por negligência. Irritados por serem constantemente ridicularizados e contrariados pela mulher, o departamento policial arruma um menino qualquer e o entregam a Christine como se fosse seu verdadeiro filho. Obviamente a mulher desmente para a mídia ao afirmar as diferenças entre o garoto resgatado e seu filho Walter. Com isso a mulher é dada como louca e acaba parando no hospício, lutando como pode para manter a esperança de um dia reencontrar Walter e provar sua sanidade mental. Por outro lado, vemos como anda Walter, atormentado pelo serial killer conhecido como Galinheiro de Wineville. O maior incomodo ao assistir essa película está em acompanhar o sofrimento de diversas crianças, sabendo que tudo aconteceu na realidade, de forma ainda mais brutal que a retratada no longa.
Zodíaco
As presenças de Jake Gyllenhaal, Rober Downey Jr. e Mark Rufallo, já são suficiente para mostrar que a obra cinematográfica baseada em fatos reais vale a pena. O filme lançado em 2007, narra as atrocidades cometidas pelo Assassino do Zodíaco que atormentaram San Francisco na década de 60. O tal assassino ficou famoso por brincar com a polícia, pois sempre a contatou após seus crimes, mandando cartas repletas de códigos e dicas, conseguindo manter total anonimato, o que era prova de sua sagacidade e falta de temor. O diferencial do Zodíaco consistia em não seguir um roteiro, visto que suas vítimas eram aleatórias. Tinha também um sinistro uniforme, que impedia seu reconhecimento, e nas poucas vezes que seu rosto foi visualizado, as declarações das vítimas sobreviventes se contradiziam. O jornalista Graysmith interpretado por Jake, obssecado pela história entrou em uma investigação mais profunda até que a da polícia. E por si mesmo “descobriu” quem era o tal serial killer, chegando a publicar um livro homônimo. O assassino que jurou ter feito mais de 37 vítimas almejava que em algum dia um filme sobre seus atos fosse lançado, e de fato David Fincher, criador de Sete Pecados Mortais, realizou esse desejo. A dúvida que fica é se o Zodíaco foi capaz de assistir.
Seven
No Brasil conhecido como Sete Pecados Mortais, o sucesso de 1995 é sem dúvidas um dos melhores sobre o assunto, chegando até a ter uma ponta em uma cena de cinema em outro importante filme, o Efeito Borboleta. David Fincher já mencionado em Zodíaco, explora algo inusitado ao retratar o serial killer que se baseia nos sete pecados capitais. O infame assassino com senso moralista decide executar vítimas de acordo com suas transgressões, gula, avareza, luxúria e os demais, resultam em tenebrosas cenas de crime. Em meio as investigações, o novato detetive David Mills de Brad Pitt, ao lado do veterano William Somerset de Morgan Freeman, estudam meticulosamente cada ação do psicopata, com o intuito de impedir o último assassinato referente a ira. Submergimos num clima de averiguação minuciosa e tentamos juntamente com os detetives entrar na cabeça do desequilibrado justiceiro. De fato o bandido nada perigoso visualmente, apresenta um dos melhores planos do cinema, capaz de deixar qualquer um louco, e seja lá qual for a decisão, o resultado é inevitavelmente catastrófico.
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Fragmentado
Fragmentado é o filme intermediário da triologia que contém Corpo Fechado e Vidro, cujo responsável é o excelente M.Night Shyamalan. O filme deu o que falar por apenas no fim do enredo, percebermos que tratava-se de uma sequência tardia de Corpo Fechado que chegou com aproximadamente 16 anos de diferença. O interessante nesse, é a rara doença de Kevin, que possui 23 personalidades, com a provável existência de mais uma, a temida Fera. Liderados pelo ego Patrícia, “Horda” como referem-se a si mesmos, sequestram garotas que provavelmente nunca sofreram de verdade na vida, para que sejam purificadas ao conhecer a dor. Ser dominado por um sequestrador deve ser uma das experiências mais aterrorizantes que uma pessoa possa passar, e a complexidade da insanidade apresentada por Kevin salientam a necessidade de escapar do cativeiro. Sendo que apenas Cassey se mostra completamente submissa e conformada, por ter vivido no inferno por longos e torturantes anos.
Bônus (Possui Spoilers sobre o Enredo)
No fim chocante de Corpo Fechado nos é revelado que quem esteve por trás do acidente de trem que dizimou dezenas, foi o desajustado Elijah. Sua meta de vida, era provar a si mesmo que por ser especial, baseado em suas experiências e obsessão por histórias em quadrinhos, havia um oposto de si solto pelo mundo. Como era frágil por suas múltiplas fraturas, algum herói de corpo fechado apenas necessitava de um evento para comprovar a teoria de Elijah e posteriormente se mostrar ao mundo.
Psicose
Psicose de Alfred Hitchcock lançado em 1960, até hoje é a mais bem sucedida produção sobre o tema. O suspense mesmo não abordando tantos assassinatos como a maioria, é um referencial sendo por diversas vezes mencionado na cultura pop. A obra transcendental rendeu até mesmo uma série atual sobre a vida do jovem psicopata Norman Bates, série que mistura modernidade e o clássico. Mas com foco na concepção de Hitchcock, o projeto ficou conhecido como o gênesis do horror, marcado pela memorável cena do banho no chuveiro. A falta do nome de Anthony Perkins em uma indicação ao Oscar é inexplicável, mas não o essencial para o sucesso inegável e definitivo. A premissa nos apresenta a ambiociosa secretária Marion Crane, que abusa da confiança de seus patrões ao furtar 40 mil dólares que deveriam ser depositados por ela no banco. Fugindo meio sem rumo pela estrada, cujo propósito para o uso do dinheiro era quitar dívidas de seu namorado, Marion começa a ter pensamentos perturbadoramente psicóticos e se depara com o obsoleto Motel Bates. Por conta de uma furiosa tempestade, Marion se vê obrigada a se hospedar e se depara com o misterioso e excêntrico Norman, que dirige o lugar sob a supervisão de sua mãe. Além de tudo, Psicose é dos pioneiros no sentido de Plot Twists, as famosas reviravoltas no roteiro.
O Silêncio dos Inocentes
A peculiaridade desse clássico dirigido por Jonathan Demme, se encontra no fato de retratar dois seriais killers de uma só vez. Baseado em um livro homônimo, a trama acompanha a estagiária do FBI Clarice, que recorre a experiência do psiquiatra canibal Hannibal Lecter afim de capturar o criminoso que acreditar ser uma transexual, Buffalo Bill. Com astúcia e a habilidade de ler qualquer pessoa com até mesmo rasas descrições, Hannibal traça o perfil psicológico de Buffalo Bill em troca de melhorias em sua situação claustrofóbica, além de exigir informações intimas e pessoais da aterrorizada Clarice. Raptando mulheres para posteriormente lhes arrancar a pele, e a partir dela fazer uma nova para si, uma borboleta era a única pista deixada por Bill no local dos crimes. O excesso de diálogos em vez de torná-lo monótono, torna o filme ainda mais hipnotizante, e o brilhantismo de um assassino, não ofusca o outro. Lutando para conquistar o devido respeito em seu trabalho, Clarice passa por cima do medo ao tentar resgatar a filha de uma senadora, e protagoniza umas das cenas mais agoniantes e repleta de adrenalina do cinema. Jodie Foster levou a estatueta do Oscar de Melhor atriz, e o filme entre os três no mundo a receber os cinco prêmios mais importantes da premiação. Anthony Hopkins, o Hannibal não deixou por menos ganhando o prêmio de melhor ator. E Ted Levine intérprete de Bill, foi igualmente aclamado.
Escrito por: Bárbara Cristina
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